sexta-feira, 15 de maio de 2020

Arcanjo Miguel

Quem é o Arcanjo Miguel para algumas seitas?


Autor: Jesús Urones
Fonte: Site “Católico Defiende tu Fe” (http://www.catolicodefiendetufe.org)
Tradução: Carlos Martins Nabeto

Dentro das três principais seitas do entorno cristão – Testemunhas de Jeová, Adventistas e Mórmons – o lugar que o Arcanjo Miguel ocupa é extremamente importante. Elas identificam Miguel com Jesus Cristo ou com Adão, desvirtuando assim toda a Cristologia e a Angeologia. Crer que Jesus é um Arcanjo afeta diretamente a divindade da 2ª Pessoa da Santíssima Trindade, bem como o próprio conceito de Trindade. Por outro lado, crer que Miguel é Adão mostra que a Antropologia Humana e a Angeologia da seita estão totalmente desviadas da verdade revelada.

O ARCANJO MIGUEL SEGUNDO OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA

Em um dos livros da sua fundadora, Ellen Gould White, Miguel é clarissimamente identificado com Cristo:
“Satanás ficou muito feliz por ter conseguido fazer com que Moisés pecasse contra Deus. Por causa dessa transgressão, ele caiu sob o domínio da morte. Se tivesse permanecido fiel e a sua vida não tivesse sido desperdiçada por essa única transgressão, não glorificando a Deus quando a água saiu da rocha, ele poderia ter ingressado na Terra Prometida e ser transferido para o céu sem passar pela morte. Miguel, ou seja, Cristo, e os anjos que sepultaram Moisés, desceram do céu depois que ele permaneceu na sepultura por algum tempo e o ressuscitaram para levá-lo ao céu” (História da Redenção 177,2).

Portanto, para a fundadora dos Adventistas do Sétimo Dia, o arcanjo Miguel é Cristo; logo, Cristo é um Anjo e assim concluímos que se Ele é um ser “angélico”, não pode ser “Deus”, já que Anjos são seres criados. Essa doutrina levanta sérias dúvidas sobre a crença da Trindade nos Adventistas, pois para eles Cristo é um “ser criado”, não o verdadeiro Deus.

E esse não é o único texto que Ellen tem sobre Miguel e Cristo. Vamos ver alguns outros:
“As palavras do anjo: ‘Eu sou Miguel, que está diante de Deus’, demonstram que ele ocupa um lugar de alta honra nas cortes celestiais. Quando ele foi a Daniel com uma mensagem, ele disse: ‘Não há ninguém que se esforce comigo nessas coisas, mas Miguel [Cristo], seu príncipe'” (O Desejado de Todas as Nações 73,4).
“Moisés passou pela morte, mas Miguel (Cristo) desceu e lhe deu vida antes que o seu corpo visse a corrupção. Satanás tentou reter esse corpo, reivindicando-o como seu; mas Miguel ressuscitou Moisés e o levou para o céu” (Testemunhos Selecionados, vol. 2, 65,2).

Esses textos reforçam ainda mais a ideia de que a doutrina adventista da divindade de Cristo e, portanto, da Trindade, não é correta, pois eles claramente identificam Miguel com Jesus, o Cristo, o Filho de Deus. O segundo texto explica claramente a passagem de Judas 1,9, onde o Arcanjo Miguel luta pelo corpo de Moisés; segundo Ellen G. White, aquele que estava lutando não era um ser angélico além de Cristo, mas o mesmo “Filho de Deus”. Por esse motivo, podemos nos perguntar: um Deus eterno pode ter como Filho um arcanjo? O Filho deve ter a natureza do Pai; portanto, se Cristo é o Filho de Deus, sua natureza deve ser divina e não angelical. O próprio senso comum mostra que Ellen G. White cometeu um grave erro teológico.

O ARCANJO MIGUEL SEGUNDO OS MÓRMONS

Na teologia mórmon, Miguel é identificado com Adão. É a única seita que faz essa identificação e podemos encontrar isso em dois de seus textos. O primeiro está no “Guia para o Estudo das Escrituras” (GEE), um dicionário teológico em que os mórmons dão instruções para se entender os Textos Sagrados. Quando se referem ao arcanjo Miguel, eles nos dizem:
“[É] o nome pelo qual Adão era conhecido na vida pré-mortal. Ele também é chamado de Arcanjo. Em hebraico, o nome significa ‘Como Deus'”.

Lembre-se de que uma das principais crenças mórmons é a vida pré-mortal, ou seja, que a alma preexiste antes de estar em nosso corpo, e nessa preexistência que Adão era conhecido como Miguel.

Também temos esse ensino em uma outra de suas obras “inspiradas”:
“E o Senhor apareceu a eles, e eles se levantaram e abençoaram Adão; e o chamaram de ‘Miguel’, o príncipe, o arcanjo” (Doutrinas e Convenções 107,54).

Nos dizem aqui como Miguel passou a ser chamado de Adão. Para os mórmons, o que antes era um anjo, mais tarde foi um homem e, mais tarde ainda, acabou sendo um Deus. Eles não diferenciam naturezas ou substâncias; para eles não há Antropologia Humana nem Angeologia; não creem que os homens são constituídos por corpo e alma; que os anjos são apenas seres espirituais; que existe um só Deus e não muitos; e que homens não podem ser deuses (ou seja, que não podemos adquirir sua natureza divina). Ora, Adão foi criado por Deus, o próprio Yavhé deu-lhe a respiração para que ele tivesse vida:
“Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra, e soprou em seu nariz o sopro da vida; e o homem passou a ser um ser vivo” (Gênesis 2,7).

Também Gênesis 1 relaciona a criação do homem nestes termos:
“Então Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher, ele os criou” (Gênesis 1,27)

Se o homem foi criado por Deus, significa que antes ele não existia; por outro lado, não podemos crer que o homem já existia antes de vir à Terra como um Anjo, porque senão todos nós fomos anjos antes de vir à Terra. Vamos ver o que a Escritura diz:
“Eu digo, para que te recordes: o que é o homem e o filho do homem, para que o visites? Tu o fizeste pouco inferior aos Anjos e o coroaste com glória e honra” (Salmo 8,4-5).

Se o homem foi criado inferior aos Anjos, isto significa que antes de ser criado ele não era um Anjo. A doutrina mórmon contradiz claramente as Escrituras!

O ARCANJO MIGUEL SEGUNDO AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

A seita das Testemunhas de Jeová compartilha muitas crenças adventistas e esta, em particular, é uma delas, porque para eles Cristo é Miguel; a assim não acreditam na divindade de Cristo.

A obra “O que a Bíblia nos ensina?”, p.220, diz:
“A palavra arcanjo significa “chefe dos anjos”. Apenas um arcanjo é mencionado na Bíblia; seu nome é Miguel (cf. Daniel 12:1 e Judas 1:9). Miguel é o líder do exército de anjos fiéis a Deus. A Bíblia diz: ‘Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão e seus anjos’ (Apocalipse 12:7); também diz que o chefe do exército de Deus é Jesus: então Miguel é outro nome dado a Jesus (cf. Apocalipse 19:14-16)”.

Também uma outra citação que eles usam para justificar que Miguel é Cristo é 1Tessalonicenses 4,15-17, que diz que “o Senhor vem com a voz do Arcanjo”. Como para eles o único Arcanjo que aparece nas Escrituras é Miguel, logo o Senhor [Jesus] é Michael, porque Ele tem a voz do Arcanjo.

QUAL É A DOUTRINA CORRETA SOBRE O ARCANJO MIGUEL?

Antes de mais nada, vamos definir o que é um Arcanjo. Para isso, citarei o Dicionário Bíblico de H. Haang e S. Ausejo:
“Os Arcanjos formam uma classe muito importante de Anjos. O termo é encontrado apenas no Novo Testamento (Judas 1,9: Miguel) e em 1Tessalonicenses 4,16 (um Arcanjo anônimo que anuncia a 2ª Vinda de Cristo). De fato, a partir dos dados do Antigo Testamento, o ‘príncipe do exército de Yaweh’ (Josué 5,14) deve ser identificado com Miguel, um dos principais líderes dos anjos (cf. Daniel 10,13). Tobias 12,5 designa Rafael como ‘um dos sete que estão diante do Senhor’ (v.tb. Apocalipse 8,2)”.

Essa definição é importante porque nos ajuda a nos situar, em primeiro lugar, que há outros arcanjos: temos São Rafael mencionado no livro de Tobias 12,5, que também é um arcanjo; obviamente, esse livro é considerado apócrifo pelas seitas e elas nunca reconhecerão a existência de São Rafael. Em segundo lugar, ela cita o texto de Daniel 10,13, que é muito interessante para refutar os Adventistas e as Testemunhas de Jeová:
“Mas o príncipe do reino da Pérsia se opôs a mim por vinte e um dias; mas eis que Miguel, um dos principais príncipes, veio me ajudar, e eu estava lá com os reis da Pérsia”.

Não é que Miguel seja o “único príncipe”, mas que ele é “um dos principais príncipes”, o que nos leva a concluir que existem outros Anjos principais, sendo estes os Arcanjos. De qualquer forma, devemos entender que na Angeologia há diversas hierarquias, sendo a hierarquia superior constituída pelos “serafins e querubins” (cf. Isaías 6,1-7); estes estão acima de Miguel na hierarquia!

A passagem de 1Tessalonicenses 4,15-17 é uma citação que não deve ser compreendida em sentido fundamentalista, ou seja, literalmente; ela trata da “parousia” do Senhor, empregando elementos e símbolos típicos da linguagem apocalíptica; por isso fala de trombeta, voz etc. Para demonstrá-lo, podemos citar:
“Num momento, num piscar de olhos, a trombeta final. Porque a trombeta será tocada e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis; e nós seremos transformados” (1Coríntios 15,52).
“E Ele enviará seus Anjos com voz de trombeta. E eles reunirão seus eleitos dos quatro ventos, de um extremo ao outro do céu” (Mateus 24,51).

Nos dois textos, o evento da 2ª Vinda é narrado com imagens e símbolos apocalípticos, como o da trombeta. Ninguém crê que os Anjos, por terem “voz de trombeta”, são de fato trombetas. Portanto, quando 1Tessalonicenses 4 diz que “o Senhor está chegando com a voz do Arcanjo”, isto não significa que Ele seja um Arcanjo. A passagem não fala da natureza do Senhor, mas do que ocorrerá no Dia do Juízo.

Por fim, a expressão “voz do arcanjo” de 1Tessalonicenses 4,15-16 está em grego: “φωνῇ ἀρχαγγέλου”, o que literalmente traduzido para o português seria “a voz de um Arcanjo”; isto é, não existe um artigo definido masculino, mas um artigo indefinido: se ele apenas existisse como o Arcanjo Miguel, o Apóstolo diria “a voz do Arcanjo”, mas esse “do” não se encontra no texto grego. Contudo, em Judas 9, Miguel é identificado com o artigo definido masculino “o”. Assim, gramaticalmente falando, não é possível sustentar que o texto de 1Tessalonicenses faz alusão a Miguel.

De outro modo, há várias razões para se afirmar que Jesus não é Miguel:
Jesus é eterno; Ele já existia antes da criação do mundo e da criação dos Anjos (cf. Colossenses 1,17-18; Gênesis 1; João 1,1-7). Com efeito, Miguel foi criado por Cristo.
O Pai nunca chamou Jesus de “Miguel”, mas O chamou “Deus” (cf. Hebreus 1,3.8).
Cristo é verdadeiro Deus (cf. João 1,1; Colossenses 2,9) e verdadeiro homem (cf. 1Timóteo 2,5; Filipenses 2,5-8). Não é, portanto, de natureza angélica, nem possui três naturezas.
São Tomé chama Cristo de “Senhor e Deus”; ele não o chama de “Anjo” (cf. João 20:28).
Arcanjos, Anjos e Potestades estão sujeitos a Cristo (cf. 1Pedro 3,21-22; Colossenses 1,16).

Para encerrar, os Padres da Igreja enxergam Miguel como o Anjo da Guarda de Israel; jamais o identificam com Cristo:
“‘E eis que Miguel, um dos principais príncipes, veio me ajudar’: ou seja, enquanto o Anjo dos Persas resistia aos teus pedidos e às minhas representações em teu nome quando apresentava tuas orações a Deus, veio então em meu auxílio o Anjo Miguel, que supervisiona o povo de Israel. Por ‘principais príncipes’ devemos entender os Arcanjos, é claro. ‘E ninguém é meu assistente em todas essas coisas, exceto Miguel, teu príncipe’: ele implica: “Eu sou o Anjo que apresenta as tuas orações a Deus e não tenho outro auxiliar para pedir a Deus em teu nome, exceto o arcanjo Miguel, a quem foi confiada a responsabilidade pela nação judaica” (São Jerônimo, Comentário sobre Daniel 10).
“Somos ensinados que cada um de nós é confiado aos cuidados de um Anjo individual para nos proteger e para nos libertar das armadilhas dos demônios do mal. Os Arcanjos são encarregados das tarefas de proteção das nações, como ensinou o abençoado Moisés e com estes comentários concorda o abençoado Daniel, porque ele mesmo fala da ‘cabeça do Reino dos Persas’ e, um pouco depois, da ‘cabeça dos gregos’, enquanto chama Miguel de ‘cabeça de Israel'” (Teodoreto de Ciro, Interpretação de Daniel).

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