quarta-feira, 22 de julho de 2015

PARADA PARA PENSAR

Um convite para uma parada. Parada para pensar e refletir sobre a própria caminhada. Sobre aonde desejamos chegar e sobre os percalços até alcançá-lo. Sobre vontade, confiança e coragem em seguir em frente. Sobre escolhas. Sobre pedi e aceitar ajuda. Sobre caminhar junto. Sobre viver, experienciar, crescer.


Boa leitura!

Em nossa última conversa, contei-lhes que parei de falar para escutar, refletir, crescer. Naquele dia, ao chegar ao meu cômodo de descanso, reli as palavras de Gregório que havia escrito e parei para pensar sobre a minha caminhada.

Era cheia de tropeços. Alguns pequenos que pouco me causaram arranhões, porém, outros eram graves, causando-me dores internas que latejaram por muito tempo. Algumas, até hoje. Ou melhor até aquele dia. Será? Melhor corrigir. Digo, melhor não corrigir. Seria leviana se registrasse, hoje, que não tenho mais presença de dor na minha vida. Mas voltando aquele dia .... Retornei ao dia da minha chegada.

Fui trazida carregada. Acolhida por um grupo de peregrinos que buscavam por conhecimento através de experiências desafiadoras como percorrer zonas abissais a procura de luz.

Encontraram-me em suas andanças. Encolhida num vasto vazio. Derrotada pela angustia da partida precoce que dilacerava meu ser, impedindo-me de ver além das minhas dores e revoltas.

Acolhedores, espantaram-se com a presença de alguém tão jovem e bela. Assim, descreveram-me quando me viram. Estendendo-me as mãos, retiraram-me do buraco negro em que me encontrava. Josias foi meu anjo iluminado e consolador.

Recebeu-me como uma filha, mas era tão jovem que despertou meu coração. Vi nele um raio de sol na escuridão. O meu raio de sol, que me transportaria para fora da escuridão, guiando-me pelos caminhos que não conseguia perceber.

Ofereceu-me aconchego, alimento, água para beber, mas dele somente desejava o abraço apertado e a voz melodiosa convidando-me para sair daquele inferno, em que eu vivia há alguns milhares de anos. Na verdade, não sei precisar quantos. Para mim foram milhares.

Aceitei o que me oferecia e parti com ele. Com eles. Um grupo grande. Eram cinco. Cinco anjos iluminados que diziam receber mais do que oferecer. Não entendi o que queriam dizer. Não naquele momento e nem nos dias que se seguiram. Pensam que foi fácil? Simples? Caminhamos por longos dias. Passamos por lugares tenebrosos. Sentimos frio e fome. Senti medo. Pensei em desistir.

Lembro-me de uma manhã escura como a noite, faminta, deitei-me no chão e falando alto, aos gritos, pronunciei que dali não sairia mais. Joguei a toalha. Desisti. Josias, meu anjo iluminado, veio ao meu encontro. Primeiro, acariciou a minha face, ofereceu-me seu último pedaço de pão e sorriu, encorajando-me a levantar. Depois, após a minha recusa, falou-me seriamente. Pontuou que estava ali para ajudar-me, mas a escolha era minha.

Sua firmeza chocou-me. Seu levantar, me desesperou. Quando percebi que desistia de mim, apavorei-me, suplicando que não me deixasse ali. Então, retornou e auxiliou-me a levantar. E apoiando-me partimos em silêncio.

Não voltei a reclamar. Andei sem dar uma única palavra. E obedeci a todas as orientações do líder do Grupo. Josias caminhou ao meu lado todo o tempo, apoiando-me em minhas necessidades, as quais ele identificava mesmo sem eu pronunciá-las. Assim, passaram dias. Meses.

Mas a viagem não foi de toda ruim. Avistei belas paisagens. Vi belezas nunca vistas. Senti cheiros nunca apreciados. Vivenciei experiências inigualáveis. Jamais esquecerei do que vivi.

Porém nada se compara a visão do portão da esperança. Assim, nomeei-o. Ao vê-lo, todos vibraram! E mesmo sem explicações, soube que era o nosso ponto de chegada, nosso porto seguro.

Fomos acolhidos com festas. Roupas limpas e cheirosas, comida apetitosa, água potável e fresca. Ao ser dirigida aos meus aposentos, vibrei de alegria. Não imaginava como sentia falta de uma cama confortável e lençóis macios. Abracei-me ao travesseiro. Deitei-me e chorei agradecida.

Dormi dias inteiros, alimentada pelos que cuidavam de mim. Chegavam à beira da minha cama, banhavam-me a face, forneciam-me alimento e água e deixavam-me retornar ao descanso. Adormecia e acordava ao som de músicas e orações que cobriram o ambiente de uma atmosfera harmoniosa, amorosa e acolhedora. Senti-me segura pela primeira vez.

Ao despertar de verdade, ou seja, ser capaz de ergue-me e caminhar, avistei meu anjo iluminado com seu belo sorriso. Visão que me afagou a alma. Pendurei-me em seu pescoço, apertando-o com toda a minha força e chorei tal como uma criança, agradecendo-lhe e revelando quanto o amava.

Melhor parar por aqui, pois uma vez embalada pelos resquícios do amor não poderei ser fidedigna aos fatos da minha história. Brincadeirinha... Só não quero cansá-lo. Como diz Gregório: “Vou para logo voltar. ”

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