"(...) E eis que uma escada era posta na Terra, cujo topo tocava nos Céus, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela". Gênesis, 28:12
Todo desnível entre dois planos pede recursos de acesso para o trânsito: rampa, escada, elevador, teleférico, etc... Assim também o desnível espiritual. Nesse passo temos nas Revelações os degraus de acesso aos altiplanos celestes.
A ascenção espiritual assemelha-se a uma escadaria praticamente incomensurável cuja base assenta-se na Terra e o topo perde-se nas nuvens... Para galgá-la faz-se necessário força, trabalho, persistência e fé no objetivo final sem interrupções e distrações nos degraus inferiores. À medida que subimos, o panorama vai se engrandecendo, vislumbrando mais longe e chegamos mesmo a ficar pasmos quando nos conscientizamos de nossas anteriores limitações, do apoucamento de nossa compreensão e visão...
Estamos, no momento presente, autorizados a ascender para o terceiro e último nível que facultará a nossa alforria espiritual da atual fase evolutiva. Sem embargo, a todo momento, estamos ainda sujeitos a "escorregões" que podem remeter-nos, outra vez, para os abismos existenciais perdidos no lodaçal da ignorância e da preguiça.
Nosso primeiro degrau foi construído por Moisés, ao trazer-nos as primeiras mas ainda rústicas noções de justiça. O segundo degrau foi construído pelo próprio Cristo, e nesse nível já nos foi possível vislumbrar o horizonte espiritual que então se descortinou às nossas vistas, bem como também nos foram entregues os instrumentais e os mapas necessários para enfrentarmos o próximo degrau construído por Allan Kardec juntamente com os prepostos de Jesus: o Espiritismo.
Outro referencial do movimento de ascensão é o tempo. Ao que tudo indica, a Humanidade terá aproximadamente um milênio de prazo para percorrer cada um desses três níveis. Levando-se em conta que dois degraus já foram vencidos, concluímos que temos somente mil anos para concluir a ascensão do último e definitivo lance da fase evolutiva em que nos encontramos. A alternativa para os que não lograrem a ascensão dentro desse prazo será a queda, outra vez, nos níveis mais baixos para o recomeço difícil.
Cairbar Schutel vale-se de uma parábola filosófica para fazer-nos compreender melhor a questão da ascensão espiritual e do momento evolutivo que vivenciamos presentemente:
"No meio de uma cadeia de montanhas eleva-se um pico isolado, sobre o qual se percebe confusamente um antigo edifício.
Um ousado viajante propõe-se alcançá-lo. As ervas suspensas nos flancos dos precipícios, um tronco carunchoso, uma pedra movediça, tudo lhe serve de ponto de apoio: salta, arrasta-se, esforça-se e, finalmente, coberto de suor e fatigado, chega ao desejado vértice. Aos seus pés espraia-se toda a enorme cadeia de montanhas e os mais belos horizontes se abrem diante dele. O que só via em parte, agora abrange e domina num lance de vista... Embaixo, ao longe, vê obstáculos contra os quais desfaleceram seus primeiros esforços, e ri-se da sua inexperiência; de pé contempla os que finalmente vencerão, e admira-se da própria audácia.
Os companheiros, muito fracos para vencerem as dificuldades do caminho, não o puderam seguir senão com a vista, mas nesse dia ficara conhecido um atalho, porque só visível esse caminho, do alto da montanha. É por aí que desce, então, o viajante que chegou ao alto da montanha, e é por aí que ele se coloca à frente dos companheiros que ficaram no sopé do monte e lhes diz: Segui-me! Ele os conduzirá sem perigo e sem fadiga até o cimo, cuja conquista tanto lhe custara.
Graças a ele a montanha já se tornou acessível!
Todos os viajantes podem, do alto, admirar o formoso edifício, os panoramas sublimes, os magníficos horizontes que dali se desdobram.
Eis a imagem da nossa ascensão às gloriosas paragens da Imortalidade.
Os homens comuns caminham sem se elevar ao vértice da montanha, porque vão e voltam em delongas por caminhos da horizontalidade material que não os conduzem às alturas espirituais. Por vezes elevam-se no meio do morro, mas voltam atraídos aos planos inclinados, porque não transitam pelo verdadeiro caminho: o atalho que os conduziria com segurança ao ápice da montanha.
Aclarando a parábola, vemos na cadeia de montanhas a representação das antigas religiões e no edifício antigo a Revelação. As ervas suspensas nos flancos são as virtudes que nos conduzem ao amor a Deus e ao próximo; o declive, que atira os homens ao precipício, são as más paixões.
O viajante que subiu ao Cume é Jesus, seguido de Seus mensageiros, onde se destaca Allan Kardec, que nos ensinou o Caminho para também galgarmos o ápice.
Os companheiros que tentaram a ascensão são todos os que atualmente se esforçam por chegar a esse lugar, mas que, outrora, presos à atração da Terra e vencidos pelas dificuldades, pararam na estrada, como muito bem ficou representado na "Parábola do Semeador" nos diversos terrenos em que caiu a semente.
Todos os que estudam, pesquisam e analisam estão caminhando...
Os Evangelhos nos aparecem iluminados pelos fulgores do Espírito: a morte perde o seu caráter fúnebre e a Espiritualidade da vida reflete-se em nossas Almas, como as estrelas no espelho d'água.
São dois mundos que se entrelaçam, são dois planos de Vida que se mostram solidários, um como complemento do outro; são duas Humanidades que, numa permuta de provas e de afetos, se declaram solidárias; são, finalmente, anjos que descem a auxiliar os outros que, pelos seus esforços também se tornarão anjos, porque trabalharão para subir.
A ascensão espiritual é o resultado da mesma Lei do Progresso material e da evolução intelectual: tudo vibra, tudo se harmoniza no Amor e na solicitude de Deus para com odos os Seus filhos".
Ninguém segue só nesta difícil escalada. Deus está sempre atento, e por isso, enviou-nos o Divino Zagal Celeste que veio em busca das tresmalhadas ovelhas para levá-las em segurança ao Aprisco Divino. Sigamo-lo, pois, na direção do Reino da Eterna Luz.
Fonte: Brasília Espírita, Maio/Junho 2004.
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