quarta-feira, 15 de abril de 2020

Jesus também é Yahvé

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Autor: José Miguel Arráiz

Fonte: Apologética Católica (http://infocatolica.com/blog/apologeticamundo.php)

Tradução: Carlos Martins Nabeto

Em um artigo do meu blog[1] deixei no ar uma pergunta para que todos que quisessem pudessem respondê-la: Jesus também é Yahvé? A maioria respondeu que cada uma das pessoas da Santíssima Trindade é Yahvé, tanto o Pai quanto o Filho e o Espírito Santo. No entanto, também houve, em menor proporção, pessoas que disseram que somente Deus Pai, a primeira Pessoa da Santíssima Trindade, é Yahvé. Eis aqui a resposta.

SIGNIFICADO DE YAHVÉ

“Yahvé” é o nome próprio de Deus no Antigo Testamento, pois foi assim que Ele se identificou para Moisés na teofania da sarça ardente:

“Respondeu Moisés a Deus: “Se eu vou aos israelitas e lhes digo: ‘O Deus de vossos pais me enviou a vós’, quando me perguntarem: ‘Qual é o seu nome?’, o que lhes responderei?” Disse Deus a Moisés: “Eu sou aquele que sou”. E acrescentou: “Assim dirás aos israelitas: ‘Eu sou me enviou a vós'”” (Êxodo 3,13-14).

Nesse momento Deus deu ao homem o único nome que poderia defini-lo de alguma maneira: “Yahvé”, que em língua hebraica pode traduzir-se por “Eu sou o que sou”, “Eu sou aquele que é” ou “Eu sou o existente”, tal como o traduziram os tradutores da Septuaginta: “ego eimi ho on”. Deus, por ser quem é, é o único verdadeiramente existente no sentido de que não é contingente, o que quer dizer que não precisa de nada nem de ninguém para existir, ao contrário do que ocorre com as criaturas. Ao não ser contingente Deus não foi criado por ninguém, mas é o Criador, princípio e fim de todas as coisas.

Sobre isto o Catecismo da Igreja Católica ensina:

“Ao revelar seu nome misterioso de Yahvé, “Eu sou aquele que é” ou “Eu sou aquele que sou” ou também “Eu sou quem sou”, Deus declara quem Ele é e com que nome se deve chamá-lo. Este nome divino é misterioso como Deus é mistério. Ele é ao mesmo tempo um nome revelado e como que a recusa de um nome, e é por isso mesmo que exprime, da melhor forma, a realidade de Deus como Ele é, infinitamente acima de tudo o que podemos compreender ou dizer: Ele é o “Deus escondido” (Isaías 45,15), seu nome é inefável, e Ele é o Deus que se faz próximo dos homens. Ao revelar seu nome, Deus revela ao mesmo tempo a sua fidelidade, que é de sempre e para sempre, válida tanto para o passado (“Eu sou o Deus de teu pai”, Êxodo 3,6) como para o futuro (“Eu estarei contigo”, Êxodo 3,12). Deus que revela seu nome como “Eu sou” revela-se como o Deus que está sempre presente junto ao seu povo para salvá-lo” (CIC 206-207).

Como se pode observar, já aqui está implicitamente respondida a pergunta, pois o Catecismo ensina que Yahvé é o nome próprio de Deus, não só de Deus Pai. E se como católicos professamos a doutrina da Trindade – que existe um só Deus em Três Pessoas Divinas: Pai, Filho e Espírito Santo – é natural que cada uma delas possa ser identificada com o nome de Yahvé.

Negar isto conduz inequivocamente a duas opções:

a) ao Arianismo; ou

b) a uma contradição com o que as Sagradas Escrituras ensinam.

Cai em Arianismo quem pensa que só o Pai é Yahvé, pensando que só Yahvé é Deus, porém nem o Filho nem o Espírito Santo o são. Esta posição foi rejeitada unanimemente desde a Igreja primitiva e igualmente por todos os Padres da Igreja; é isso o que professam hoje seitas como os Testemunhas de Jeová. Veja-se acerca disto:

– A doutrina da Trindade na Igreja primitiva e os Padres da Igreja[2]

Contradiz as Sagradas Escrituras quem sustenta que só o Pai pode ser identificado com Yahvé e ao mesmo tempo afirma professar a doutrina da Santíssima Trindade. Vejamos o porquê:

SÓ YAHVÉ CRIA

A Escritura ensina isto quando afirma:

“Assim diz Yahvé, teu redentor, aquele que te formou desde o seio: “Eu, Yahvé, fiz tudo; eu, sozinho, estendi os céus e assentei a terra, sem ajuda nenhuma” (Isaías 44,24).

Outros textos similares são: Apocalipse 4,11; Hebreus 3,4; Salmo 89,12; 33,6.

As Sagradas Escrituras também ensinam que Deus fez tudo para Si mesmo:

“Todas as coisas as fez o Senhor para glória de Si mesmo” (Provérbios 16,4).

Se Yahvé fez tudo “sozinho”, “sem ajuda nenhuma”, e o fez para Si mesmo, não se explicaria como Jesus não pode ser também Yahvé, quando o Evangelho de João começa dizendo que “Tudo se fez por Ele [o Verbo feito Carne = Jesus] e sem Ele não se fez nada do quanto existe” (João 1,3).

Observe-se que quando o Evangelho de João ressalta que “sem Ele não se fez nada do quanto existe” está dizendo que tudo aquilo que pode ser rotulado como “feito” foi criado também pelo Verbo (Jesus).

Abundam também as reflexões dos Padres da Igreja sobre a passagem do Gênesis onde Yahvé cria o homem (Gênesis 1,26): “Façamos ao homem à nossa imagem e semelhança”, [passagem esta] que ao estar conjugada no plural, revela implicitamente o diálogo entre as Pessoas da Santíssima Trindade. Veja-se a este respeito:

– “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança”, reflexões dos Padres da Igreja[3]

Portanto, quem afirma que só o Pai é Yahvé, está afirmando consequentemente que só o Pai é o Criador, sem o Filho e sem o Espírito Santo. E se afirma a primeira parte e pretende também afirmar a segunda, se contradiz.

SOMENTE SE ADORA A YAHVÉ

Também ensinam isto, claramente, as Sagradas Escrituras:

“Eu, Yahvé, sou teu Deus, que te tirei do país do Egito, da casa da servidão. Não haverá para ti outros deuses diante de mim” (Êxodo 20,2-3).

“Assim diz Yahvé, o rei de Israel e seu redentor, Yahvé Sebaot: “Eu sou o primeiro e o último, fora de mim, não há nenhum deus”” (Isaías 44,6).

“Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, “Aquele que é, que era e que há de vir”, o Todopoderoso” (Apocalipse 1,8).

Portanto, se só se deve adorar a Yahvé e fora Dele a ninguém mais, no caso de não ser o Filho e o Espírito Santo também Yahvé, não se lhes deveria adorá-los, pelo que, novamente, caem em contradição aqueles que afirmam que só se pode identificar Deus Pai com Yahvé.




SOMENTE YAHVÉ SALVA E É O JUIZ DA HUMANIDADE

As Sagradas Escrituras também ensinam que somente Yahvé é o único e verdadeiro Salvador:

“Eu, eu sou Yahvé, e fora de mim não há Salvador” (Isaías 43,11).

No Antigo Testamento se profetiza, ademais, que tanto o juízo quanto a salvação serão realizados pessoalmente por Yahvé:

“Ele disse: “Certamente que eles são meu povo, filhos que não enganarão”. E Ele foi seu Salvador em todas as suas angústias. Não foi um mensageiro nem um anjo: Ele mesmo, pessoalmente, os libertou. Por seu amor e sua compaixão Ele os resgatou: os ergueu e os conduziu todos os dias desde sempre” (Isaías 63,8-9).

Esta ideia, que se repete ao longo de todo o Antigo Testamento (Salmo 50,1-6; 96,11-13; 98,9; Zacarias 14,5), no Novo Testamento se consuma em Jesus Cristo, como salvador da humanidade:

“Dará à luz um filho e tu lhe porás por nome “Jesus”, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mateus 1,21).

“Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lucas 2,11).

“Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo se salve por Ele” (João 3,17).

“E que se manifestou agora, com a manifestação de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual destruiu a morte e fez irradiar vida e imortalidade por meio do Evangelho” (1Timóteo 1,10).

Da mesma forma é Ele (Jesus) que o Novo Testamento identifica como responsável por julgar o mundo:

“Quando o Filho do homem vier em sua glória acompanhado de todos os seus anjos, então se assentará no seu trono de glória. Serão congregadas diante Dele todas as nações e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos” (Mateus 25,31-32).

O FILHO DE DEUS IDENTIFICA-SE COM YAHVÉ

Igualmente abundam os textos da Sagrada Escritura onde se identifica Jesus com Yahvé. Por exemplo, discutindo com os judeus [Ele mesmo] se identifica de maneira tão clara, que os judeus tentam apedrejá-lo:

“Jesus lhes respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo: antes de que Abraão existisse, Eu Sou”. Então tomaram pedras para atirá-las nele; porém Jesus passou por eles e saiu do Templo” (João 8,58-59).

Também lhe são atribuídos os títulos que no Antigo Testamento são atribuídos a Yahvé em Isaías 44,6:

“Quando eu o vi, caí aos seus pés como morto. Ele pôs a sua mão direita sobre mim, dizendo: “Não temas, sou eu: o Primeiro e o Último; aquele que vive. Estive morto, porém agora estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da Morte e do Hades”” (Apocalipse 1,17-18).

“Ao Anjo da Igreja de Esmirna escreve: “Isto diz o Primeiro e o Último, aquele que esteve morto e reviveu”” (Apocalipse 1,8).

“Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Felizes os que lavam suas vestes, pois assim poderão dispor da Árvore da Vida e entrarão pelas portas na Cidade. Ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todos os que amam e praticam a mentira! Eu, Jesus, enviei o meu Anjo para dar testemunho disso às igrejas. Eu sou a estirpe e o descendente de Davi, a estrela radiante da manhã” (Apocalipse 22,13-16).

O ESPÍRITO SANTO TAMBÉM SE IDENTIFICA COM YAHVÉ

Há passagens no Novo Testamento onde o Espírito Santo identifica-se com quem o Antigo Testamento identifica como Yahvé. Por exemplo, quando São Paulo menciona as palavras ditas por Yahvé ao povo, em Isaías 6,8-10, ele as atribui ao Espírito Santo:

“Quando, em desacordo entre eles mesmos, já se retiravam, Paulo disse apenas isto: “Com razão falou o Espírito Santo aos vossos pais por meio do profeta Isaías: “Vai encontrar este povo e diz: ‘Ouvireis bem, porém não entendereis; enxergareis bem, porém não vereis; porque se entorpeceu o coração deste povo, tornaram-se duros seus ouvidos e seus olhos fecharam. Que não enxerguem com seus olhos, que não ouçam com seus ouvidos, para que seus corações não entendam e se convertam e eu os cure'”” (Atos 28,25-27).

O mesmo faz o autor da Epístola aos Hebreus:

“Por isso, como diz o Espírito Santo: “se ouvís hoje a sua voz, não endureçais vossos corações como na Querela, o dia da provocação no deserto, onde vossos pais me provocaram e me puseram à prova, mesmo depois de terem visto as minhas obras durante quarenta anos. Por isso, me irritei contra essa geração e disse: ‘Andam sempre errados em seu coração; não conheceram os meus caminhos’. Por isso jurei em minha cólera: ‘Não entrarão no meu descanso!'”” (Hebreus 3,7-11).

EM RESUMO

Certamente há textos que se referem a Deus Pai como Yahvé, assim como há textos no Novo Testamento onde se identifica Deus com a Pessoa do Pai. Não há nenhum problema nisso, mas em entendê-los com a lógica protestante (“aut aut”), assumindo que só o Pai é Yahvé, e não com a lógica católica (“et et”) pela qual se pode afirmar que o Pai é Yahvé, sem por isso negar que o seu Filho ou o Espírito Santo o sejam[4].

Neste artigo me limitei a abordar esta pergunta específica: se Jesus pode ser identificado com Yahvé. Para uma explicação mais ampla da doutrina da Santíssima Trindade você pode ler:

– Resumo da doutrina da Santíssima Trindade[5]
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NOTAS:

[1] http://infocatolica.com/blog/apologeticamundo.php/1609140556-catolico-ignorante-futuro-pro (em espanhol).

[2] http://www.apologeticacatolica.org/Trinidad/TrinidadN02.html (em espanhol).

[3] http://infocatolica.com/blog/apologeticamundo.php/hagamos_al_hombre_a_nuestra_imagen_y_sem (em espanhol).

[4] Ao afirmar isto, o Autor quer apenas fazer menção à forma de raciocínio protestante e não à sua crença sobre este ponto em particular, apresentado no artigo. De fato, muitos protestantes aceitam a doutrina da Trindade porque a receberam por tradição dos reformadores protestantes; porém outros não, sobretudo as seitas derivadas deles como os Testemunhas de Jeová ou, inclusive, os Adventistas que creem que Jesus é na verdade o Arcanjo Miguel (N.doT.).

[5] http://www.apologeticacatolica.org/Trinidad/TrinidadN01.htm (em espanhol).

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