No dia 13 de
maio último, comemoramos o centenário da primeira aparição de Nossa
Senhora de Fátima aos três pastorinhos. O leitor poderá indagar se diante
de tão marcante acontecimento da História da Igreja – certamente a mais
importante das aparições da Virgem Maria ao mundo – os homens atenderam
ou não aos pedidos da celeste mensageira.
Para
responder a essa premente pergunta, importa recordar que a Mãe de Deu
veio pedir aos homens oração, penitência, mortificação e mudança de
vida, isto é, renúncia à impiedade e à corrupção dos costumes. E também
que cressem e professassem a doutrina e a Lei de Deus consubstanciada
nos Dez Mandamentos.
A Rainha do
Céu e da Terra pediu ainda que se rezasse diariamente o terço e se
fizesse a comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados (a qual
consiste em se confessar com a intenção de reparar o Coração Imaculado
de Maria, comungar e passar um quarto de hora meditando sobre os
mistérios do Santo Rosário).
Por fim, de
maneira imperiosa, pediu a consagração da Rússia ao seu Imaculado
Coração, a ser feita pelas autoridades competentes, pois do contrário
essa nação espalharia seus erros pelo mundo. Teria esse pedido – como
os outros sugeridos pela Mãe de Deus – sido atendido pelos homens?
–
Infelizmente não! Poucos foram os que rezaram, e menos ainda os que se
penitenciaram, se converteram e mudaram de vida. O que não deixa de ser
um reflexo do não atendimento do pedido de consagração da Rússia.
* * *
1917-2017.
Cem anos da aparição de Nossa Senhora em Fátima, Portugal. E também cem
anos do bolchevismo na Rússia, o qual foi, e continua sendo, um flagelo
para o mundo, que ele descristianiza através da Revolução gnóstica e
igualitária. A crise sem precedentes que assola a Venezuela e ameaça o
Brasil não é alheia aos erros espalhados pela Rússia.
Como Mãe de
misericórdia, a Rainha dos Céus aparece aos pastorinhos, apresentando
os meios para a conversão e mudança de vida. Onde está a conversão?
Onde está a penitência? Cumpre lembrar que as aparições de Fátima
aconteceram num momento importante do processo revolucionário, e mesmo
se os homens não atendessem aos pedidos de Nossa Senhora, como mãe
bondosa Ela prometeu: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.
Plinio Corrêa
de Oliveira comenta que ao abandonarem os homens a velha tradição
medieval, eles passaram a ter como ideal de vida não mais a Igreja e
seus mandamentos, mas “o Humanismo e a Renascença, que procuraram
relegar a Igreja, o sobrenatural e os valores morais da religião a um
segundo plano”.
No campo
social – continua o autor de Revolução e Contra-Revolução –
“a introdução do ideal de desestabilizar a sociedade, levando ao caos,
por meio da luta de classe e da violência e a ter hábitos tribais,
estruturando-a numa ‘síntese ilusória’ entre o auge da liberdade
individual e do coletivismo consentido, na qual este último acaba por
devorar a liberdade".
E conclui
dizendo que, "segundo tal coletivismo, os vários ‘eus’ ou as
pessoas individuais, com sua inteligência, sua vontade e sua
sensibilidade, e consequentemente com os seus modos de ser
característicos e conflitantes, se fundem, se dissolvem na
personalidade coletiva da tribo geradora de um pensar, de um querer, de
um estilo de ser densamente comuns".
Propriamente,
é a negação da tradição e de todos os valores morais, religiosos,
éticos e culturais, com vistas à implantação da anarquia na sociedade.
Daí a
importância de Fátima e de sua mensagem para esmagar esse multissecular
processo demolidor chamado Revolução, nascido no fim da Idade Média de
uma crise de fé e moral sem precedentes na História. Nossa Senhora veio
propor os remédios para liquidá-lo.
Remédios
bondosamente oferecidos, mas dos quais os homens vêm se recusando a
fazer uso. O que faz entrever um fim análogo ao daqueles doentes que se
negam a tomar os remédios que seus médicos lhes prescrevem...
(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria —
Cardoso Moreira (RJ) e colaborador da ABIM.
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