terça-feira, 14 de julho de 2015

CRÔNICAS ESPÍRITAS


As crônicas espíritas retornam ao nosso Momentos de Luz, trazendo o relato de um grupo em extremo sofrimento e que busca a sua libertação a todo o custo, sem olhar a quem.


Em completa ausência da Espiritualidade, percebemos o egoísmo desmedido, atos de violência e crueldade que já não cabem mais naqueles que tem uma fé sólida na providência divina.

Que sejamos, sempre, em qualquer circunstância, capazes de conhecer a imortalidade do Espírito e o Amor que emana da Fonte Universal.

Ótimo dia para todos.





Estava no grupo de estudo e já se aproximava a finalização da primeira atividade das noites de quinta-feira, quando senti uma energia diferente. Senti-me leve e distante, como se estivesse a vagar, sendo conduzida a presenciar um acontecimento.

Nestas ocasiões o binômio tempo-espaço funciona de maneira bem diferente da habitual vigília na maior parte do dia. Chame-se ao fenômeno desdobramento, “sonho lúcido”, expansão da consciência, estado alterado ou não usual de consciência e etc., as múltiplas denominações não modificam a experiência vivenciada.

Uma grande cena descortinava-se aos poucos num ambiente envolto em névoas escuras, com rajadas de vento frio a produzir sons desagradáveis. Estava na área lateral de uma montanha escarpada e sentia-me como a aterrissar meus pés em pedras. Via muitos metros abaixo uma longa e estreita ponte de madeira, com cordas de apoio laterais, sobre um grande e negro despenhadeiro.

Na outra extremidade da ponte havia um planalto enevoado com poucas árvores retorcidas e de aspecto pantanoso. Ouvi então gemidos e gritos que antecederam a chegada de uma turba de espíritos ruidosos que se deslocava com pressa, como que a fugir de grande perigo. Aquelas almas empurravam-se, acotovelando-se para atravessar a ponte, desesperadas. A maioria delas expressava defeitos perispiríticos acentuados e assemelhavam-se mais a animais antropomórficos que a pessoas. O pavor de não conseguir atravessar a tempo era somado à ansiedade e violência de alguns, o que adensava ainda mais a psicosfera do ambiente.

Aquela cena dantesca me comoveu, e no impulso de descer para ajudá-los quase me desequilibrei, como se fosse cair fisicamente, procurando apoiar-me em alguma coisa. Senti o amparo dos irmãos de luz, uma mão amiga que me segurou e disse que eu estava ali para observar e orar por eles, e este era o meu trabalho, pois alguns dos recolhidos teriam atendimento naquela noite.

Recomposta, observei por mais um breve tempo o comportamento daqueles espíritos. Os mais fortes fisicamente ou menos sequelados tinham um comportamento divergente; poucos auxiliavam a outros, enquanto os demais empurravam os companheiros de desdita para o abismo, procurando livrar o caminho o mais breve possível, correr e passar à frente. Observei que apenas dois ou três de um grupo de mais de cem tentavam dar alguma ordem, sugerindo fazer uma fila para que todos pudessem passar, mas não lhes deram ouvidos.

Comportavam-se como prisioneiros de um local terrível que repentinamente abre os portões, ensejando a um afastamento a qualquer custo, mesmo sem saber para onde iriam. Uns sentiam-se libertos, enquanto outros fugitivos.

Alguns dos sofredores que se arrastavam lenta e penosamente na ponte, eram arrastados pela turba tresloucada.

Podia ouvir algumas frases e “ler” alguns dos pensamentos dos irmãos tão sofridos:

- “ Não deixo ninguém passar na minha frente;

- Não quero voltar para lá e ser preso;

- Não quero morrer, saiam do caminho;

- Chega de sofrimento, agora é minha vez, vão ver;

- Preciso passar e tirarei todos do meu caminho;

- Eu não vou morrer novamente;

- Se existe algum Deus que me ajude;

- Misericórdia! ”



E foi à Misericórdia Divina que apelei para que fossem auxiliados, dentro das possibilidades de cada um deles.

Repentinamente senti-me de volta, sem muita noção do tempo e com uma clara analogia formada na mente. Esse comportamento violento das turbas, de um coletivo em perigo, leva ao despertar de instintos arcaicos e arraigados de sobrevivência. Nesses espíritos animalizados a força de outros instintos foi sobrepujada por impulsos primitivos. Mas lembrei-me que encarnados muitas vezes se comportam como eles.

Pessoas pisoteiam e empurram pessoas em desastres, desmoronamentos, incêndios e etc.

Me surgiram questionamentos que partilho para nossa reflexão.

O medo de “perder a vida” justifica qualquer ação?

O instinto de sobrevivência é maior que qualquer outro?

Num momento de pânico o que acontece com o nosso racional?

Os fins justificam os meios?

O que é a vida?



A pulsão evolutiva nos impingiu um juízo de valores éticos, a consciência, além dos instintos de cooperação e amorosidade.

A ausência da Espiritualidade incita ao egoísmo desmedido, a atos de violência e crueldade que já não cabem mais naqueles que tem uma fé sólida, que conhecem a imortalidade do Espírito e o Amor que emana da Fonte Universal.

Continuarei na próxima semana com o tema.



Muita Paz pra todos nós!

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