quarta-feira, 20 de maio de 2015

Quem é que nos espera?

Nada existe a não ser momentaneamente, em sua forma e cor presentes. Uma coisa se transforma em outra e não pode ser detida. Antes que a chuva pare ouvimos o trinar de um pássaro. Mesmo sob o peso da neve vemos campânulas brancas e alguns rebentos. Já vi ruibarbos no Leste. No Japão, comemos pepino na primavera. - Shunryu Suzuki

É uma história enrolada a que vivemos. Contamos com poucas referências, e o caminho – a areia lúbrica – revela-se nebuloso.

Mas não vou registrar agora nenhuma nota longa.

Vou apenas lhes dizer que podemos avançar sem desviar o rosto, procurando validar as inspirações que nos chegam ao amanhecer, quando nos pomos de pé para o café, no próprio ato de preparar o café e receber o dia. Colocar-se com atenção no desjejum para intuir que o dia nos oferecerá um mínimo para nos guiar em meio ao caos que está a parir a nova ordem, na qual as pessoas se ajudarão sem temor ou cálculos matemáticos descarados (ou camuflados), só o farão por gentileza e solidariedade.

E por isso, felizmente um dia, os maus e as ditaduras, domésticas e públicas, serão folhas secas que estalam e estarão a correr, junto de um arroio, os inúmeros que fazem os caminhos. As vidas seguirão em paz, pois não existirão os sicários do medo para paralisar a leveza de uma mulher no Irã, nem chocar a alegria de um menino africano vivente em Hamburgo.

Por enquanto, indubitavelmente, algumas minorias, distribuídas em uma maioria morna, estão metidas com compaixão e serviço, vocês me dirão.

E por isso reagimos, frente a essas minorias, como se alguém falasse de um manual escasso de (suave) comportamento.

Amigo ou amiga, quem é que nos espera?

É o anoitecer ainda. Mas vamos continuar no mundo. Há muita gente dormindo e não podemos despertá-las. Entretanto, não percamos a oportunidade de fazer um poema na travessia, porque não somos desertores.

É isso o que somos, penso: viajantes muito dispostos a passar o tempo fatigando o corpo para iluminar os sentidos, e, de um jeito muito próprio, realizar a natureza copiosamente do caminho e, por amor tão fundo em nossas almas, que mal respiramos, o mistério luminoso no coração intacto. E do caos já partimos para o Novo Mundo.

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