Como chamariam na
igreja evangélica as pessoas que fazem "revelações" através de um
trecho da Biblia aberta ao acaso?
Estrou atravessando um conflito com pessoas da minha familia que não admitem a minha crença na espiritualidade. Abraços! MM
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Olá MM,
Aquilo a que se refere
enquadra-se na tradição antiga do «profetizar», que era prática dos Primeiros
Cristãos (há diversas descrições nos Actos dos Apóstolos). No Espiritismo
chamamos a esse fenómeno a mediunidade de psicofonia, que é o acto de se
falar por inspiração dos Espíritos. Os Espíritos evoluídos compareciam nas
reuniões dos Primeiros Cristãos e inspiravam-nos a proferir discursos
edificantes.
Qualquer orador inspirado está a até
certo ponto sob a influência de Espíritos que com ele se afinizam. Em certas
reuniões de Igrejas Evangélicas ou dos católicos da Renovação Carismática,
ocorre o mesmo fenómeno, mas eles atribuem-no ao Espírito-Santo. A Bíblia, a
rigor, não fala de uma entidade chamada o Espírito-Santo. Nos textos
originais fala-se de UM Espírito santo, isto é, de um Espírito bom, evoluído.
Mas ao longo dos séculos a Teologia cristã adaptou as antigas ideias egípcias
e hinduístas de um Deus Trinitário, e estabeleceu o 'tal três-em-um' do Pai,
Filho e Espírito-Santo. No Espiritismo somos monoteístas, não divinizamos
Jesus nem cremos nessa terceira pessoa da suposta Trindade, o rarefeito e
misterioso Espírito-Santo. Com
todo o respeito por quem pensa de modo diferente, é óbvio.
E por falar em
respeito, digo-lhe que vejo muito poucas probabilidades de os seus familiares
alguma vez virem a aceitar a sua liberdade de consciência. Por muitas explicações que se lhes dê, as pessoas
que têm uma concepção exclusivista da fé, não só não aceitam como mais se
encarniçam a combater o que à partida decidiram rejeitar. Nada contra as pessoas, que decerto são
excelentes pessoas, mas quem se atreve a questionar a fé alheia, não é muito
dado à tolerância religiosa.
Há uns anos tivemos
aqui uma visita permanente e obstinada no Blog de Espiritismo, uma senhora
que não conseguia entender que as traduções bíblicas nem sempre reflectem o
espírito e a letra dos textos originais. Teimava a senhora que o Espiritismo
é «proibido» pela Bíblia. Por mais que se lhe explicasse que o Espiritismo
surgiu em 1857 e o Deuterónimo 18 data de há cerca de 3500 anos, a senhora
teimava que somos «mentirosos», porque na Bíblia dela está escrito
«espiritismo». Idem para o Diabo, ou o Satanás, que a referida senhora não
entende que é uma adjectivo e não um substantivo, ou seja, que designa alguém
mau, ou que se opõe ao Bem, e não um ser em especial.
Dedicado à
senhora em questão, com carinho e paciência escrevi 10-posts-10!, a que dei o
título de «Somos Espíritos». Não esperava que ela concordasse com as minhas
concepções, mas que pelo menos as compreendesse. O comentário da senhora foi
que eu sou um «mentiroso» e que se tratava apenas de «bla-bla-bla» :-)
O argumento recorrente
é o de que nem vale a pena estudar o Espiritismo, pois a Verdade já está toda
na Bíblia. De nada adianta explicar que o Espiritismo não contradiz a Bíblia,
antes reforça os seus ensinamentos morais. Responder-nos-ão que após a Bíblia
tudo o que vier é «mentira» (estas pessoas funcionam muito em termos
maniqueístas de «A Verdade» e «A Mentira»).
Também
Jesus de Nazaré
foi rejeitado pelos que há dois mil anos achavam que a Verdade já estava toda
no Antigo Testamento. Achavam que aquele rapaz humilde não podia ser o
Messias anunciado no Antigo Testamento. Hoje, os Donos da Verdade acham que o
humilde Espiritismo não pode ser o Consolador prometido por Jesus. E só
não crucificam o Consolador prometido porque este não é um homem, mas o
conjunto de Bons Espíritos (O «Espírito-Santo», na concepção das religiões)
enviado por Deus para explicar o que Jesus na época afirmou ser ainda cedo
para explicar.
Em face disto,
pessoalmente já me deixei de tentar explicar o Espiritismo a quem tem deste
uma ideia tão negativa e preconceituosa que jamais se disporá a entendê-lo.
Em vez disso, faço questão de traçar uma linha muito bem definida:
Clube
de futebol, partido político e religião, cada qual tem os seus, e
ninguém tem o direito de impor as suas preferências aos outros. Isso é
violentar a consciência alheia.
Infelizmente, nem essa
afirmação consensual é consensual para quem quer à viva força levar
os outros à «salvação». Na
melhor das intenções entendem que estão a salvar das chamas
do Inferno os profitentes de todos os outros credos que não o deles. Insistem
que Jesus está para chegar a qualquer momento e não confiam que ele,
melhor que ninguém, saberá entender que cada
pessoa deve obedecer à sua própria consciência, e não à interpretação
bíblica de uma entre as mais de 40 000 religiões cristãs que existem. para
não falar das não cristãs.
Por isso o melhor é
capaz de ser mesmo lembrar que cada um deve
vigiar a sua própria vida e não a dos outros. E não permitir que essa linha
seja ultrapassada. Com amor, mas com firmeza. Há que ter paciência e
orar por quem verbera a nossa crença mas se recusa a acompanhar-nos ao centro
espírita e ver com os próprios olhos, ouvir com os seus próprios ouvidos e
julgar com o seu próprio entendimento. Tenho uma pessoa de família assim, que
questiona as crenças de todos os que não comunguem da dela. Comigo nunca
passou das intenções. Se me perguntarem sobre a minha crença, esclareço com
gosto. Se a questionarem inquisitorialmente, não chegam a transpor a linha do
respeito pela consciência de cada um. De qualquer forma, era uma canseira e
no final tudo se resumiria a três palavras: «Bla-bla-bla». :-)
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SALVE DEUS! FAÇAM O FAVOR DE SEREM FELIZES. COMAM E BEBAM; A MESA ESTÁ POSTA! SALVE DEUS
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Orai e vigiai
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