quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Em nome de Deus, NÃO!



Antigamente chamados profetas, algumas vezes confundidos com o próprio Deus, periodicamente nascem na Terra pessoas muito acima da média em moral e espiritualidade. Tomados como referência pelos seus contemporâneos, muitas vezes perseguidos pelas estruturas religiosas e políticas estabelecidas, ninguém fica indiferente a Moisés, a Jesus de Nazaré, a Muhammad, ao príncipe Siddharta Gautama depois conhecido como o Supremo Buda, ao Guru Nanak, e a tantos outros.

Poucos destes líderes espirituais se assumiram como fundadores de religiões, sobretudo se entendidas como sistemas hierarquizados, como uma espécie de Embaixadas de Deus na Terra. Durante a peregrinação terrena ocuparam-se em fazer avançar a Humanidade moral e espiritualmente, sem estabelecerem fronteiras de cor de pele, nacionalidade ou religião. Os profetas pregam valores universais: a paz, a tolerância, a obediência às Leis Divinas, o amor ao próximo, a vida futura, etc..

Os seus seguidores mais entusiastas, esses sim, costumam escrever-lhes os ensinamentos, e, nos piores casos, combater os profitentes de outras crenças. As duas correntes religiosas que mais adeptos colhem no nosso planeta - Cristãos e Maometanos - têm protagonizado ao longo dos séculos tristes episódios de intolerância e perseguição,  na tentativa de conquista de uma hegemonia que não estava nos planos de Jesus ou de Muhammad.

É impossível imaginar-se Jesus de Nazaré a emprestar a sua chancela às matanças que católicos e protestantes levaram a cabo durante séculos. Como é impossível imaginar Muhammad a aprovar episódios como este recente, da menina Rimsha Masih, paquistanesa de 13 anos, portadora de síndrome de Down, cujos pais frequentam uma Igreja Protestante, e que está presa sob a acusação de ter queimado páginas do Corão.

Persiste nas religiões dogmáticas a confusão entre o que nos escritos sagrados diz respeito à época em que foram escritos e é da lei civil dessa época, e o que está de acordo com as Leis Divinas e é por isso de todas as épocas. É certo que encontramos em textos considerados sagrados passagens que nos parecem hoje da mais pura barbárie. Preceitos que ordenam a lapidação de mulheres adúlteras, homossexuais ou filhos desobedientes, por exemplo, não podem ter origem divina.

O entendimento estreito das coisas leva a que os adeptos mais radicais contraponham que não se pode aceitar apenas parte dos escritos sagrados - quaisquer que estes sejam. No entanto, que saibamos, está para vir o entusiasta tão radical que aplique todos os preceitos milenares a si mesmo e à sua família.
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Já quando se trata de estranhos, e sobretudo de gente de outras religiões, o crivo tende a apertar-se. O jornal Público dá conta dos desenvolvimentos do caso de  Rimsha, mas também relata este outro, verdadeiramente arrepiante:

(...) «Rimsha não é caso único: desde 2009, Asia Bibi, uma católica paquistanesa, foi presa depois de também acusada de blasfémia. A mulher terá bebido água de um poço enquanto trabalhava no campo, sendo acusada por outras mulheres de conspurcar a água que lhes pertencia. Asia reagiu, invocando a sua fé cristã, o que lhe valeu a acusação de blasfémia e a condenação à morte. A sua história está contada no livro Blasfémia (ed. Alêtheia), um depoimento recolhido pela jornalista francesa Anne-Isabel Tollet publicado há meses em Portugal. » (...)

Seja em que país for, seja em que religião for, seja em que circunstância for, era bom que os zelosos aplicadores da lei religiosa se perguntassem sempre sobre se Deus aprova as suas decisões. Não cremos que Deus aprove qualquer tipo de coação, qualquer tipo de violência cometida em seu nome.


Nota: Aguardamos a anunciada campanha da AVAAZ em defesa de Rimsha.

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