sábado, 19 de novembro de 2011

Quantos anos você tem de Doutrina?


Demerval chegou ao Templo as duas da tarde, gostava de chegar cedo em sua moto nova. Foi direto ao vestiário, colocou a calça, a camisa, as morsas, a fita e deteve-se por um momento para admirar a plaquinha de acrílico pregada em seu colete. Leu e releu sua classificação e suspirou orgulhosamente: Sou Arcano!

Vestiu o colete e foi apoiar-se na moto para fumar um cigarro, gostava de ver os outros chegarem e observarem que ele era dos primeiros a estar no Templo, além de mostrar sua reluzente motocicleta.

Quando a movimentação aumentou, foi para a lanchonete tomar café e conversar com os que vinham lhe procurar. Muitos novatos se aproximavam atraídos pela perspectiva de aprender ao lado do Arcano, pois acreditam, no início de suas jornadas, que a classificação sempre representa maior experiência e conhecimento, e ele realmente era um “sabetudo”. Respondia a tudo que lhe perguntavam da maneira que acreditava ser melhor e às vezes inventava um pouco para não fazer feio. Quando algum médium questionava suas respostas incompletas, vinham logo as contra-perguntas: “Qual sua classificação? Quantos anos têm de Doutrina?”

Salve Deus! Aqui já tenho que fazer um comentário... Estas duas arrogantes perguntas são algumas das maiores demonstrações de falta de preparo, conhecimento e humildade, que alguém que se intitula “mestre” pode fazer. Demonstram claramente que, quando acuado pela inteligência das perguntas, o caminho mais fácil é querer “ser mais” e humilhar o interlocutor.

Continuando... Demerval, entre um novo café e cigarro, ouviu a sirene tocar e viu os companheiros seguirem, pouco a pouco, em direção ao interior do Templo... “Eu já não preciso correr, sou Arcano! A hora que chegar, já tenho meu lugar!”

E assim foi... Chegou, no Templo na hora em que o primeiro Comandante iniciava a abertura e posicionou-se em “seu” lugar. Olhava impaciente para o relógio, como se ajudasse a “terminar logo” a Abertura e Preparação, para que tomasse o Farol Mestre. Claro que não ia perceber o jovem Centurião que chegou cedo e foi logo para a fila na esperança de participar no Farol Mestre pela primeira vez.

Terminada a primeira Mesa, recebeu os tradicionais convites para auxiliar em algum setor de trabalho: “Não estou em sintonia agora Mestre, depois passo lá ajudar a comandar”. Assim respondia.

Observou as Ninfas, agora ele podia escolher com quem trabalhar, nenhuma se recusava a trabalhar com o Arcano, mas como não viu nenhuma mais bonita, pensou: “Bem, já participei da Mesa, agora vou tomar um cafezinho”. Ficou na lanchonete, ao lado de outros inventores de desculpas e daqueles que vão ao Templo para falar dos próprios problemas, por mais de duas horas. Aconselhava, contava de suas vitórias, de histórias na Doutrina, criticava os Trinos e quando já não era mais o centro da atenção, olhava para o relógio e dizia: “Tenho que fazer a caridade!”

Voltava ao Templo e procurava um trabalho para comandar. Não ia para auxiliar, o objetivo era registrar sua “força e emissão” para emanar o trabalho. Acreditava realmente que isso fazia toda a diferença e bastava sua presença para engrandecer a missão dos outros.

Fim do comando, voltava para um lanchinho... e mais algumas horas perdidas na inutilidade.

Agora sim era hora de ir aos Tronos! Escolhia bem quem convidaria e seguia direto para o setor, com ele não precisava passar no Castelo do Silencio ou perder tempo se mediunizando. Era um médium pronto para tudo!

Antes de atender os pacientes, atendia a si mesmo por um grande período de tempo. Depois, mais uns três pacientes e já estava bom! A coluna doía e necessitava um cigarrinho para “acomodar as energias”.

Poderia estender este relato por diversas outras situações, mas hoje esta crônica é uma ficção! Não é uma história real, mas se você se identificou em alguma parte dela é porque algo não está bem... É hora de parar para pensar em como está conduzindo verdadeiramente a sua jornada, rever suas atitudes e resgatar a humildade perdida. Sempre há tempo para os que desejam sinceramente evoluir.

Segue abaixo um atendimento de Pai João a um Arcano. Simples como a relva, puro com as flores. Realizado recentemente (outubro de 2011).

Kazagrande

Meu filho Arcano, é necessário que você aprenda quais são os amigos que lhe cerca. Estar cercados de favores em vossas vidas é muito perigoso pois eles passam e acabam.

Não fazemos chorar aqueles que amamos e não precisamos chorar pelos desconhecidos.

O tempo de vocês é como um rio. Vocês nunca poderão tocar a mesma água duas vezes, pois a água que passou não volta mais. Então aproveite cada minuto da sua vida dentro do templo, pois esse tempo não se repetira.

Se você continua dizendo que não está com sintonia para esse ou aquele trabalho, você nunca terá tempo para trabalho nenhum. Pare de continuar dizendo que fará esse trabalho amanhã, porque o dia de amanhã não lhe pertence e esse dia pode não chegar a sua vida.

Mantenha a qualquer custos os amigos conquistados, pois eles lhe acompanharam a sepultura.

Pai João de Enoque

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