terça-feira, 7 de setembro de 2010

CARTA AO PEQUENINO LEITOR

Querida criança:

Aqui está mais um livrinho de história para você. Os heróis destas histórias não são dos nossos dias: têm quase dois mil anos...

Não aparecem aqui Pinóquio nem Branca de Neve com os Sete Anões. Não encontrará você tam bém Aladim com sua lâmpada maravilhosa, nem viajará com Gulliver ao país dos Gigantes. O Peque no Polegar, o Chapeuzinho Vermelho e o Camundon go Mickey não estão aqui presentes. Nem compare cem as nossas histórias Ali Babá, o Gato de Botas e o Pato Donald...

São outras, bem diferentes, as histórias que você vai ler. Foram contadas pelo Maior Amigo das Crianças. Sei que você conhece esse Grande Ami go... Sim, é Ele mesmo, é Jesus, nosso Divino Mestre.

Também Ele foi criança. Criança meiga e boa, gentil e pura, que encheu de alegria, amor e paz o Lar de Nazaré. Ele amou os pequeninos de Sua pátria, do mesmo modo que continua amando hoje, com ternura e proteção, as crianças do mundo inteiro.

Este livrinho quer mostrar aos seus olhos e ao seu coração de criança as lindas histórias que Jesus Nazareno contou ao povo da Palestina. Têm elas o nome de parábolas. São simples, educativas e belas e, mais que tudo, foram narradas por Aquele cuja vida é a mais linda história do mundo.

A palavra parábola quer dizer “comparação”.

Na língua que Jesus falava dizia-se “marshal”, que significa uma história, uma ilustração, uma breve narrativa, embora nem sempre signifique só isso.

Estas “Histórias que Jesus Contou” não se destinaram só aos homens da Judéia e aos meninos das praias de Cafarnaum e das colinas de Nazaré. Ele a contou sabendo que ficariam no Evangelho para sempre, para as gerações do futuro, para nós todos. Elas são também para você, sabe?

Não seria possível reunir aqui, num só volume todas as parábolas de Jesus. Várias delas, no entanto, aqui se encontram, expostas numa linguagem a alcance de sua inteligência, para que sua alma, recebendo estas lições do Divino Amigo, se conserve simples e boa, sincera e mansa, generosa e pura Para que sua vida, querida criança, seja uma permanente oferenda espiritual ao nosso querido Jesus nosso primeiro e maior Amigo.

Medite nelas, relei-as sempre. Procure entendê-las bem. Rogue ao Mestre Divino, que as contou na cidades de Israel, que dê à sua mente o perfeito entendimento delas, concedendo também ao seu coraçãozinho as bênçãos da boa-vontade e da perseverança, a fim de que você pratique os sagrados ensinamentos do Evangelho.

Hoje, você é uma criança... Amanhã, crescido será adulto. Que sua alma, filhinho, recebendo desde agora as lições imortais do Senhor, as conserve sem pre nas estradas de luta desta vida e nos caminhos luminosos da Eternidade.

No Grande Além, o Divino Pastor espera todos os corações que O amam e servem, amando e servindo à humanidade, com retidão de espírito e sincero devotamento.

Que Jesus abençoe sua alma de criança! E que você entenda, sinta e aplique os sagrados ensinos de Suas Parábolas, que foram contadas também para você...

A PARÁBOLA DO SEMEADOR

Parábolas

Escrito por (Mateus, capítulo 13º, versículos 1 a 9, e 18, a 23)

Um semeador, como fazia todos os dias, saiu de casa e se dirigiu ao seu campo para nele semear os grãos de trigo que possuía, honrando a Deus com seu trabalho honesto.

Começou a semeadura. Enquanto lançava as se-mentes ao campo, algumas caíram no caminho, na pequena estrada que ficava no meio da seara. Você sabe que os passarinhos costumam acompanhár os semeadores ao campo, para comer as sementes que caem ao chão? Pois, isso aconteceu em nossa histó ria. Alguns grãos caíram à beira da estrada, e os passarinhos, rápidos, desceram e os comeram.

O semeador, porém, continuou semeando. Outras sementes caíram num lugar pedregoso. Havia ali muitas pedras e pouca terra. As sementes nasceram logo naquele solo, que não era profundo. O trigo cresceu depressa, mas, vindo o sol forte, foi quei mado; e como suas raízes não cresceram por causa das pedras, murchou e morreu.

Outros grãos caíram num pedaço do campo onde havia muitos espinheiros. Quando o trigo cresceu, foi sufocado pelos espinhos e também morreu.

Uma última parte das sementes caiu numa terra boa e preparada, longe dos pedregulhos e das sarças.

E o trigo ali semeado deu uma colheita farta. Cada grão produziu outros cem, outros sessenta ou outros trinta... O próprio Jesus explicou a Seus discípulos a Pa rábola do Semeador.

As nossas almas, filhinho, são comparáveis aos quatro terrenos da história: “o terreno do caminho”, “o solo cheio de pedras”, “a terra cheia de espinhei ros e “o terreno lavrado e bom

Jesus é o Divino Semeador. A semente é a Sua Palavra de bondade e de sabedoria. E os diversos terrenos são os nossos corações, os nossos Espíritos, onde Ele semeia Seus ensinamentos, cheio de bon dade para conosco.

E como procedemos para com Jesus? Como res pondemos à Sua bondade? O modo como damos res posta ao amor cuidadoso do Divino Mestre é que nos classifica espiritualmente, isto é, mostra que espécie de terreno existe em nossa alma. Cada coração hu mano é uma espécie de terra, um dos quatro solos da parábola

Vejamos, então, filhinho:

Quando alguém ouve a palavra do Evangelho e não procura compreendê-la, nem lhe dá valor, apare cem as forças do mal (os Espíritos maldosos, desen carnados ou encarnados) e arrebatam o que foi se meado no seu coração, tais como os passarinhos co meram as sementes... E sabe de que modo? Fazendo com que a alma esqueça o que ouviu, dando outros pensamentos à pessoa, fazendo com que ela se desin teresse das coisas espirituais. E a alma fica indi ferente aos ensinamentos divinos. O coração dessa pessoa é semelhante ao “terreno do caminho”, onde a semente não chegou a penetrar. Um exemplo desse terreno é a criança que não presta atenção às aulas de Evangelho, ficando distraida durante as explica ções. Ou ainda, a criança que não gosta de ler os livrinhos que ensinam o caminho de Jesus...

E o segundo terreno, o pedregoso?

Esse terreno é a imagem da pessoa que recebe os ensinos de Jesus com muita alegria. São exemplos as pessoas entusiasmadas com o serviço cristão, ou as crianças animadas nas escolas de Evangelho, mas cuja animação dura pouco. Quando surgem as zom barias, as perseguições ou os sofrimentos, a alma, que é inconstante, abandona o caminho do Evan gelho. Um exemplo para você, filhinho: uma criança está freqüentando as aulas de Moral Cristã numa Escola Espírita. Está aprendendo os mandamentos divinos, os ensinos de Cristo, o caminho do bem, da pureza, da honestidade. Está muito contente com o que está estudando. Sente-se animada e feliz. Um dia, aparece um colega do colégio ou da vizinhança, dizendo que o “Espiritismo é obra do demônio”, que “os que freqüentam aulas de Evangelho nas escolas Espíritas ficam loucos e vão para o inferno”. E zom ba dele sempre que o encontra e lhe põe apelidos humilhantes. O nosso amiguinho não tem ainda fir meza de fé. Tem medo das zombarias dos colegas e dos vizinhos, que dizem que “somente sua religião éverdadeira” e lhe mandam “receber Espíritos na rua”. Amedrontado pela perseguição e pelos mote jos, o nosso irmãozinho deixa a Escola de Evange lho, onde estava começando a compreender a beleza do ensino de Jesus e as bênçãos do Espiritismo Cristão. Esse menino tinha o coração semelhante ao “terreno cheio de pedras”, onde a planta da verdade não pôde crescer e frutificar.

O terceiro solo é a “terra cheia de espinheiros “. É o caso das pessoas que recebem a palavra do Evan¬gelho, mas, depois abandonam o caminho cristão por causa das grandezas falsas do mundo e da sedu ção das riquezas. Ouviram o Evangelho, mas se inte ressaram mais pelos negócios, pelos lucros, pelas vaidades da vida, pelo cuidado exclusivo das coisas da terra. Há também, no mundo das crianças, exem plos desse terreno. São as crianças que conheceram, às vezes desde pequeninas, os ensinos de Jesus, mas, depois de crescidas, preferiram os maus companhei ros, as crianças sem Deus, e passaram a interessar -se somente pelos problemas de dinheiro ou de mo das, pelos ídolos do cinema ou do futebol. Não querem mais nem Jesus, nem lições de Evangelho. Só pensam em automóveis de luxo, sonham com caminhões, imaginam-se ricos “quando crescerem”... A princípio, sabiam repartir com os pobres o seu di nheirinho, porém, agora só pensam emjuntá-lo: acari dade morreu nos seus corações. O mundo, com suas riquezas falsas (que terminam com a morte), seduziu suas almas e sufocou a plantinha de Deus em seus espíritos. Trocaram Jesus pelos sonhos e ambições de carros de luxo, de figurinos, de roupas elegantes, de campos de esporte, de concursos de beleza, de grandezas sociais... A plantinha de Deus foi sufoca da pelos espinhos do egoísmo e das ilusões da vida material. E morreu...

O quarto terreno, “a terra lavrada e boa, é o símbolo do coração que escuta o Evangelho, pro curando compreendê-lo e praticá-lo na vida. E a alma que estuda a palavra do Senhor, percebendo que está neste mundo para aprender a Verdade e o Bem. E, assim, dá frutos de bondade e eleva-se para Deus. Abandona seus vícios e maus hábitos, dedicando-se à prática das virtudes, guardando a fé no coração, socorrendo carinhosamente os necessitados e sofredores e buscando os conselhos de Deus no Evangelho de Cristo.

O coração de uma criança verdadeiramente cris tã é o bom terreno da parábola: cada semente de Jesus se transforma em trinta, sessenta ou cem bên çãos de bondade, de fé e de auxílio ao próximo. O coração dessa criança deseja conhecer sempre mais e melhor os ensinos cristãos. E se esforça sinceramen te para fazer a Vontade Divina: amar e perdoar, crer e ajudar, aprender e servir.

Filhinho, aí está a Parábola do Semeador. Me dite nela. Que você, guardando a humildade de cora ção, se esforce para ser, se ainda não o é, o bom terreno, que recebe os grãos de luz do Divino Semea dor e dá muitos frutos de sabedoria e bondade

A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

Parábolas

Escrito por (Lucas, capítulo 10º, versículos 25 a 37)

Um dia, um pobre homem descia da cidade de Jerusalém para uma outra cidade, Jericó, a trinta e três quilômetros daquela capital, no vale do Rio Jordão.

A estrada era cheia de curvas. Nela havia mui tos penhascos, em cujas grutas era comum se refu giarem os salteadores de estradas, que naquele tem po eram muitos e perigosos.

O pobre viajante foi assaltado pelos ladrões. Os salteadores usaram de muita maldade, pois, além de roubarem tudo o que o pobre homem trazia, ainda o espancaram com muita violência, deixando-o quase morto no caminho.

Logo depois do criminoso assalto, passou por aquele mesmo lugar um sacerdote do Templo de Sa lomão. Esse sacerdote vinha de Jerusalém, onde pos sivelmente terminara seus serviços religiosos, e se dirigia também para Jericô. Viu o pobre viajante caido na estrada, ferido, meio morto. Não se deteve, porém, para socorrê-lo. Não teve compaixão do pobre ferido, abandonado no chão da estrada. Apesar dos seus conhecimentos da Lei de Deus, era um homem de coração muito frio. Por isso, continuou sua viagem, descendo a montanha, indiferente aos sofri mentos do infeliz...

Instantes depois, passa também pelo mesmo lu gar um levita. Os levitas eram auxiliares do culto religioso do Templo. Esse levita não procedeu melhor do que o sacerdote. Também conhecia a Lei de Deus, mas, na sua alma não havia bondade e ele fez o mesmo que o padre, seu chefe. Viu o ferido e passou de largo.

Uma terceira pessoa passa pelo mesmo lugar. Era um samaritano, que igualmente vinha de Jeru salém. Viu também o infeliz ferido da estrada, mas, não procedeu com: o sacerdote e o levita. O bom samaritano desceu do seu animal, aproximou-se do pobre judeu e se encheu de grande compaixão, quan do o contemplou de perto, com as vestes rasgadas e sangrentas e o corpo ferido pelas pancadas que rece bera.

Imediatamente, o bondoso samaritano retirou do seu saco de viagem duas pequenas vasilhas. Uma era de vinho, com ele desinfetou as feridas do pobre homem; outra, de azeite, com que lhe aliviou as do res. Atou-lhe os ferimentos e levantou o desconhe cido, colocando-o no seu animal. Em seguida, condu ziu-o para uma estalagem próxima e cuidou dele co mo carinhoso enfermeiro, durante toda a noite.

Na manhã seguinte, tendo de continuar sua viagem, chamou o dono do pequeno hotel, entregou-lhe dois denários (*) e recomendou-lhe que cuidasse bem do pobre ferido:

— Tem cuidado com o pobre homem. Se gastares alguma coisa além deste dinheiro que te deixo, eu te pagarei tudo quando voltar.

Jesus contou esta parábola a um doutor da lei que Lhe havia perguntado:

— Mestre, que devo fazer para possuir a Vida Eterna?

Jesus lhe respondeu que era necessário amar a Deus de todo o coração, de toda a alma, de todas as forças e de todo o entendimento; e também amar ao próximo como a si mesmo.

O doutor da lei, apesar de sua sabedoria, pergun tou ao Divino Mestre quem é o próximo. Então, Jesus lhe contou a Parábola do Bom Samaritano. Termina da a história, o Senhor perguntou ao sábio judeu:

— Qual dos três (o sacerdote, o levita ou o sa maritano) te parece que foi o próximo do pobre ho mem que caiu em poder dos ladrões?

— Foi o que usou de misericórdia para com ele —respondeu o doutor.

— Vai e faze o mesmo — disse-lhe o Divino Mestre.

Entendeu, filhinho, a Parábola do Bom Samaritano?

O doutor da lei queria saber quem ele deveria considerar seu próximo, a fim de amar esse mesmo próximo. Mas, Jesus lhe respondeu indiretamente àpergunta, com outra questão: “Quem foi o próximo do homem ferido?” Jesus indagou do doutor da lei quem soube ter amor no coração para o desconhecido pade¬cente da estrada. E o doutor, que era um judeu (os judeus odiavam os samaritanos), confessou que foi o samaritano.

“Vai e faze o mesmo” — é a ordem eterna do Mestre. O nosso próximo, filhinho, é qualquer pessoa que esteja em nosso caminho; é qualquer alma neces sitada de auxílio; é aquele que tem fome, que tem sede, que está desamparado, que está sofrendo na prisão ou no leito de dor...

Que você, meu filho, imite sempre o Bom Sama ritano. Esteja sempre pronto para socorrer quem so fre, como o bondoso samaritano fez, sem qualquer indagação ao necessitado.

Que você faça o mesmo, como Jesus pediu. Nun ca pergunte, nunca procure saber coisa alguma da quele que você pode e deve auxiliar. Não se interesse em saber se o pobre, se o doente, se o orfãozinho necessitado é espírita ou católico, se é judeu ou pro testante, se é pessoa branca ou de cor. Não se interes se em saber quais as idéias que ele professa ou a politica que ele acompanha. Não cultive no coração zinho os odiosos preconceitos de raça, de religião ou de cor. Que você olhe apenas as feridas de quem sofre, para pensá-las. Que você enxergue somente a dor do próximo, para aliviá-la.

Imite o Bom Samaritano, filhinho. É Jesus quem pede ao seu coraçãozinho: “Vá e faça o mesmo”, sempre, em toda parte, com quem quer que seja.

Este é o caminho da Vida Eterna, com Jesus.

(*) O denário era uma moeda romana, em curso na Pales tina no tempo de Jesus.

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