quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Desencarnações coletivas

Quando os aviões chocaram-se contra as torres gêmeas do World Trade Center nos EUA, curiosos e jornalistas narraram muitas histórias sobre pessoas que deveriam estar nas torres, naquela manhã e não estavam. Citarei três breves narrativas.


1ª Num dos escritórios do prédio, havia um jovem funcionário que resolveu comprar lanche para partilhar com os colegas, pois, há alguns meses ele vinha comendo os lanches apenas e, naquela manhã de 11 de setembro resolveu ser gentil e dar a sua cooperação, por isso, atrasou-se e não morreu no atentado.


2ª Um alto executivo, vaidoso, cuidador da aparência, resolveu por sapatos novos, um belo par de bico longo, quadrado afinado, era legítimo couro de jacaré; como era novíssimo o sapato fez enorme bolha e ele resolveu parar numa farmácia para comprar um curativo, por isso, atrasou-se e não morreu no atentado.

3ª Era o primeiro dia de aula do filho do chefe de um dos escritórios do prédio e, este pai, por nada no mundo queria perder a cena de ver o filho entrando na primeira escola de sua vida de estudante, por isso, atrasou-se e não morreu no atentado.
Qual seria o fator comum destas três histórias? Vamos refletir juntos: Na questão 737 de O Livro dos Espíritos, o professor Rivail questionou a espiritualidade: Com que fim fere Deus a humanidade por meios de flagelos destruidores? Os amigos espirituais responderam: para fazê-la progredir mais depressa.

A destruição é uma necessidade para regeneração moral dos Espíritos. O Espírito é sempre o árbitro da própria sorte, podendo prolongar os sofrimentos pela permanência no mal, ou suavizá-los e anulá-los pela prática do bem". (O Céu e o Inferno)

As condições pára apagar os resultados de nossas faltas resumen-se em três: Arrependimento, expiação e reparação. O sofrimento é inerente as imperfeições.

Toda a imperfeição assim como toda a falta traz consigo o próprio castigo nas consequências naturais e, inevitáveis, assim a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou indivíduo.

Podendo todo o homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode, igualmente, anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade. A cada um segundo suas obras, no céu como na Terra: Tal é a Lei da Justiça Divina (O Céu e o Inferno).

As desencarnações podem ser naturais, provocadas e violentas. As naturais, decorrem do esgotamento dos órgãos e representam o encerramento programado das existências corporais, segundo a Lei de Causa e Efeito e o planejamento reencarnatório do ser.

Os extremos da vida (infância e velhice) são os períodos da existência em que a desencarnação se processa geralmente com maior facilidade. Há almas reunidas em desencarnes no mesmo momento temporal, porque possuem vínculos, muitas vezes datados de épocas anteriores, e as circunstâncias de retorno à vida espiritual estava prevista pela Lei de Causa e Efeito.

Trata-se da universalidade de resultados: criaturas reuniram-se, reúnem-se e se reunirão para atuarem e progredirem juntas, seja para reencarnar, seja para desencarnar. Há, portanto, provas coletivas. (Obras Póstumas - As Expiações Coletivas)

As violentas encampam a ocorrência de catástrofes naturais (enchentes, terremotos, maremotos, ciclones, erupções, desmoronamentos, acidentes aéreos, automobilísticos, ferro ou aquaviários, entre outros), sem desconsiderar a ação ou omissão humana, em face da ganância e da corrupção, podem estar entre as causas que geram tais efeitos. As provocadas resultam da ação humana no espectro da criminalidade e da agressividade (assassínio, atentados, guerras).

O professor Carlos Toledo Rizzini em sua obra Evolução para o Terceiro Milênio, classifica as desencarnações em: Desencarnação Lenta: O Espírito passa por uma separação gradual e sem choques. Ex.: velhice e doenças prolongadas. Desencarnação Súbita: O Espírito é apanhado desprevenido, sem preparo. Desencarnações coletivas: Os Espíritos com débitos semelhantes reúnem-se para uma expiação coletiva.

O conhecimento que nos tiver sido possível adquirir das condições da vida futura exerce grande influência em nossos últimos momentos; dá-nos mais segurança, abrevia a separação da alma.

Atitude da família - Leon Denis diz: "no estado de perturbação, a alma tem consciência dos pensamentos que se lhe dirigem: os pensamentos de amor e caridade, as vibrações dos corações afetuosos brilham para ela como raios na névoa que a envolve; ajudando-a a soltar-se dos últimos laços que a acorrentam à Terra, a sair da sombra em que está imersa"

A prece pelos desencarnados têm por fim, não apenas proporcionar-lhes uma prova de simpatia, mas também de ajudá-los a se libertarem das ligações terrenas, abreviando a perturbação que segue sempre à separação do corpo, e tornando mais calmo o seu despertar. (ESE, cap.28, item 59).

Emmanuel, espírito, esclarece: "Nós criamos a culpa e nós mesmos engenhamos os processos destinados a extinguir-lhes as consequências. E a sabedoria divina se vale dos nossos esforços e tarefas de resgate e reajuste a fim de induzir-nos a estudos e progressos sempre mais amplos no que diga respeito a nossa própria segurança.

É por esse motivo que, de todos as calamidades terrestre, o Homem se retira com mais experiência e mais luz no cérebro e no coração, para defender-se e valorizar a vida."

Chico Xavier, no livro Pede licença, capítulo "Desencarnações Coletivas" pergunta: Por que Deus permite a morte aflitiva de tantas pessoas enclausuradas, como nos incêndios? André Luiz no livro “Ação e Reação” capítulo 18 esclarece:

Piratas que afundaram e saquearam embarcações indefesas, provocando inúmeras mortes, mais tarde, são reunidos pela lei de atração em viagens aéreas onde a aeronave cai provocando a morte de todos eles. Guerreiros que no passado arrasaram lares, matando mulheres e crianças sob os escombros de suas casas, são, da mesma forma atraídos pela lei de causa e efeito e renascem em áreas propícias a terremotos ou mal semelhante e sucumbem nestas condições.

Narra o querido professor José Raul Teixeira que em 17 de dezembro de 1961, havia, na cidade de Niterói - Rio de Janeiro, um famoso circo. O pai de Raul prometera-lhe que ao voltar do trabalho, à tardinha, traria o dinheiro para a entrada do circo.

Raul esperou, esperou, passou à tardinha, chegou à noite e quando o pai retorna, já bem mais tarde, não havia mais tempo para assistir o espetáculo. Raul ficou zangado com o pai, corou muito.

Depois, chega a notícia: o circo pegara fogo e centenas de crianças, das mais diversas idades morreram carbonizadas. O atraso do pai do Raul foi providencial, pois, segundo o que aprendemos com a Doutrina Espírita, ele, Raul não estava comprometido com a lei para esta situação de desencarne.

Poderemos ler no livro psicografado por Chico Xavier, ditado pelo Espírito de Humberto de Campos que aqueles que morreram no incêndio do circo, em Niterói, eram os mesmos Espíritos que no ano 177, na Gália, queimaram cerca de 1000 crianças e mulheres cristãs, na França, na época do Império Romano.

Ainda mais um fato, uma família morre queimada num violento acidente automobilístico e os espíritos esclarecem: que aqueles que pereceram neste acidente, onde o carro pegou foro, eram os mesmos espíritos, que um dia por vingança contra seu vizinho, na madrugada, quando o vizinho dormia, colocaram fogo na casa, matando toda a família.

As lições que tiramos destas narrativas: a importância de buscarmos o conhecimento do porquê da vida e obrarmos cada vez mais de acordo com a Lei Divina e com o Evangelho do Mestre fazendo ao outro tudo aquilo que nós gostaríamos que o outro nos fizesse.

Chico Xavier, ainda nos alerta que quando a justiça divina vem cobrar as nossas dívidas e nos encontra na obra do bem, recebemos uma moratória divina.

Observando ainda, quando as desencarnações coletivas acontecem, podemos e devemos ajudar, com as nossas preces rogando ao Divino Mestre Jesus que jorre sua luz amorosa, tanto sobre os familiares, como sobre as "vítimas", pois, prece é um poderoso recurso benfeitor para os que sofrem.


Texto extraído da palestra Desencarnações Coletivas
proferida por Helena Bertoldo da Silva, na Sociedade
Espírita Novo Horizonte, em Capão Novo, em 21/01/2012

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Francisco de Assis e o sultão Al-Kamil

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1.Não há dúvida nenhuma de que o cristianismo é actualmente a religião mais perseguida no mundo. Há bastante tempo que se vai concretizando o que parece ser um plano para acabar com a presença dos cristãos no Médio Oriente. Quase desapareceram da Palestina e vão-se extinguindo na Síria e no Iraque e mais lentamente no Egipto e no Líbano. Se em 1950 os cristãos na Palestina representavam à volta de 15 por cento da população, actualmente serão uns 2 por cento.


O relatório da Open Doors (Portas Abertas), com a Lista Mundial da Perseguição referente ao ano de 2018, é dramático, pois a perseguição aos cristãos no mundo continua a crescer. Só na lista dos primeiros 50 países onde os cristãos vêem os seus direitos mais limitados pelo facto de serem cristãos, o seu número eleva-se a 245 milhões, cifra que deve ser muito maior, já que pelo menos em 73 países do mundo os níveis de perseguição são "altos", "muito altos" ou "extremos": entre Novembro de 2017 e Outubro de 2018, 3731 cristãos foram mortos por causa de seguirem Jesus e 1847 igrejas foram atacadas.


A Ásia e a África são os continentes mais hostis aos cristãos. Um em cada nove cristãos sofre perseguição em todo o mundo; na Ásia, um em cada três e na África, um em cada seis. Na Lista da Perseguição Mundial, os três primeiros lugares são ocupados pela Coreia do Norte (há 17 anos que ocupa o primeiro lugar), pelo Afeganistão e pela Somália, respectivamente. A Nigéria, onde houve cerca de 2000 cristãos mortos por causa da sua fé, ocupa o décimo quarto lugar da lista dos 50 países com maior perseguição. O Paquistão é considerado o país onde a violência anticristã atinge o seu nível máximo. Causa preocupação o que se passa na Índia por causa do radicalismo hindu e na China sobretudo por causa da posição do Partido Comunista em relação à religião. As novidades na Lista dos 50 países são o Nepal e o Azerbaijão. A situação na Líbia, que ocupa a sétima posição na escala, causa particular preocupação. Com a retirada do autoproclamado Estado Islâmico, os níveis de perseguição no Iraque e na Síria desceram, embora continuem a ocupar lugares muitos altos na Lista: oitavo e décimo quinto lugares, respectivamente.


Entretanto, na Europa impõe-se frequentemente um "secularismo agressivo", e, com honrosas excepções, para França e o Reino Unido, é gritante o clamoroso silêncio do Ocidente democrático face a esta situação. Perante o aumento dramático da perseguição dos cristãos no mundo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico impulsionou um Relatório sobre a situação, que será apresentado em Abril. "A perseguição dos cristãos é frequentemente um sinal explícito e alarmante da perseguição das minorias", assegurou o Ministro Hunt, que reconheceu que "podemos e devemos fazer algo mais".


2. Neste ano de 2019, há, entre muitas outras, uma data altamente importante: em 1219, Francisco de Assis, em plena quinta cruzada, foi ao encontro do sultão do Egipto, o sultão Al-Kamil, faz este ano 800 anos. Recordando este acontecimento histórico, com a sua mensagem de tolerância, diálogo e compromisso com a paz, o arcebispo de Lahore, no Paquistão, também presidente da Comissão Nacional para o Diálogo Inter-religioso e o Ecumenismo, da Conferência Episcopal do Paquistão, presidiu, no passado dia 12, a um encontro de cristãos e muçulmanos. Aí foi lembrado que Francisco e Al-Kamil "defenderam a paz e a tolerância no meio da atmosfera de guerra e conflito durante as cruzadas. Deram um exemplo de diálogo inter-religioso e de compreensão mútua".


É neste espírito que o Papa Francisco assumiu como um dos desafios do seu pontificado o compromisso com o diálogo inter-religioso, como mostrou a sua viagem ao Egipto e, imediatamente a seguir ao seu encontro com os jovens nas Jornadas Mundiais da Juventude, no Panamá, onde se encontra, vai deslocar-se à capital dos Estados Árabes Unidos, Abu Dhabi, de 3 a 5 de Fevereiro próximo, para participar num encontro inter-religioso sobre a "Fraternidade Humana". E repete constantemente que quer visitar o Iraque, por onde em Dezembro passado andou o Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, que celebrou o Natal com várias comunidades cristãs.


Evidentemente, o diálogo não pode ser unidireccional, tem de haver reciprocidade, sendo, por isso, razoável e legítimo esperar que concretamente os muçulmanos que vivem no Ocidente denunciem as atrocidades cometidas contra os cristãos nomeadamente nos países de maioria islâmica. O que alguns já fazem, felizmente. E a Turquia acaba de anunciar a construção da primeira igreja cristã desde 1923, a começar em Fevereiro.


3. Neste contexto, seja-me permitido, mais uma vez, sublinhar as condições irrenunciáveis para um diálogo tão urgente como difícil, concretamente para o diálogo islâmico-cristão, que aqui tenho repetido.


3. 1. Quando se olha para a situação do mundo, é o teólogo Hans Küng que tem razão: "Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões sem critérios éticos globais. Não haverá sobrevivência do nosso planeta sem um ethos (atitude ética) global, um ethos mundial".


3. 2. A religião tem na sua base a experiência do Sagrado. Crente é aquele que se entrega confiadamente ao Mistério, ao Sagrado, Deus, esperando dele sentido último, salvação. De facto, as religiões aparecem num momento segundo: são manifestações e encarnações, necessárias e inevitáveis, da relação das pessoas com Deus e de Deus com as pessoas. São mediações, construções humanas e, por isso, têm do melhor e do pior, entendendo-se, também a partir daqui, que o diálogo inter-religioso tem de assentar nalguns pilares fundamentais.


Todas as religiões, na medida em que não só não se oponham ao humano, mas, pelo contrário, o dignifiquem e promovam, têm verdade. Outro pilar diz que todas são relativas, num duplo sentido: nasceram e situam-se num determinado contexto histórico e social, e, por outro lado, estão relacionadas com o Sagrado, o Absoluto, Deus. Estão referidas ao Absoluto, Deus, mas nenhuma o possui, pois Deus enquanto Mistério último está sempre para lá do que possamos pensar ou dizer. Precisamente porque nenhuma possui Deus na sua plenitude, devem dialogar, para, todas juntas, tentarem dizer menos mal o Mistério, Deus, que a todas convoca. Assim, por paradoxal que pareça, do diálogo fazem parte também os ateus e os agnósticos, porque, estando de fora, mais facilmente podem ajudar os crentes a ver a superstição e a inumanidade que tantas vezes envenenam as religiões.


Exigência intrínseca da religião na sua verdade é a ética e o compromisso com os direitos humanos e a realização plena de todas as pessoas. A violência em nome da religião contradiz a sua natureza, que é a salvação. Face a um Deus que mandasse matar em seu nome só haveria uma atitude digna: ser ateu.


Dois princípios irrenunciáveis: a leitura não literal, mas histórico-crítica, dos Livros Sagrados, e a laicidade do Estado, que não deve ter nenhuma religião, para garantir a liberdade religiosa de todos. Evidentemente, a laicidade não se pode de modo nenhum confundir com o laicismo. De facto, a religião tem de ter lugar no espaço público, pois é uma dimensão do humano e faz parte da cultura.
Padre e Professor de Filosofia

domingo, 17 de fevereiro de 2019

JESUS

Os fariseus avançaram e começaram a discutir com Jesus, buscando dele um sinal do céu para testá-lo. Ele suspirou da profundidade de seu espírito e disse: “Por que essa geração procura um sinal? Em verdade, em verdade vos digo que nenhum sinal será dado a esta geração. ”Marcos 8: 11-12
Jesus “suspirou das profundezas do seu espírito”. Está claro que não foi um suspiro comum. Foi um suspiro que foi mais do que emoção. Foi da “profundidade do seu espírito”. O que estava acontecendo com Jesus?
Este suspiro revela uma dor e sofrimento em Jesus que era de natureza espiritual. Foi uma dor e sofrimento que veio como resultado de ser rejeitado por outros. Mas não foi só que Ele estava ferido ou ofendido, porque Ele não estava. O sofrimento que ele sentiu foi do seu amor. Ele veio como resultado de Ele amar os fariseus profundamente e perceber que eles estavam rejeitando a graça que Ele queria lhes oferecer. Isso não doeu porque Jesus era sensível a ser ferido; em vez disso, doeu por causa de seu amor ilimitado por eles.
É interessante que raramente pensemos no amor de Jesus pelos fariseus. Muitas vezes, só pensamos que Ele é duro com eles e os condena. Mas toda palavra forte dirigida a eles visava convertê-los por amor. Foi uma tentativa, por parte dele, de tirá-los de sua indiferença e rejeição da graça. Foi um ato de amor.
Reflita, hoje, sobre os "fariseus" em sua vida. Talvez você não encontre aqueles que são orgulhosos ou arrogantes, ou talvez faça isso. Os fariseus em sua vida são aqueles que rejeitam o dom gratuito de amor que você tenta oferecer. Eles são aqueles que estão tão magoados, confusos ou amargurados que acham muito difícil deixar o amor entrar. Eles lançam todo tipo de defesa que existe para evitar deixar seu amor entrar. E quando você vê essa rejeição, isso dói. Pode então tentá-lo a ter raiva ou condenação.
Mas como você deve reagir? Você deveria fazer como Jesus fez! Você deve suspirar e "suspirar profundamente". Você deve sentir a dor de sua rejeição e sentir uma tristeza sagrada por eles. Às vezes, você pode precisar confrontá-los como Jesus fez. Mas nunca fora do seu orgulho ferido. Você deve confrontar apenas porque você julga que é a melhor maneira de conquistá-los. Você saberá que isso é um ato de amor quando você sentir aquele profundo suspiro dentro de seu espírito.
Senhor, ajuda-me a amar com um amor puro e santo. Ajude-me a sentir uma tristeza santa pelos meus pecados e pelos pecados dos outros quando encontro os seus pecados. Deixe aquela tristeza santa me obrigar a amar mais profundamente. Jesus eu confio em vós.






Evangelho segundo S. Marcos 8,11-13.

aquele tempo, apareceram alguns fariseus e começaram a discutir com Jesus. Para O porem à prova, pediam-Lhe um sinal do céu.Jesus suspirou do fundo da alma e respondeu-lhes: «Porque pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: não se dará nenhum sinal a esta geração».Depois deixou-os, voltou a subir para o barco e foi para a outra margem do lago.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Ouvir



Voltamos a falar de Mateus, o publicano que, durante algum tempo, exerceu suas atividades em Cafarnaum, cidade que margeava o Mar da Galiléia. Ele era também chamado, como já dissemos alhures, de Levi. Tinha muitas pretensões no mundo dos negócios. Como cobrador de impostos do Império Romano, tornara-se independente.


No entanto, essa independência o tornara ainda mais devedor do seu próprio povo, porquanto os romanos não tiravam do tributo arrecadado alguma quantia ou fração que correspondesse ao trabalho de seu funcionário. Quando se tratava de país estrangeiro, era aumentado o peso da arrecadação e o aumento seria do publicano.




Eis aí o porquê do ódio que seus patrícios manifestavam aos publicanos, que se faziam amigos dos romanos, tirando o pão da boca de famintos para seus desperdícios em festas impróprias à dignidade de um país. Também Zaqueu era um desses publicanos.




Dar um banquete a alguém, naquela época, era manifestação de honra à personagem escolhida, geralmente pessoa de alta hierarquia social e política. No caso de Mateus e Zaqueu, ambos ofereceram banquetes a Jesus, tendo o Mestre comparecido.



O motivo era a admiração que tinham pelo Mestre, a honra de recebê-Lo em casa e, principalmente, a acusação da consciência por viverem às custas dos sofrimentos alheios. Era, em grande parte, a força do arrependimento. É bom notar que, no Evangelho, figure Zaqueu disposto a repor tudo aquilo que ele tinha tirado do seu próprio povo. E o próprio Cristo disse sobre o transformado lar de Zaqueu: Nesta casa hoje entrou a salvação!


O certo é que os dois publicanos, Zaqueu e Levi, depois que conheceram Jesus, distribuíam com amor os recursos que possuíam, dando a todos tudo o que podiam. Mateus havia encontrado um império maior que o dos romanos, o Império do Reino de Deus, um símbolo mais significativo que a águia, o do coração, que manifestava sem limites a vontade de ajudar, pelo prazer de ser útil.


Mateus já se cansara de ouvir abafadas revoltas contra os opressores romanos, de cujo sistema fazia parte. A multiplicação dos lamentos do povo já estava torturando seus mais profundos sentimentos. Não era isso que ele queria, na verdade. Tanto que foi entendido pelo Divino Mestre, que o chamou, tirando-o da imposição de Roma para a liberdade, para o prazer de sentir a felicidade dos outros, dando tudo o que podia para os necessitados.


A cultura de Mateus ajudou-o muito na disseminação do Evangelho. Era conhecedor dos costumes e o exercício de lidar com pessoas de todas as classes fez desenvolver nele o dom de falar e a disciplina de ouvir.


O publicano era escolhido, por sabedoria dos romanos, no seio do próprio povo dominado, entre os mais abastados e de família mais ilustre. Bem, esqueçamos Mateus como publicano e vamos falar de Mateus renovado, que pergunta e ouve sobre a renovação doutrinária de Jesus.


Intrigava ao discípulo a maneira mais apropriada de ouvir os outros. Cada pessoa era um mundo diferente, com suas idéias próprias. Será que tínhamos a obrigação de ouvir os outros? Não seria isso uma violência contra nós mesmos, não seria violentar o organismo, comendo um alimento cujo sabor não nos agradava? Sempre remoía tais idéias.


Aproxima-se a noite e Mateus procura a casa doutrinária onde todos já se encontravam reunidos. Bartolomeu, de pé, começa uma oração. Mateus senta-se com a sutilidade que a educação exige, com a mente agitada de vontade de perguntar a Jesus acerca de suas dúvidas. Ao seu lado uma fala amiga, de André, propõe: Mateus, tu foste o último a chegar, sê o primeiro a inquirir.


Como todos permaneciam em silêncio, o ex-publicano levanta-se de mansinho, olha para o Mestre que já o fitava com cordialidade, e acentua, com discrição: Jesus, por gentileza, responde-nos, se a hora for oportuna, qual é a melhor maneira e o modo mais adequado de ouvir as pessoas.


Como proceder, meu Senhor, diante de irmãos cuja fala não agrada, que vivem pensando que somente eles estão certos e que devemos aceitar o que eles aceitam como verdade. Talvez eu não esteja preparado para propor esta noite o que realmente quero ouvir. Mas é bem provável que já te inteiraste das minhas intenções.


O Nazareno, afetuoso e simples, assinala com sabedoria: A fala, Mateus, é, por assim dizer, um dom extraordinário que a vida nos outorgou como um bem de Deus. O ser humano se distingue dentre os demais viventes pela harmonia da fala e o modo mais claro de comunicação. Destarte, ele tem imenso campo para se disciplinar.


A força da conversa pode pairar em altitudes inconcebíveis para os que andam na Terra, constituindo um instrumento da alma para grandes realizações. Podes envolver teu verbo com a força de Deus e curar enfermos, consolar os tristes e dar rumo aos perdidos, podes desfazer motins, paralisar guerras e criar ou despertar, nas pessoas, os mais louváveis ideais.


Porém, sem a educação que corresponde à lei do Pai Celestial, a fala pode dar início, igualmente, a terríveis preocupações. Se te aprouver entrar no auto adestramento da tua fala, se quiseres dela fazer melodias de encanto e de esperança, não deixes que falte em ti o entusiasmo pelo aperfeiçoamento em tudo.


E, antes de falares alguma coisa, começa a atingir, com bastante critério, o reino da lua mente, para que dela saiam os pensamentos já com certa civilização. A nossa boca constitui uma glória da natureza. Fazei com que ela possa dar música aos teus pensamentos, para que estes sejam de paz e de felicidade.


Começa a fazer o bem com a palavra, para que o bem aporte a ti, obedecendo à lei do intercâmbio. Os ouvidos vieram por consequência da fala. Se não fossem eles, ela não existiria. Se saber falar é uma ciência difícil, ouvir exige maiores esforços. A meditação parecia a preocupação de todos os discípulos.


Mateus, que começou o assunto, dava mostras de muita alegria. Todavia, permanecia calado. O Mestre deu continuação, com cordialidade: Mateus! A conversa girou mais sobre a fala, parecendo que estamos fugindo à tua pergunta. No entanto, essa não é a intenção, é somente por estarem ligados os dois dons, de falar e de ouvir.


Um não pode existir sem o outro. Tu achas imprudência para contigo mesmo ouvir e dar atenção a assuntos que não dizem respeito a teus ideais. Na verdade, tua vontade é livre para ouvir ou falar. No entanto, se não podes ceder alguma coisa para teus interlocutores, e quando for a tua hora de dizer? Quem poderá te ouvir?


Existe em nós uma força de seleção daquilo que falamos e do que ouvimos dos outros. E essa escolha haverá de funcionar permanentemente, porque sempre estamos ouvindo ou querendo falar coisas com que as boas maneiras não concordam. Não existem somente coisas imprestáveis na fala alheia. Observa melhor que notarás muita, mas muita coisa boa.


Com toda a educação que podes atingir, perante tua consciência e perante Deus sempre há algo a corrigir. Certamente muitas pessoas vão ser testemunhas da tua conduta e da tua conversa, e quem sabe se não estão fazendo grande esforço para te suportarem? Faze o mesmo, porque ninguém sobe, meu filho, sem sacrifício. Todo tipo de embelezamento do coração e mesmo do corpo carece de labor.


Não vamos nos sentar o dia todo com um irmão desajustado para falar e ouvi-lo, crendo que essa é a vontade de Deus, que essa paciência é filha da caridade. Notadamente que não! Poderemos ouvi-lo, até onde o tempo não se torne um desperdício. Todos nós sabemos e conhecemos os momentos de ouvir e de desconversar com habilidade ajudando ainda a quem fala, para que sejam refreados alguns desequilíbrios.


Poucos notaram que o Cristo havia parado de falar, dada a concentração nas palavras ouvidas, que eram levadas à razão e em seguida entregues às sensibilidades, para que pudessem alimentar com abundância a fome que as pedia.


Mateus pensava, pensava no que tinha ouvido do Mestre antes, uma grande verdade: Não façais aos outros o que não quereis que os outros vos façam. Se não podemos viver sós, temos de respeitar os direitos dos semelhantes, e o respeito podia começar por saber ouvir, até bem entendido, os limites que a verdadeira caridade delimitar.


E neste pensar coletivo dos discípulos, desenvolvendo a extensão sem limites do raciocínio, o auditório volta a ouvir o Mestre: Mateus! Nós poderemos ajudar os nossos irmãos em situações difíceis, ouvindo-os. Nós poderemos tranquilizar os desesperados, pelo ouvido. Nós poderemos amenizar as cores dos doentes, ouvindo suas histórias.


Porém, é necessário, acima de tudo, saber ouvir, pois esta é uma das grandes ciências só dominada pelos anjos. Os homens estão a caminho, quando não esmorecem na educação e na disciplina, permanentemente. Saber falar, Mateus, é muito bom, mas saber ouvir é bom demais.


Desfaz-se a assembléia, toda enriquecida de conhecimentos espirituais. Rangem os gonzos, a porta se abre e os primeiros raios de sol anunciam para os homens, nesse falar sem dizer, a hora de trabalhar.
Compilado do livro Ave Luz
Autor: Shaolin (espírito) João Nunes Maia