Na
época do descobrimento do Brasil, a região que hoje constitui o estado
do Rio Grande do Sul era habitada pelos índios minuanos, charruas e
caaguaras.
Somente a partir de 1610 os padres
jesuítas espanhóis começaram a se estabelecer na área, organizando os
aldeamentos de índios civilizados, as famosas missões ou reduções.
Foram eles que introduziram no território as primeiras cabeças de gado,
e o índio das missões foi o primeiro vaqueiro do Rio Grande do Sul.
Este trabalho civilizador e
evangelizador dos jesuítas espanhóis se concretizou naquilo que ficou
conhecido como Os
sete Povos das Missões.
O gaúcho primitivo teve origem étnica
na mestiçagem entre portugueses, espanhóis e índios. A partir de 1740
iniciou-se o povoamento sistemático com a vinda dos açorianos e
moradores de Laguna, hoje Santa Catarina. Em 1824 chegaram os
imigrantes alemães e em 1870 os italianos. Os portugueses povoaram mais
o litoral.
O território gaúcho ficou como uma
ponta de lança do Brasil para o sul, além do meridiano de
Tordesilhas,(*) em vista das terras conquistadas por seus habitantes.
Estes passaram então a defender nossa fronteira contra os espanhóis,
acumulando ao longo de sua história uma tradição de lutas e de
heroísmo.
Com o apoio dos portugueses,
paulistas, açorianos, catarinenses e índios puseram fim às pretensões
dos vizinhos argentinos e uruguaios, ocupando o território do atual Rio
Grande do Sul.
Fazendeiros: defensores da fronteira do Sul
O gado e os cavalos vindos das
Missões jesuítas viviam soltos, à lei da natureza, pelas coxilhas
gaúchas.
O homem defendeu a terra e dedicou-se
à pecuária, em torno da qual tudo girava. Não se concebe o gaúcho sem o
cavalo, brasileiro típico da fronteira sul.
De início, a caça ao gado, os
tropeiros, as invernadas. Mais tarde as estâncias, as fazendas, as
charqueadas, os rodeios.
Diante do inimigo hispânico ao sul e
a oeste, o gaúcho estava a serviço dos reis portugueses, defendia nosso
País e suas estâncias ou querências. Os interesses dos fazendeiros
harmonizavam-se com os do Estado nas linhas fronteiriças. As pressões
dos vizinhos criaram no gaúcho o espírito de disciplina, o respeito à
autoridade e fizeram dos corajosos peões verdadeiros soldados.
Os fazendeiros fundaram seu prestígio
na ocupação das planícies e no valor militar demonstrado nas coxilhas.
E as estâncias tiveram uma função civilizadora, na formação da alma
gaúcha, com a criação de uma legenda guerreira e um profundo amor às
tradições que persiste até nossos dias.
Novas imigrações: assimilação rápida
Praia de Torres a 200 km de Porto Alegre
O Rio Grande do Sul é rico em belezas
naturais, possuindo um litoral com lindas praias. Coberto por campos e
florestas, os primeiros ocupam dois terços do território. No inverno a
geada cobre todo o Estado e na região norte cai neve em vários
municípios.
A imigração alemä e italiana deixou
profundas marcas nos costumes, na arquitetura e na culinária gaúcha.
Esses novos gaúchos adotaram sem demora o chimarrão, o churrasco e o
cigarro de palha. Em troca legaram o macarrão, a polenta, o pão cuca, o
arado, a semeadeira e a carreta para transporte de carga pesada.
As roupas típicas gauchas parecem
trajes de festas. Usam sempre uma bombacha (calça larga). No inverno
cobrem-se com o poncho, um pano de tecido grosso, enquanto no verão
utilizam a pala, de tecido leve. Calçam botas de cano longo e usam
esporas barulhentas que marcam seus passos. No pescoço colocam um lenço
colorido e na cintura um cinto largo, ou guaiaca, onde é pendurada uma
faca ou adaga. Na cabeça um chapéu mole, de abas largas, seguro por uma
tira de couro.
Centros de Tradições Gaúchas e religiosidade
Por todo o Brasil, nos lugares onde
há gaúchos, surgem os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), com seus
galpões para reuniões, churrascadas, músicas e danças típicas,
chimarrão, trajes e costumes do Rio Grande do Sul. Consta já haver mais
de 800 dessas associações espalhadas nos diversos estados do país.
Esses centros demonstram como é
grande o número dos que se orgulham de ter raízes gaúchas, portadores
de um legado histórico marcado por lances de grandeza.
A Religião Católica deixou traços
profundos na alma do povo gaúcho, como se pode notar em todas as
regiões do Rio Grande do Sul.
Um exemplo típico é a procissão de
Nossa Senhora dos Navegantes, realizada no dia 2 de fevereiro, todos os
anos, em Porto Alegre. Milhares de fiéis em centenas de barcos
participam da procissão fluvial no rio Guaíba, que banha a capital.
A imagem de Nossa Senhora dos
Navegantes (foto acima) é previamente retirada da igreja onde fica
habitualmente e colocada em outra. A procissão se destina a
reconduzi-la à sua igreja, onde ficará até o ano seguinte. Durante o
percurso os gaúchos lançam presentes nas águas do rio, como flores,
fitas e grinaldas, para Nossa Senhora dos Navegantes. No final da
procissão, começa a festa, com numerosas barracas, comidas e bebidas
típicas de uma comemoração gaúcha.
*
Carlos Sodré Lanna é colaborador da Abim.
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