Mistério, Amor e Deus
O mistério do amor de Deus consiste
em que os nossos corações ardentes e os nossos ouvidos e olhos receptivos
possam descobrir que Aquele que encontrámos na intimidade do nosso ser
continue a revelar-se a nós entre os pobres, os doentes, os famintos, os prisioneiros,
os refugiados e todas as pessoas que vivem no medo.
Assim percebemos finalmente que a nossa missão não consiste apenas em
ir falar do Senhor ressuscitado aos outros, mas também em receber esse
testemunho daqueles a quem somos enviados.
Muitas vezes, a missão é vista
exclusivamente em termos de dar, mas a verdadeira missão também é receber. Se
for verdade que o Espírito de Jesus sopra onde quer, não há ninguém que não
possa transmitir esse mesmo Espírito.
A longo prazo, a missão só é possível na medida em que for
tanto receber como dar, tanto ser amado como amar. Nós somos enviados aos
doentes, aos moribundos, aos deficientes, aos prisioneiros e aos refugiados
para lhes levar a boa nova da ressurreição do Senhor.
Em breve, porém, ficaremos queimados, se não conseguirmos
receber o Espírito do Senhor daqueles a quem somos enviados.
Esse Espírito, o Espírito de amor,
está escondido na sua pobreza, fragilidade e dor. Foi por isso que Jesus
disse: «Bem aventurados os pobres, os perseguidos, os que choram.» De cada
vez que lhes estendermos a mão, eles, por sua vez – quer tenham consciência
disso quer não – abençoar-nos-ão com o Espírito de Jesus, tornando-se assim
nossos ministros.
Sem esta troca mútua de dar e
receber, missão e ministério tornam-se facilmente manipuladores ou violentos.
Quando só um é que dá e o outro recebe, quem dá, em breve, torna-se opressor
e quem recebe torna-se vítima.
No entanto, quando o que dá recebe e o que recebe dá, o
círculo de amor, iniciado na comunidade dos discípulos, pode crescer até
abarcar o mundo.
Henri Nouwen, em “Não nos ardia o coração?”
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