sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Deus segundo Spinoza


Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero  que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu  quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o  que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres,  obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a  minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos  rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu  amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu  nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou  que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente  que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase,  tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram  crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas  que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num
amanhecer,  numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu  filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim  e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu  trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo,  nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te astigo.  Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a  perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações,  de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de  incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se  respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar  por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia  criar um lugar para queimar
a todos meus filhos que não se  comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode  fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer  tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te  controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu  próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que  te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de  alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um  degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio  para o paraíso.
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o  único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há  prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva  um placar.
Ninguém leva um registo.
Tu és absolutamente  livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te  poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um  conselho. Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse  tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.  Assim, se não há nada,
terás aproveitado da oportunidade que  te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar  se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste,
se te divertiste... Do que mais gostaste? O
que  aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor,  adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero  que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas  tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando  acaricias
teu cachorro, quando tomas banho no  mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu  acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que  agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti,  de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado,  surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me  louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como  papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu  estás aqui,
que estás vivo, e que este mundo está cheio de  maravilhas. Para que precisas de mais milagres?
Para que  tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás.  Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em  ti.


Baruch Spinoza (1632-1637).
As sábias palavras são de  Baruch Espinoza - nascido em 1632 em Amsterdã, falecido em Haia  em 21 de fevereiro de 1677, foi um dos grandes racionalistas do  século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com  René Descartes e Gottfried Leibniz. Era de família judaica  portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico  moderno. Acredite, essas palavras foram ditas em pleno Século  XVII. 
                Do seu livro ÉTICA


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