sábado, 10 de setembro de 2011

O Paciente




Texto de Tony Duda – Mestre Lua     

Quando nos tornamos missionários da Casa do Pai, nem sempre percebemos as reais necessidades dos pacientes, que chegam ao Templo em busca de uma palavra, um consolo, uma solução, uma cura, um atendimento...

Colocamos nosso uniforme, nos mediunizamos e nos entregamos à Espiritualidade.

Participamos de alguns trabalhos, olhamos para o relógio, encerramos e vamos embora. Afinal, fizemos nossa parte e cumprimos nossa missão por aquele dia, não é mesmo?

Aparentemente, sim! Mas redescobri que nem sempre é ocorre como pensamos. Nossa missão naquele dia talvez ainda não tenha encerrado de fato.

Reaprendi isso quando eu estava adoentado, na semana de minha Consagração, e resolvi ir ao Pronto Socorro Universal na condição de paciente, já que dois médicos não sabiam do que se tratava. Sai do hospital e fui direto ao Templo, onde lá cheguei pouco depois das 21 horas. Ao aproximar-me do Setor de Tronos, o Comandante informou que o atendimento havia encerrado me virtude da hora, porém adiantou que se o Presidente do dia permitisse, tudo bem. Fui até ele e perguntei se eu ainda poderia me consultar. Ele olhou para mim, olhou para o relógio e concedeu.

Voltei ao trono, vi onde estava o fim da fila e, em silêncio, mentalizando a Espiritualidade, aguardei a minha vez.

Neste momento recordei da orientação dos Instrutores, de que muitos Mestres trazem problemas quando estão na condição de pacientes, porque querem prioridades. Entendi que deveria fazer por merecer aquele atendimento, sem recorrer aregalias.

A minha vez

Lembrei que, quando ainda estava no consultório, antes de ir ao Templo naquela noite, uma senhora chegou irritada porque não havia conseguido prioridade no atendimento, mesmo estando com um bebê. A atendente então se dirigiu a mim e perguntou se eu poderia ceder minha vez àquela senhora. Prontamente disse que sim. Lembrei ainda que quando estamos na condição de prisioneiros, por exemplo, a gente não deveria ceder mais? Ficar mais tolerantes? E se aquela senhora estivesse precisando mais do que eu? Assim como no hospital, eu deveria fazer por merecer e aguardar minha vez ali no Templo.

A hora avançava e, aos poucos, os Tronos iam encerrando um a um. O Comandante tentava emplacar mais um paciente, mas nem sempre tinha êxito.
Perto das 23 horas a maioria dos Tronos havia encerrado. Além de mim, havia outros dois pacientes na minha frente para serem atendidos e um trabalho especial.

Nessa hora, fiquei pensando: "Não era para eu estar aqui pedindo e sim me doando". Mas realmente não tinha condições físicas de colocar o uniforme e prestar a caridade. Doía minha cabeça,  coluna e os “ossos das pernas”... Meu corpo estava fraco. Era incômodo ficar sentado e de pé não agüentava.

Precisava ter paciência e se fazer merecedor de chegar a um Preto Velho.

No banco de espera

As horas corriam e os Comandantes gentilmente tentavam segurar os aparelhos. Até que os dois últimos tronos sinalizaram que não iriam mais atender. Aí apelei a Pai João de Enoque. Disse que estaria nas mãos dele e se fosse de meu merecimento e de algum espírito sofredor que porventura me acompanhasse, que segurasse ainda algum preto velho ali nos Tronos. Baixei a cabeça e fiquei mentalizando. Nesta hora um preto velho mandou chamar o Comandante para falar de tanta demora nos atendimentos. Comecei a chorar.

O Comandante pediu que eu tivesse calma, pois nem que ele tivesse que “garimpar” algum Apará no entorno do Templo, para seguir o trabalho, ele deixaria alguém sair sem atendimento.

Todos os demais trabalhos haviam encerrado e eu era o último paciente daquela noite. Só estava eu ali no banco de espera, os Comandantes dos Tronos, o último Trono Aberto e o Presidente do Dia.

Como o ambiente estava em silêncio, ouvi o Mentor dizer ao Comandante que tudo tem a hora de acontecer. Como se os louros, as pérolas de todo o dia de trabalho estivessem concentradas naquele exato momento.

A lição

Esse instante foi muito singelo para mim, pois me deixou uma grande lição: de que precisamos estar prontos para servir. De que somente recordando quando fomos pacientes ou mesmo voltando a sentir na pele a fila de espera, para compreender e reaprender nossa real necessidade de prestar a caridade e não apenas ficar preocupado em encerrar o expediente e seguir para casa.

Quantos pacientes não chegam ao Templo em busca de um atendimento ou para passar por um trabalho, que muitas vezes não acontece por falta de Mestres para completar? Quantos não depositam em nós a esperança e a cura? Se não fosse assim, para que um paciente ficaria até altas horas da noite, sentado em um banco duro de cimento aguardando, como eu fiquei?

Tenho a impressão de que naquela noite outras lições ficaram marcadas. Para o Presidente, que permitiu meu atendimento, pois ele poderia ter dito que os trabalhos haviam encerrado e pronto! Para os comandantes, que viram que eu estava precisando e não era capricho. Para o Doutrinador, que se compadeceu com a situação e se manteve firme para não encerrar o atendimento. E ao aparelho, que permitiu mais uma vez que a Entidade pudesse fazer seu trabalho de luz e caridade. Para mim, tudo serviu de aprendizado e o Preto Velho confirmou isso no Trono. Agradeço muito por esse momento. Sai de lá renovado no físico e no espiritual.

Tony – Mestre Lua

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