terça-feira, 28 de julho de 2020

A Lei de Moisés terminou por ocasião da morte de Cristo?

Autor: Jesús Mondragón (Saulo de Tarso)
Fonte: https://www.facebook.com/jesus.mondragon.180
Tradução: Carlos Martins Nabeto

– Não basta dizer: “Está na Bíblia!” O Antigo Testamento era exclusivo para os judeus e o Novo Testamento para os cristãos.

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Compreender a diferença entre Antigo e Novo Testamento é vital para o estudo honesta da Bíblia. Muitas das diferenças doutrinárias entre cristãos católicos e evangélicos são automaticamente resolvidas quando este tema é bem compreendido.

Não basta dizer: “Está na Bíblia!”; o que realmente importa é: em que parte da Bíblia? No Antigo ou no Novo Testamento? Expliquemos:

Com a queda de Adão e Eva, o gênereo humano, mortalmente ferido pelo pecado, cai em tal grau de decadência, maldade e erro que Deus se vê obrigado a exterminar a humanidade pelos excessos a que chegaram:
“E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração. E disse o Senhor: ‘Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito'” (Gênesis 6,5-7).

A fim de brindar a humanidade com um novo e melhor começo, Deus eleva o homem de seu estado de total miséria, sem leis escritas, onde a idolatria (adoração de falsos deuses), a degeneração sexual, os assassinatos e um sem fim de depravações eram o pão cotidiano, sem a lei do mundo pagão, antes e depois do dilúvio universal.

O ANTIGO TESTAMENTO REPRESENTA A ETAPA INFANTIL DA HUMANIDADE
“E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração: ‘Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz'” (Gênesis 8,21).

Deus forma um povo, o povo de Israel, uma nação entre todas as nações, com quem faz uma “aliança”; a ela dará seus Mandamentos em forma escrita através de Moisés. Mas não devemos nos confundir: esta Lei ou Aliança era única e exclusiva do povo de Israel; todos os demais povos e nações ficavam de fora desta Aliança, que hoje conhecemos como “Antigo Testamento” ou “Lei de Moisés”.
“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel” (Êxodo 19,5-6).
“Mostra a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem” (Salmo 147,19-20).
“Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados ‘incircuncisão’ pelos que na carne se chamam ‘circuncisão’ feita pela mão dos homens; que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo” (Efésios 2,11-12).

CONTUDO, DEUS QUER QUE TODOS OS HOMENS SE SALVEM
“Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1Timóteo 2,3-4).

Como Deus quer a salvação de todos os homens, a Antiga Aliança ou Testamento representa uma superação do homem pagão, sem lei, a uma etapa de lei escrita que busca a elevação da humanidade para chegar em Deus. Porém, o homem é ainda criança e precisa amadurecer, chegar à plenitude dos tempos e comportar-se com adulto:
“Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo. Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gálatas 4,3-5).

O ANTIGO TESTAMENTO ERA UM TREINAMENTO PARA O NOVO TESTAMENTO

O Antigo Testamento apresenta figuras; o Novo Testamento, a realidade:
“Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado, não havendo lei. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir” (Romanos 5,13-14).
“E estas coisas [do Antigo Testamento] foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1Coríntios 10,6).
“Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: ‘Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou'” (Hebreus 8,5).
“Que é uma figura para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço” (Hebreus 9,9).
“Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2,16-17).

O NOVO TESTAMENTO É MELHOR E SUPERA O ANTIGO TESTAMENTO
“De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Arão? Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei. (…) Porque o precedente mandamento é abrogado por causa da sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus” (Hebreus 7,11-19).
“Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam” (Hebreus 10,1).
“Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados” (Hebreus 11,40).

O ANTIGO TESTAMENTO TERMINOU POR OCASIÃO DA MORTE DE CRISTO E ENTÃO INICIA O NOVO TESTAMENTO
“A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele” (Lucas 16,16).
“Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz” (Efésios 2,15).
“Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus” (Romanos 7,4).
“Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Romanos 10,4).

Apesar de tudo o que vimos até aqui, as seitas afirmam que Jesus Cristo não anulou a lei do Antigo Testamento e tomam por referência o seguinte texto:
“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus” (Mateus 5,17-19).

A LEI RITUAL E A LEI NATURAL OU MORAL

É importante saber que entre as leis que Deus entregou a Moisés existem dois tipos de leis: a lei cerimonial ou ritual; e a lei natural ou moral.

A lei cerimonial refere-se às leis que podem ser alteradas (como, p.ex., o sacrifício de animais) e rituais (como a proibição de se fazer imagens ou o dia de sábado), que não são necessárias para a salvação. Por isso podem ser alteradas.

A lei natural é a que sempre existiu, mesmo antes de Moisés, ainda que não tenha sido escrita (como [a proibição do] assassinato, adultério, incesto etc.). Sempre, em todo tempo e lugar, constitui um pecado; ou seja: a lei natural ou moral refere-se à conduta humana, indispensável para a salvação e, por isso, não altera nunca.

Jesus fala de não alterar a Lei e os Profetas, mas imediatamente começa a alterar os Mandamentos da Lei de Moisés:
“Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás’; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: ‘Raca’, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: ‘Louco’, será réu do fogo do inferno” (Mateus 5,21-22).

E assim continua até o final do capítulo 5 de Mateus, alterando a Lei de Moisés.

Jesus se contradisse? Claro que não! O que ocorre é que no Antigo Testamento a lei moral ainda é deficiente e deve ser aperfeiçoada, a fim de atualizá-la para o novo ambiente cultural cristão. Tanto é verdade, que o versículo 20 diz:
“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5,20).

Os escribas e fariseus eram escrupulosos cumpridores da Lei de Moisés quanto ao cerimonial, mas não da lei natural ou moral. O próprio Jesus lançará na cara deles seu escrupuloso apego à lei ritual e seu total descumprimento da lei moral:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas” (Mateus 23,23).

Outra passagem da Escritura que põe de manifesto a deficiência da Lei de Moisés no campo moral é esta:
“Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: ‘É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?’ Ele, porém, respondendo, disse-lhes: ‘Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez?’ E disse: ‘Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?’ Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem’. Disseram-lhe eles: ‘Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la?’ Disse-lhes ele: ‘Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim'” (Mateus 19,3-8).

Como vemos, a lei natural ou moral é a mesma desde a criação do mundo. Cristo diz: “ao princípio não foi assim” – não pode alterar; mas a Lei de Moisés era imperfeita, como vimos ao longo deste artigo.

Se os protestantes insistem que a Lei de Moisés não foi cancelada por Jesus, por que eles não a cumprem? A Lei de Moisés estipula numerosos sacrifícios de animais e prescrições que não são em nada compatíveis com a lei do amor e da misericórdia do Novo Testamento; p.ex., a Lei de Moisés manda:
Apedrejar os idólatras, sectários e hereges: Deuteronômio 13,11; 17,5.
Apedrejar os filhos rebeldes: Deuteronômio 21,21.
Apedrejar os adúlteros: Deuteronômio 22,21.
Queimar os fornicadores: Gênesis 38,24; Levítico 21,9.

A lista seria interminável. Ademais, quem cumpre qualquer uma das leis de Moisés está obrigado a cumprí-la inteira, pois quem falha em um dos mandamentos da Lei peca contra toda a Lei:
“Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: ‘Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las'” (Gálatas 3,10).
“Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos. Porque aquele que disse: ‘Não cometerás adultério’, também disse: ‘Não matarás’. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei” (Tiago 2,10-11).

Se os protestantes desejam cumprir a Lei do Antigo Testamento de qualquer jeito, devem cumprí-la por inteiro; mas qualquer pessoa pode ver que eles o dizem, mas não a cumprem. A contradição é a nota distintiva dos cristãos evangélicos e das demais seitas. Isto nos faz lembrar uma frase do Apóstolo São Paulo:
“Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (1Timóteo 1,7).

Tudo isso significa que os católicos desprezam o Antigo Testamento? Absolutamente não! Ainda que as suas leis rituais já não estejam em vigor, é Palavra de Deus revelada ao homem e sem o Antigo Testamento não poderíamos compreender o Novo, como já dizia o grande Santo Agostinho:
“O Novo Testamento está oculto no Antigo e o Antigo nos é aberto no Novo”.

Sem o Antigo Testamento a Bíblia não estaria completa. Cristo cumpriu a Antiga Aliança ou Testamento e, ao cumprí-lo, começou uma Nova Aliança, já não apenas com os judeus, mas com toda a humanidade.

Os cristãos católicos não são judeus. São cristãos e não estão sob a Lei de Moisés.

Logo, não basta dizer: “Está na Bíblia”; deve-se ver em qual parte da Bíblia.

Antigo ou Novo Testamento? Novo Testamento!

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