quinta-feira, 26 de março de 2020

Papa Pio XII e o Holocausto


Autor: Anônimo
Fonte: A Catholic Response Inc. (http://users.binary.net/polycarp)
Tradução: Carlos Martins Nabeto

– “Se o mundo vos odeia, sabei que, antes de vós, odiou a mim. (…) Recordai-vos das palavras que Eu vos disse: ‘Nenhum escravo é maior do que o seu senhor’. Se Me perseguiram, também perseguirão a vós” (João 15,18-20).

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Nos últimos anos, os meios de comunicação acusaram a Igreja Católica de ter ajudado os nazistas ou ter ficado em silêncio durante o Holocausto. Por exemplo: a edição de 26 de janeiro de 1998 da revista “Time”, na página 20, afirma que a Igreja Católica pediu desculpas por “ter colaborado com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial”. Até o novo Museu do Holocausto em Nova Iorque criticou injustamente o Papa Pio XII, por ter permanecido em silêncio durante a 2ª Guerra Mundial. Recentemente a Igreja se pronunciou sobre esse assunto.

O cônsul israelense, Pinchas E. Lapide, no seu livro “Three Popes and the Jews” [=”Três Papas e os Judeus”] (Nova Iorque: Hawthorn Books, 1967) analisa criticamente o Papa Pio XII. Segundo sua pesquisa, a Igreja Católica, sob Pio XII, foi fundamental para salvar 860.000 judeus dos campos de extermínio nazistas (p. 214). Pio poderia ter salvado mais vidas falando mais vigorosamente? Segundo Lapide, os prisioneiros dos campos de concentração não queriam que Pio falasse abertamente (p. 247). Como disse um certo jurista do Tribunal de Nuremberg na WNBC em Nova Iorque (28 de fevereiro de 1964):
“Qualquer palavra de Pio XII dirigida contra um louco como Hitler, teria causado uma catástrofe ainda pior (…) [e] aceleraria o massacre de judeus e sacerdotes” (Ibidem).

No entanto, Pio também não ficou totalmente em silêncio. Lapide observa um livro do historiador judeu Jenoe Levai intitulado: “The Church Did Not Keep Silent” [=”A Igreja Não Permaneceu em Silêncio”] (p. 256). Ele admite que todo mundo – inclusive ele mesmo – poderia ter feito mais. Se condenarmos Pio, a justiça exigiria condenar todas as outras pessoas. Ele conclui, citando o Talmud, que “quem preserva uma vida, é contado pelas Escrituras como se tivesse preservado o mundo inteiro”. Com isso, ele afirma que Pio XII mereceria em memória uma floresta de 860.000 árvores nas colinas da Judeia (pp. 268-269). Note-se, aliás, que 6 milhões de judeus e 3 milhões de católicos foram mortos no Holocausto.

Devemos lembrar que o Holocausto também era anticristão. Depois que Hitler revelou as suas reais intenções, a Igreja Católica se opôs a ele. Até mesmo o famoso [cientista] Albert Einstein testemunhou isso. Segundo a edição de 23 de dezembro de 1940 da revista “Time”, p. 38, Einstein disse:
“Sendo eu um amante da liberdade, quando a revolução chegou na Alemanha, procurei as universidades para defendê-la, sabendo que sempre se gabavam de sua devoção pela causa da verdade. Mas não! As universidades foram imediatamente caladas. Então olhei para os grandes editores de jornais, cujos editoriais inflamados em dias passados ​​haviam proclamado o seu amor pela liberdade. Mas eles, assim como as universidades, foram calados em poucas semanas (…) Apenas a Igreja [Católica] se posicionou diretamente no caminho da campanha de Hitler para suprimir a verdade. Eu nunca tive anteriormente nenhum interesse especial pela Igreja, mas agora sinto grande carinho e admiração [por ela], porque apenas a Igreja teve coragem e persistência para defender a verdade intelectual e a liberdade moral. Sou forçado, assim, a confessar que o que eu antes desprezava, agora louvo sem reservas”.

Em outra declaração semelhante, Einstein se referiu explicitamente à Igreja Católica (Lapide, p. 251). Este é um testemunho extraordinário de um cientista alemão agnóstico de herança judaica. Embora existissem traidores em suas fileiras, a Igreja ainda assim se opunha ao movimento nazista.

A edição de 23 de dezembro de 1940 da revista “Time” contém um outro artigo interessante sobre os cristãos que viviam na Alemanha, católicos e protestantes, que se opuseram e sofreram sob os nazistas. Na p. 38, alega que no final de 1940 mais de 200.000 cristãos eram prisioneiros nos campos de concentração nazistas, com algumas estimativas chegando até 800.000. Na p. 40, aponta o Arcebispo de Munique, Michael Cardinal von Faulhaber, como líder da oposição católica na Alemanha contra os nazistas. Em um sermão do Advento de 1933, este pregou em resposta ao racismo nazista:
“Não esqueçamos que fomos salvos não pelo sangue alemão, mas pelo sangue de Cristo!”.

Em 1934, o Cardeal quase tomou um “tiro nazista” e, em 1938, uma multidão de nazistas quebrou as janelas da sua residência. Mesmo com mais de 70 anos e com problemas de saúde, ele continuava liderando a resistência católica alemã contra Hitler.

Sem confiar no novo regime, o Vaticano assinou uma Concordata com o Reich em 20 de julho de 1933, na tentativa de proteger os direitos da Igreja na Alemanha. Mas os nazistas rapidamente violaram os seus artigos. Na Quaresma de 1937, o Papa Pio XI publicou a encíclica “Mit brennender sorge” (=”Com ardente tristeza”) com o auxílio dos Bispos alemães e do Cardeal Pacelli (futuramente Papa Pio XII). [A Encíclica] foi contrabandeada para a Alemanha e lida em todas as Igrejas Católicas alemãs, no mesmo horário, no Domingo de Ramos de 1937. Não mencionava explicitamente Hitler ou o Nazismo, mas condenava firmemente as doutrinas nazistas. Em 20 de setembro de 1938, Pio XI disse aos peregrinos alemães que nenhum cristão poderia participar do anti-semitismo, uma vez que espiritualmente todos os cristãos eram semitas.

A recente calúnia contra a Igreja e o Papa Pio XII pode ser rastreada, retroagindo a 1963 com a peça de Rolf Hochhuth, “O Deputado”. Nesta peça, Hochhuth criticou Pio por ficar em silêncio e retratou esse silêncio como uma fria indiferença. Mesmo sendo ficção, as pessoas consideraram isso um fato.

Pio XII era diplomata e não um pregador radical. Ele sabia que primeiro precisava preservar a neutralidade do Vaticano para que a Cidade do Vaticano pudesse ser um refúgio para as vítimas da guerra. A Cruz Vermelha Internacional também permaneceu neutra. Em segundo lugar, sabia o quão impotente ele era diante de Hitler. Mussolini poderia rapidamente desligar a energia elétrica da Rádio Vaticano durante sua transmissão (cf. Lapide, p. 256). Por fim, os nazistas não toleraram nenhum protesto e reagiram severamente. Por exemplo: o Arcebispo católico de Utrecht, em julho de 1942, protestou numa Carta Pastoral contra as perseguições judaicas na Holanda; imediatamente os nazistas reuniram o maior número possível de judeus e católicos não-arianos e os deportaram para campos de extermínio, incluindo [Santa] Edith Stein (cf. Lapide, p. 246). Pio sabia que toda vez que falava contra Hitler, os nazistas descontavam nos prisioneiros. Seu melhor ataque contra os nazistas foi através da diplomacia silenciosa e da ação nos bastidores. Conforme a Enciclopédia Grolier Multimedia de 1996 (V8.01), sob Pio XII, “desejando preservar a neutralidade do Vaticano, temendo represálias e percebendo sua impotência para cessar o Holocausto, Pio, no entanto, agiu individualmente para salvar muitos judeus e outros ainda mediante ocultamentos nas igrejas, documentos e asilo”.

A caridade e a obra do Papa Pio XII durante a Segunda Guerra Mundial impressionaram tanto o rabino-chefe de Roma, Israel Zolli, que em 1944 ele se abriu à graça de Deus e se converteu à Fé católica. Como nome de batismo, adotou o mesmo nome de Pio: Eugênio. Posteriormente, Israel Eugênio Zolli escreveu um livro intitulado “Why I Became a Catholic” [=”Por que me tornei católico”].

O Papa Pio XII também não se calou completamente, principalmente em suas mensagens de Natal. Suas mensagens de Natal de 1941 e 1942 foram traduzidas e publicadas no “The New York Times” (25 de dezembro de 1941, p. 20; e 25 de dezembro de 1942, p. 10). Para evitar retaliação, ele não se referiu ao Nazismo pelo nome, mas as pessoas daquela época o entendiam, incluindo os nazistas. De acordo com o editorial do “The New York Times” (25 de dezembro de 1941, edição vespertina, p. 24):
“A voz de Pio XII é uma voz solitária no silêncio e na escuridão que envolve a Europa neste Natal (…) Ele é o único governante que resta no continente europeu que se atreve a levantar a voz (…) O Papa se opõe diretamente ao Hitlerismo (…) ele não deixa dúvidas de que os objetivos nazistas também são inconciliáveis ​​com sua própria concepção de ‘paz cristã'”.

Também outro editorial do “The New York Times” (25 de dezembro de 1942, edição vespertina, p. 16) afirmou:
“Neste Natal, mais do que nunca, ele [=Pio XII] é uma voz solitária clamando no silêncio de um continente (…) O Papa Pio expressa com tanto entusiasmo, quanto qualquer líder do nosso lado, os objetivos de guerra da luta pela liberdade, quando diz que aqueles que pretendem construir um novo mundo devem lutar pela livre escolha do governo e da ordem religiosa. Eles devem recusar que o Estado faça dos indivíduos um rebanho dos quais dispõe como se fossem coisas sem vida”.

Ambos os editoriais reconheceram e elogiaram muito as palavras de Pio contra Hitler e o totalitarismo.

Pois bem: houve traidores na Igreja, que eram nazistas ou ajudavam Hitler. Houve católicos que cometeram pecados de fanatismo. Houve também católicos que, por medo ou indiferença, pecaram pelo silêncio. A Igreja está cheia de pecadores por quem Cristo morreu. Matamos Jesus com os nossos pecados (cf. Isaías 53,5-6), mas o Papa Pio XII e muitos católicos não “permaneceram em silêncio”. 860.000 vidas judaicas poderiam ter sido salvas pela indiferença “silenciosa”?

Atualmente, existem pessoas que afirmam ser católicas, mas promovem e participam de abortos, suicídios assistidos e controles artificiais de natalidade. Será que no próximo século o mundo também acusará falsamente a Igreja e o Papa de ficarem silentes diante do holocausto da “cultura da morte”?

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