domingo, 23 de fevereiro de 2020

A ressurreição

  • Autor: Martin J. Scott, sj
  • Fonte: Livro “Things Catholics Are Asked About” (1927) / Site “Una Fides, One Faith” (http://net2.netacc.net/~mafg)
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto


Se não há vida futura, o Cristianismo desmorona. Se não há vida futura, os comunistas estão certos em atacar o Cristianismo. Se não há vida futura, os socialistas encontram-se justificados na sua oposição ao Cristianismo. A própria base do Cristianismo é a imortalidade. Tire isso e todo o edifício cristão desmorona.
A ressurreição foi o principal argumento dos Apóstolos para a verdade da religião de Cristo. São Paulo declarou que se Cristo não ressuscitou dos mortos, a fé cristã é o naufrágio da vida. A vida e a missão de Cristo não teriam sentido a menos que houvesse uma vida além. Ele não veio para dar ao homem riquezas, vida longa, honrarias, conforto ou qualquer outra coisa que este mundo possa dar. Ele mesmo não tinha nenhuma dessas coisas, embora pudesse ter todas elas. Ele veio para nos dar vida. Não esta vida presente – que é uma vida-morta -, mas a vida eterna e gloriosa.
Esta vida atual é uma marcha constante para o túmulo. Começamos a morrer assim que nascemos. Dificilmente respiramos pela primeira vez quando médicos e enfermeiros são chamados para afastar doenças, acidentes ou mortes. Todos os dias damos um passo a mais na direção da cova inevitável. Cristo disse: “Eu vim para dar-lhes vida”. Ele falava àqueles que já viviam – caso contrário suas palavras seriam vãs -, mas não a vida que Ele veio dar. A vida que Ele promete àqueles que O servem é parte da Sua própria vida eterna e abençoada, aquela vida que não tem fim, nem ansiedade, nem dor, nem tristeza, nem desejo irrealizado. “Os que serão considerados dignos (…) da ressurreição dentre os mortos (…) também não poderão mais morrer, pois serão iguais aos anjos e filhos de Deus” (Lucas 20,35-36).
O destino do homem é compartilhar da vida de Deus. Essa é a chave da vida. Não temos aqui uma cidade duradoura, mas buscamos uma que está por vir. Esta vida é a preparação. A vida é liberdade condicional e o túmulo não é o fim, mas o ponto de partida do verdadeiro destino do homem. Por isso, Cristo proclama: “Qual é o benefício de um homem se ele ganhar o mundo inteiro e sofrer a perda da sua própria alma?” Em comparação com a vida no além, nada nesta vida importa, exceto como um meio para garantir essa abençoada vida eterna. Portanto, Cristo proclamou que, se necessário, devemos sacrificar nossa própria vida por essa outra vida: “Quem perder a vida por Minha causa, a encontrará”. A vida é o supremo sacrifício. Este sacrifício é imperativo se for necessário para garantir a vida eterna.
Todo o corpo de ensinamentos de Cristo repousa na certeza da imortalidade. A virtude cristã exige constantemente a negação do que este mundo mais valoriza. O homem deseja ter o seu próprio caminho, fazer a sua própria vontade, ser o seu próprio mestre. Cristo nos pede que olhemos para Deus no céu e digamos: “Seja feita a tua vontade”. O homem deseja gratificação pessoal e que o mundo atenda às suas paixões. Cristo prega a doutrina da cruz. E assim, por todo caminho, Cristo e o mundo são antagônicos. É por isso que o mundo O odiava e O matou. Os judeus teriam aceito Cristo se Ele lhes desse o que eles queriam: poder e glória mundanos. Ele veio para dar-lhes algo mais do que isso. Mas porque eles tinham que receber Seu dom em humildade, sendo orgulhosos e obstinados, O rejeitaram. E eles não apenas O rejeitaram, como também O crucificaram. Mas eles não apenas O crucificaram, como ainda o fizeram criminosamente, mediante falsos testemunhos e falsas acusações. É o único caso registrado de uma pessoa declarada judicialmente inocente, mas ainda assim condenada a morrer como criminoso. Cristo predisse Sua crucificação. Ele também predisse Sua ressurreição. Os judeus conheciam essa profecia. Por isso, foram até Pilatos buscar guardas para impedirem qualquer interferência no túmulo de Jesus. No terceiro dia após a crucificação, Cristo ressuscitou dentre os mortos, como predisse. A ressurreição não foi apenas o maior milagre de Cristo, mas também uma profecia bem definida. No terceiro dia, exatamente como predisse, enquanto o Seu túmulo era guardado pelos soldados romanos – os melhores soldados do mundo – a enorme pedra do sepulcro foi lançada de lado e em meio a um brilho que momentaneamente cegou os guardas e os jogou aterrorizados ao solo, Cristo se ergueu triunfantemente do túmulo.
Cristo fez as maiores reivindicações já feitas por qualquer pessoa deste mundo: Ele declarou ser o Deus Todopoderoso. Ele conhecia a magnitude das Suas reivindicações e a necessidade de fundamentá-las. Foi por isso que Ele foi tão paciente com os seus ouvintes e fez todo o possível por eles. Os judeus tinham tanta reverência por Javé que nunca mencionavam diretamente o Seu nome. No entanto, aqui encontrava-se um, com aparência como a deles, proclamando ser Javé. Cristo, assim, passou a confirmar as Suas reivindicações realizando obras que somente Javé poderia realizar. Por seu próprio poder e em seu próprio nome, deu vista aos cegos, purificou o leproso, fez o aleijado andar, deu ordem aos elementos [da natureza] e ressuscitou os mortos. Na presença desses atos divinos, Ele disse: “Se não acreditais em mim, ao menos acreditai nas obras que Eu faço: elas dão testemunho de mim”. Como resultado, o povo em geral acreditou Nele, como verificamos da multidão que O proclamou Messias após Ele ter ressuscitado Lázaro dentre os mortos. Isso alarmou os líderes judeus, que convocaram um Conselho e disseram: “O que fazemos? Este homem faz muitos milagres. Se o deixarmos assim, todos acreditarão nele” (João 11,47-48).
Os líderes judeus procuravam um Messias glorioso. Eles confundiram as profecias da Sua primeira vinda em humildade com as da Sua vinda final em glória. Suas vontades de serem pais do pensamento, os cegaram contra a prova que Cristo lhes deu. Eles estavam convencidos das Suas ações milagrosas, como resta evidente, mas não se converteram. Eles não enxergaram porque escolheram permanecer cegos. Por fim, Cristo apelou diretamente para a prova positiva da Sua divindade, dando a Sua ressurreição como a grande confirmação das Suas reivindicações divinas. Como dito anteriormente, os judeus conheciam essa profecia e tomaram todas as precauções para impedir o seu cumprimento. Mas todas as suas precauções serviram apenas para tornar mais certo o fato da ressurreição. Se Cristo é Deus, a ressurreição é a coisa mais natural do mundo. Se Ele não é Deus, a ressurreição é incompreensível, ou melhor, uma impossibilidade. A prova da ressurreição é a melhor que já foi apresentada para um fato da História. Antes de mais nada, os Evangelhos que a narra são os documentos mais genuínos e autênticos da humanidade. Este é o veredicto dos homens mais instruídos do mundo atualmente. Se desconfiarmos da narrativa do Evangelho, deveremos rejeitar também todos os registros do passado. A ressurreição é mais atestada do que qualquer conquista de Júlio César. Existem mais e melhores monumentos para a ressurreição de Cristo do que para as vitórias de César. O maior monumento à ressurreição é a Igreja de Cristo, que tem a ressurreição como fundamento. Cultuar alguém crucificado como malfeitor por ordem de um governador romano era, sem auxílio divino, uma impossibilidade. A ressurreição foi o sinal do céu que atesta a divindade de Jesus Cristo. Os Apóstolos basearam sua missão exclusivamente na ressurreição. São Paulo, dirigindo-se aos seus ouvintes, disse: “Se Cristo não ressuscitou, nossa pregação é vã e vã também a nossa fé; e seremos encontrados como falsas testemunhas de Deus. (…) Se nesta vida somente nós temos esperança em Cristo, somos todos os homens mais miseráveis. Mas eis que Cristo ressuscitou dos mortos” (1Coríntios 15,14.19-20).
Esse foi o ônus da pregação de todos os Apóstolos, como podemos ver lendo os Atos dos Apóstolos no Novo Testamento. Após o primeiro sermão de São Pedro, que tratava da ressurreição, três mil pessoas se converteram ao Cristianismo na mesma cidade e entre pessoas que testemunharam a crucificação. Quando considerarmos a natureza da religião de Cristo, veremos que, a menos que a ressurreição tenha sido um fato, seu estabelecimento como a religião dominante do mundo civilizado nunca poderia ter se concretizado. Uma transformação moral e social completa do mundo, como a que foi provocada pelo Cristianismo, exige uma explicação. A ressurreição é a explicação. A ressurreição de Cristo foi a prova de uma vida futura, bem como a prova da Sua divindade. Era o sinal do céu confirmando como verdadeiros o ensino e a missão de Cristo. Assim, aconteceu que aqueles que aceitavam a religião de Jesus Cristo não apenas acreditavam numa vida futura, como também acreditavam que essa vida futura seria feliz ou infeliz segundo esta vida atual fosse virtuosa ou não. Os convertidos ao Cristianismo, enquanto viviam neste mundo, não viviam principalmente por ele, mas por aquela vida no além, que seria interminável. Isso os fez não apenas evitar o mal que prevalecia, como também os inspirou àquela conduta virtuosa que conquistou a admiração do mundo. Percebendo que o mundo com sua vaidade era uma coisa passageira, eles se consideravam peregrinos a caminho do seu real e eterno lar. Essa realização de uma vida abençoada no além para todos aqueles que viveram como Cristo prescreveu, trouxe esperança e paz para um povo desesperado.
Para aqueles que estavam em situação de pobreza, doença ou infortúnio, era garantido que os males desta vida poderiam ser os meios de adquirir uma vida eterna de bem-aventurança. E assim aconteceu que a Roma dos Césares se tornou a Roma dos Papas e o Império Romano pagão tornou-se Cristão. Tudo isso foi resultado da crença na ressurreição. Algumas pessoas tendem a pensar que somente nestes últimos tempos houve um exame minucioso dos fatos. Eles esquecem que o período em que a ressurreição ocorreu e foi pregada foi o mais cético da História. Nunca antes ou desde então houve uma análise mais profunda do pensamento e dos eventos humanos. Esse período é conhecido na História como a Idade de Ouro da Literatura. Filósofos, cientistas, historiadores e estadistas floresciam então e seus escritos foram considerados dignos de preservação até os nossos dias. Consequentemente, a ressurreição teve que apresentar evidências capazes de um exame minucioso para ser crida. A religião de Cristo era totalmente diferente e oposta à religião dominante da época. A menos que a sua principal credencial – a Ressurreição – tivesse as marcas mais claras de genuinidade, a religião fundada sobre ela nunca teria suplantado o agradável culto do Paganismo.
O Paganismo lisonjeava o homem e cedia às suas paixões. O Cristianismo humilhou o homem e submeteu suas paixões. A menos que a ressurreição fosse um fato, o credo austero de Cristo nunca poderia ter triunfado sobre a agradável e fácil religião de Estado dos arrogantes romanos. Ainda assim, triunfou e o trono de César tornou-se o trono do Vigário de Cristo; e o Cristianismo tornou-se a Religião da Civilização.
O estabelecimento do Cristianismo sem a ressurreição – diz Santo Agostinho – seria um milagre ainda maior do que a própria ressurreição. Assim como um delicado lírio cresce no asfalto, a religião espiritual e austera de Cristo não se enraíza no solo pagão senão pelo poder divino. O poder divino foi a ressurreição de Cristo, um fato tão incontestável que jamais foi negado pelos judeus. Eles se esforçaram para impedir que os Apóstolos pregassem a ressurreição, mas nunca negaram que isso tivesse ocorrido. Pode-se perguntar: como eles poderiam deixar de se convencer da missão de Cristo se reconheceram a ressurreição? Pergunto: como eles poderiam deixar de reconhecer a missão de Cristo após a ressurreição de Lázaro, que estava morto e enterrado? Após a ressurreição de Lázaro, eles realizaram um Conselho, admitiram a ressurreição e viram todo o povo do lado de Jesus; então planejaram matá-Lo e também matar Lázaro, a testemunha viva do Seu poder divino (cf. João 11,45-53; 12,9-11).
Os líderes judeus estavam convencidos, mas não se converteram. Seus corações eram maus. Prova disso é que eles planejaram deliberadamente os assassinatos – um duplo assassinato -, a fim de acabar com Cristo e Lázaro, e assim manter sua supremacia sobre o povo. Eles odiavam a Cristo porque Ele revelou a hipocrisia deles e expôs os seus vícios. Aqueles que se inclinam para um mau caminho nunca param. Por intriga e propaganda, eles finalmente levaram Cristo a uma morte ignominiosa. Eles pensaram, então, que tudo havia terminado em relação a Cristo, que tinham triunfado. Mas foi o começo da vitória de Cristo. Como o grão de trigo lançado na terra morre antes de passar a uma vida nova e multiplicada, Cristo, depois de expirar na cruz e ser sepultado, ressuscitou gloriosamente e tornou-se, por Sua ressurreição, a fonte da vida eterna para todos aqueles que acreditam Nele e vivem por Ele. Agora, dois mil anos depois de Seus inimigos terem anunciado o fim Dele e da Sua missão, Ele vive no coração de centenas de milhões de súditos em todo o mundo, em todas as nações e em todas as terras conhecidas pelo homem.
A morte e ressurreição de Cristo realizaram o que os Seus ensinamentos, obras e milagres não realizaram. Tudo isso preparou o caminho. Foi a ressurreição que tornou eficaz na vida dos homens a doutrina que Ele ensinou enquanto estava entre os homens. Até a época de Cristo havia, é verdade, uma crença universal numa vida futura. Mas não era, exceto em certos casos, um personagem que influenciava efetivamente a conduta. A ressurreição de Cristo demonstrou não apenas uma vida futura, mas também a verdade do que Ele ensinou sobre ela. Uma vida futura em si significa apenas existência futura. Mas Cristo ensinou que a vida futura seria eternamente feliz ou eternamente infeliz de acordo com a boa ou má conduta do homem nesta vida. Foi isso que tornou difícil para a ressurreição ganhar crença entre os homens. Se crer na ressurreição não trouxesse consequências, seria fácil explicar por que uma doutrina consoladora como a ressurreição deveria ganhar o favor e o consentimento da humanidade. Mas como crer na ressurreição implicava viver de acordo com a austera moralidade do Evangelho, a ressurreição foi submetida às mais severas provas já aplicadas a qualquer fato entre os homens. O fato de milhares na própria cidade da ressurreição abraçarem a religião da ressurreição no primeiro dia em que foi pregada é uma evidência convincente da sua realidade. E quando refletimos que quase todos aqueles que se tornaram seguidores do Crucificado não apenas abraçaram uma vida de virtude exaltada, como também foram perseguidos com prisão, exílio e morte, torna-se evidente que a base da sua fé – a Ressurreição – deveria ter apresentado as credenciais mais fortes o possível para sua genuinidade.
Além do ensino da revelação, há muitas razões para que haja uma vida futura. A filosofia ensina que tudo o que pertence ao homem em todos os lugares e em todos os tempos é natural para ele, ou seja, é inerente à sua natureza. A fala, por exemplo, é natural para o homem. Pode haver indivíduos ou grupos aqui ou acolá que não possuem a faculdade de falar, mas esses são exceção e provam a regra. Tudo o que é natural para o homem tem o Criador como Autor e é dado ao homem para um propósito. O apetite por comida é um desejo natural de nutrição, implantado na natureza pelo Criador para que o homem possa sustentar a vida. Todo apetite natural do homem tem algo correspondente a ele, que é o seu objetivo e que se destina a satisfazê-lo. Há um desejo no homem tão intenso e universal quanto o da comida: é o desejo de felicidade. Se você analisar as suas ações de um dia, mês ou ano, descobrirá que, consciente ou inconscientemente, sempre procurou satisfazer, de uma maneira ou de outra, um desejo de felicidade. Você pode se enganar no que faz a felicidade, mas não erra de que o seu objetivo foi a felicidade. Não há nada nesta vida que satisfaça a busca instintiva do homem pela felicidade. A menos que, portanto, exista uma vida futura, em que esse apetite natural encontre o seu objetivo, o Criador nos deu um apetite em vão, o que seria contrário à sabedoria divina. Segue-se, portanto, que existe uma vida futura em que a felicidade, o significado, a paz, o descanso, o contentamento e o cumprimento dos desejos naturais podem encontrar o seu fim. Não há felicidade permanente nesta vida. Os mais felizes da humanidade estão sempre na incerteza: acidente, morte, possibilidade de reversões, sempre ameaçam a paz e a segurança. Não importa o que temos; queremos outra coisa. O que mais desejamos, quando atingido, perde o seu valor. Finalmente, a doença ou o acidente espera que cada um de nós chegue ao túmulo. Este final não corresponde ao desejo natural de felicidade permanente que é inerente ao homem, que tem Deus como Autor e que tem um objeto em algum lugar que responde ao seu chamado. Esse objeto não está aqui, portanto vem a seguir: há uma vida futura.
Outra razão que postula uma vida futura está baseada na justiça. Deus certamente é tão justo quanto as criaturas que Ele criou. Toda a nossa justiça tem sua fonte e origem no Criador. Ele deve possuir eminentemente quaisquer sentimentos de justiça que deu à humanidade, já que ninguém pode dar o que não tem. É uma questão de experiência que a justiça não reina nesta vida. Poder, astúcia e várias outras questões de força ou inteligência geralmente substituem a justiça entre a humanidade. Frequentemente os ímpios espertalhões triunfam sobre os bons. Muitas vezes pode tomar o lugar do correto. A menos que haja uma vida futura em que a justiça seja justa, devemos concluir que Deus é indiferente à justiça, ou melhor, que Ele favorece os injustos, que tantas vezes dominam sobre os justos e, em certos casos, prosperam até o fim, enquanto as suas vítimas perecem miseravelmente. A menos que estejamos preparados para admitir que a sabedoria e o poder demonstrados por Deus na criação do mundo estão ausentes no seu governo, devemos concluir que há uma vida futura em que a Providência justificará os seus caminhos.
Um terceiro motivo para a crença numa vida futura é o fato de que a crença nela é tão extensa quanto a raça humana. Nunca houve uma raça ou tribo de homens em qualquer lugar ou tempo que não acreditasse numa vida futura. Essa crença não se baseia na educação, no meio ambiente ou em qualquer circunstância da vida, mas é tão universal quanto a humanidade. Tudo o que é comum a toda a humanidade é natural para o homem e tem a sua origem no Autor da natureza; portanto, não pode ser falso. Pode haver várias formas dessa crença numa vida futura, algumas delas até degradantes, mas o fato da crença na existência futura encontrada em toda a humanidade, de uma forma ou de outra é incontestável.
Isso não significa que não sejam encontrados indivíduos ou grupos aqui ou acolá que neguem a existência futura. Essas exceções servem apenas para confirmar a verdade geral da declaração. No entanto, todas as razões apontadas para uma vida futura, embora lógicas e sólidas, não influenciaram a conduta humana em geral até a ressurreição de Cristo convencer o homem da certeza absoluta de uma vida além da sepultura. A ressurreição de Cristo não foi apenas a Sua própria ressurreição do túmulo, mas uma promessa para nós: “Eu sou a ressurreição e a vida: quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11,25). Foi de acordo com essa promessa de Cristo que o Apóstolo São Paulo declarou: “Se o Espírito Dele, que ressuscitou Jesus dentre os mortos, habita em vós, Aquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos também vivificará vossos corpos mortais, porque Seu Espírito habita em vós” (Romanos 8,11). Todos realmente ressuscitarão dos mortos, mas nem todos para o mesmo destino: “Chega a hora em que todos os que estão nas sepulturas ouvirão a voz do Filho de Deus e aqueles que fizeram boas coisas surgirão na ressurreição da vida; mas os que fizeram o mal, para a ressurreição do juízo” (João 5,28-29).
O importante, assim, não é a vida futura, que é inevitável, mas o caráter da vida futura – que dependerá do que fazemos. É isso que dá à ressurreição de Cristo o seu tremendo significado. É uma questão pessoal para cada um de nós, e uma questão vital, eternamente vital. A Páscoa comemora a ressurreição. É a maior solenidade do Cristianismo. Mudou o dia de culto do sabá (sábado) da Antiga Lei para o domingo da Nova. Todo domingo recorda a ressurreição, mas a Páscoa recorda de forma impressionante. Que coisa maravilhosa é Jesus Cristo ser a única pessoa da humanidade cuja entrada e saída no mundo são comemoradas [mais de] vinte séculos depois! Natal e Páscoa, as duas celebrações mais alegres e consequentes da Humanidade, recordam o nascimento e a ressurreição de Cristo. Uma crença que dura [mais de] dois mil anos entre as nações mais avançadas do mundo, e atualmente professada por toda o Cristianismo e celebrada como feriado mundial, deve repousar sobre os fundamentos dos fatos. Para todo homem que tenta fazer o certo, a ressurreição é o maior incentivo e a maior fonte de força, paz e alegria.

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