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Eram duas meninas, boas amigas, morando na
mesma rua: Fabíola e Fernanda. Fabíola era de família rica, enquanto
Fernanda se situava entre pobre e remediada. Ambas adoeceram. Doença
grave. Fabíola foi levada a um bom hospital da capital e Fernanda ao
posto de saúde do SUS, onde morreu dias depois. Fabíola deixou seu
leito, ainda convalescente, mas em tempo de levar uma florzinha e suas
lágrimas à sepultura da amiga. O caso é doloroso. Sobretudo porque —
murmuravam no bairro — se houvesse igualdade social, ambas teriam o
mesmo tratamento e Fernanda não teria morrido.
A realidade, no entanto, é outra: se houvesse igualdade social, ambas
estariam muito provavelmente mortas. Como morrem neste instante na
Venezuela e em Cuba. Fabíola e Fernanda estariam mortas como milhões de
pessoas morreram na Rússia comunista e além da cortina de ferro durante
70 anos. Morreram vítimas da igualdade social sob a forma de
coletivização induzida e de miséria, que é como a igualdade se
apresenta nos países socialistas.
Há décadas ouvimos de todo lado louvores à igualdade. À esquerda e
mesmo à direita. Se se quiser ser bem visto em círculos mundanos, basta
dizer: "Oh, as diferenças sociais... é preciso certo
nivelamento". Aquele que disser isto passará por generoso e
altruístico, sobretudo se tem na mão um copo de whisky e sob a
grife de seus sapatos um espesso tapete. Assim fazem os próceres da
igualdade, de Castro a Lula. Servem-se do poder servindo sua fortuna
pessoal com desprezo pelo povo. Postos de saúde do SUS dificilmente se
encontram em vizinhança de edifícios com tríplex no Guarujá...
São louvores hipócritas, pois todos sabem que a igualdade é uma utopia
que contradiz a Criação divina. Na Terra todos os seres e no firmamento
todas as estrelas diferem profundamente uns dos outros. "Stella
differt stella" (1Cor 15, 41), diz o Apóstolo. A camarilha do
PT, por exemplo, tanto falou em igualdade que, uma vez no poder, não
fez senão elevar-se, em pouco tempo, muito acima do público... graças
aos cofres públicos.
Ocaso
de um mito
Mas os tempos estão mudando. O solo vem se movendo sob o engodo
socialista. Foram-se os dias em que, ingênuas ou lerdas, maiorias
acreditavam que a generosidade era o móvel ideológico do socialismo.
Louvores se deem ao nosso Brasil que abalou o solo do Planalto. Uma
clara determinação manifestada nas ruas fez a profilaxia do suborno
político e empresarial erigido em método de governo. Um governo que
propugnava a igualdade social. Um governo que empurrava à falência um
País de imensas riquezas. Tudo se passa como se para os socialistas as
transformações sociais se dão segundo o determinismo histórico de Marx,
em evolução materialista: Tese — a igualdade; Antítese — a burguesia;
Síntese — tríplex e fazendas à vontade.
Sim, em datas recentes, o Brasil foi o primeiro a exorcizar o mau-olhado
comuno-elitista (perdoem-me o paradoxo, mas já disse acima que a
esquerda é hipócrita). O povo saiu às ruas aos milhões, repetidas
vezes, bradando “fora PT”. Neste momento de escuridão socialista
aparecem na Europa críticas substanciosas e bem fundamentadas aos
princípios igualitários. Eis uma delas.
A
desigualdade faz bem
Este é o título de um livro (foto abaixo) lançado em novembro último na
Itália pelo jornalista Nicola Porro (foto acima) , vice-diretor de “Il
Giornale”. Seu livro é uma coletânea de artigos sobre escritores —
cerca de 50 autores de nomeada — que mostram o absurdo do
igualitarismo. Entre eles estão Alexis de Tocqueville, Milton Friedman,
Raymond Aron, Luigi Einaudi.
O mito da igualdade foi criado pela repetição
à saciedade em escolas, universidades, imprensa rádio e televisão — e
até mesmo em púlpitos — durante décadas, de que o nivelamento traz o
crescimento. Como é possível? Pergunta em uma de suas obras Plinio
Corrêa de Oliveira: ao se nivelar não se elevam vales, mas corta-se o
cimo de montanhas.
Não obstante a lógica elementar, em círculos
tidos como bem informados, a igualdade era acatada como um dogma
infalível. Não se podia refutar. Toda refutação arriscava cair no
ridículo. Se é que a refutação seria ouvida. E, no entanto, o mito era
sempre desmentido pelos fatos. A crença na igualdade tinha o caráter de
uma religião laica. A mentira muito difundida adquire o caráter de
verdade. Um de seus axiomas garantia que 1% da população mundial se
enriquece continuamente à custa dos 99% restantes. Mas todas as
evidências nos dizem, escreve Nicola Porro, que o desenvolvimento
econômico nos últimos 30 anos pôs ao alcance de todas as classes
sociais bens de consumo maiores do que o progresso obtido nos últimos
cinco séculos.
Como provar? Basta olhar em torno: motos,
supermercados, turismo de massa. Mas o mito persistia. E muitos,
impenitentes, ainda o repetem. Ele penetrou a sociedade como uma droga
intelectual, constituindo-se no verdadeiro ópio do povo. De tal modo
essa espécie de toxicodependência penetrou nos espíritos, que mesmo os
que não creem na redenção pela igualdade, ao criticá-la, falam em voz
baixa, circunspectos, cheios de receios.
Ricos
à custa dos pobres?
“A desigualdade faz bem”, cita ainda o político italiano
Antonio Martino, duas vezes ministro entre 1994 e 2006: “Não é
verdade que a riqueza dos ricos seja a causa da pobreza dos pobres”.
O mais das vezes o contrário é verdadeiro: os pobres seriam menos
pobres se o número dos ricos fosse maior. “O melhor modo de não ser
pobre é não fazer parte deles”, dizem os norte-americanos, aliás,
tão bem sucedidos em matéria de riquezas. Cita ainda Milton Friedman
(foto abaixo), prêmio Nobel de Economia (1976) em seu livro Liberdade
de escolha:
“O ponto chave não é apenas o fato de que a
prática da igualdade contradiz a realidade. O ponto chave é sobretudo o
fato de que existe uma contradição fundamental entre o ideal da
distribuição igual a todos e o ideal da liberdade individual.” Esta é uma das razões pelas quais não houve e
não pode haver liberdade nos países socialistas: a distribuição igual a
todos prejudica os mais capazes e os mais aplicados. Estes,
desestimulados por um salário igualmente dado a esforçados ou
relaxados, cruzam os braços; cai a produção e a pobreza se estabelece.
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Escreve Harry G. Frankfurt, filósofo e
professor em grandes universidades norte-americanas: “Os pobres
sofrem porque não têm o suficiente, e não porque os outros têm
mais do que eles, nem mesmo porque alguns têm em demasia.”
Quando Obama, usando a grandiloquência dos
hipócritas, discursou: “A desigualdade é o desafio de nossa época”,
Harry Frankfurt revidou: "Pelo contrário, o desafio
fundamental para nós não é constituído pelo fato de que a renda dos
americanos é amplamente desigual, mas sim do fato de que muitas pessoas
são pobres.” Nicola Porro pergunta se alguém deseja o aumento dos
pobres. Ele diria que não. Alguém desejaria a diminuição do número dos
ricos e dos milionários? Ele acha que sim. Mas reduzir o número dos
ricos não resolve o problema dos pobres. Ao contrário, a existência dos
ricos aumenta a possibilidade de assistência aos pobres. A igualdade
seria obtida forçosamente com a diminuição do número dos ricos — e,
portanto, da riqueza também. E assim todos se empobreceriam.
*
* *
Na medida em que as pessoas se preocupam com a
igualdade econômica, elas passam a trabalhar não mais para satisfazer
às suas necessidades ou aos legítimos interesses de sua família, mas
para controlar a quantia de dinheiro que seus colegas recebem. Esse
comportamento, diz Harry Frankfurt, essa igualdade escraviza o homem,
separando-o de suas necessidades individuais e levando-o a concentrar
sua atenção nos desejos e necessidades que já não são os seus. Nasce o
regime da inveja, tão característico do mundo socialista. Exemplificava
Plinio Corrêa de Oliveira: nesse regime, se alguém que possui um
luxuoso Mercedes-Benz vê seu colega passar num Rolls-Royce, sentir-se-á
diminuído e gritará: “Injustiça!”. Ele quer a igualdade, e não aquilo
que por justiça lhe cabe. Mas a igualdade ostentada é para-vento para
sua inveja.
O Papa Leão XIII, em sua Encíclica Rerum Novarum (1891), dá
clara confirmação a esta questão: “Os socialistas vão contra a
justiça natural e
quebram os laços da família. Mas, além da injustiça do seu sistema,
veem-se bem todas as suas funestas consequências: a perturbação em
todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para
todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os
descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade
privados dos seus estímulos; e, como consequência necessária, as
riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão
sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria.”
E assim Fabíola não morreu. O Brasil havia
rejeitado os rumos que levavam a “essa igualdade tão sonhada”. Justiça
foi feita. Fernanda merece nossa oração.
( * ) Nelson Ribeiro
Fragelli é jornalista e colaborador da ABIM
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