segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Desapegue-se e conseguirá ver



Não se pode servir a dois senhores, porque se servirá
melhor a um do que a outro, ensinou Jesus

Ainda nas suas palavras, não é possível servir em simultâneo Deus e Mamon, sendo este último uma divindade de certo povo da época. E <<O Evangelho Segundo o Espiritismo>>, de Allan Kardec, desdobra o tema, demonstrando que os entes mamônicos são tudo o que limita o homem pelo seu apego à matéria, seja esta vista como a eleição suprema de bens materiais sobretudo o resto, seja o estar agarrado como uma lapa a cargos que, na aparência, darão poder ou importância, seja no movimento espírita ou fora dele.

De uma maneira ou de outra, ao estudar-se espiritismo compreende-se com facilidade que todo o cenário da passagem de cada um de nós pela Terra como espírito encarnado - leia-se por força da reencarnação - foi definido segundo as necessidades evolutivas de cada pessoa vista como uma individualidade. Uns precisam desenvolver mais que outros a fraternidade, outros precisam deixar para trás a preguiça mental, outros querem compensar aqueles que prejudicaram em vida anterior, outros...

Ou seja, matriculamo-nos na vida material ao renascermos e, gozando a breve prazo de um benéfico esquecimento do passado reencarnatório e da erraticidade, como se entrássemos numa escola, aparecem, à medida que se torna oportuno, os materiais de aprendizado, como o lápis e a borracha, o caderno e o livro, e mesmo a sala de aula e a professora. Ao renascermos, os recursos de aprendizado chamam-se família, eventualmente profissão, quadro sociocultural, etc.

Daí que, como ensinam os espíritos esclarecidos, seja uma ilusão confundir o usufruto desses recursos de aprendizado com a sua posse, que nunca existe a não ser sob o poder do calendário: hoje gozaremos disto e daquilo, mas para o ano que vem, ou até amanhã, quem sabe?

Que pensaríamos de um aluno que usasse o seu tempo escolar apenas para idolatrar o lápis e a borracha, o caderno e o livro, sem os usar como trampolim para outros domínios do conhecimento?!


Nas reuniões mediúnicas a vida revela-se. Um espírito desencarnado com características de idoso pai de família manifesta-se. Fala através de um médium na reunião adequada. Ferido no seu amor-próprio confessa a quem tem por tarefa ajudá-lo que a sua própria família já não o respeita! As vezes está a ver televisão no seu sofá predileto, como é hábito. Surge um qualquer familiar e, se não se levanta, não é que se lhe sentavam no colo? E pior: deixaram de lhe pôr prato à mesa! Fala-lhes, para reclamar, e não há um que lhe responda!...

É lei da natureza: o apego aos bens materiais limita as percepções dos espíritos. Outras vezes é o professor catedrático ou então o religioso de alto cargo que o aponta, na voz do médium, mas que ainda não descobriu que fazer da vida espiritual em que se encontra, sem conseguir ver os espíritos que o podem encaminhar.  Se for algum espírita, provavelmente evitará identificar-se... por vergonha.

Quando Allan Kardec escreve <<fora da caridade não há salvação>>, refere-se a isso. De nada nos serve o conhecimento proporcionado pelo espiritismo se não nos tornarmos no quotidiano melhores pessoas. Se nos ofendem, seja mais problema do ofensor que nosso. Ensina o espiritismo que o perdão é libertador. Se nos desprezam, saibamos que Deus conhece como ninguém a seriedade dos nossos propósitos. Se lhe dizem que correm consigo a pontapé, guarde-se na sua paz já que a consciência tranquila é o maior bem. A vida propõe: saibamos reter dela o que constrói e nos possa trazer amadurecimento. Isso fica, edifica e oferece bem-estar interior. Tudo o resto é demasiado efêmero.





Por Jorge Gomes 

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