quinta-feira, 12 de maio de 2016

Ponte para a Sanidade


A faculdade mediúnica é indício de algum estado patológico ou simplesmente anormal?

- Às vezes anormal, mas não patológico. Há médiuns de saúde vigorosa. Os doentes o são por outros motivos. (O Livro dos Espíritos. Allan Kardec. São Paulo: Lake, 2007, p. 184)



Na Antiguidade, a cura das doenças era assunto dos sacerdotes e, portanto, da religião. Os médicos do clero tratavam os doentes por meio de rituais e cantos mágicos em santuários enormes. A enfermidade era considerada como a cólera de Deus, e os religiosos atuavam como intermediários ou “pontes” entre a Divindade e os homens. Operavam como “pontífices”, ou seja, “construtores de pontes” (do latim “pontifex”, palavra para designar sacerdote). Há muito tempo a tradição católica presta homenagem ao Papa, conferindo-lhe o título de Sumo Pontífice.

No passado, as enfermidades eram vinculadas à culpa, isto é, aos pecados. O arrependimento dos erros estava intimamente ligado à cura do doente; a penitência reconciliava a criatura novamente com Deus.

Como os médiuns, na atualidade, são denominados “intermediários” ou “pontes” entre o mundo físico e o espiritual, e a mediunidade é vista, muitas vezes e de forma confusa, como “dádiva sagrada” ou “corretivo divino”, isso pode levar as criaturas a tirar conclusões equivocadas.

Todos nós somos herdeiros de inúmeras experiências do pretérito. Encontram-se impressos em nossos painéis do inconsciente profundo ideias e conceitos incorretos, remanescentes do passado distante, depositados desde tempos imemoriais em nosso arcabouço psicológico. É preciso renovarmos essas concepções inadequadas sobre a Espiritualidade, para melhor entendermos os mecanismos da Vida Providencial. Em muitas circunstâncias, interpretamos novos conhecimentos sem dissociar nossos velhos conceitos.

A capacidade mediúnica é considerada uma percepção inerente à estrutura psíquica das criaturas; por isso é que a encontramos nos mais diferentes níveis de consciência da humanidade. Ela não é moral, mas sim amoral. É simplesmente uma das funções psicofisiológicas do ser humano.

Em virtude disso, podemos enquadrá-la como um dos sentidos de que a alma se utiliza a fim de manifestar-se e desenvolver-se, gradativamente, para a plenitude da vida.

A faculdade medianímica não gera doenças. Ela não pode ser responsabilizada pelo estado patológico das criaturas; é, antes de tudo, uma excelente ferramenta para ajudá-las a despertar espiritualmente e a compreender a si mesmas, os outros seres e o Universo. Quando exercitada, porém, de modo impróprio pode trazer riscos às pessoas psicologicamente frágeis ou vulneráveis.

O fenômeno psíquico em si não produz a insanidade. No entanto, toda e qualquer faculdade, quando exercida de forma exaustiva e prolongada, pode conduzir à fadiga ou à enfermidade.

Uma pessoa tem em alto grau o dom de cantar e o utiliza, ou para glorificar as belezas da Terra, ou para exaltar canções obscenas. Mas, neste caso, sua voz não pode ser julgada imoral.

Os olhos, além de transmitir nossos sentimentos e intenções, também colhem as impressões e a disposição dos outros. Eles tanto expressam emoções puras e sadias, que nascem do coração, como também inveja e revolta, que exalam um brilho estranho de hipocrisia. Contudo, a visão não pode ser acusada de agente de falsidade ou desequilíbrio.

As mãos, quando empregadas na canalização da energia nuclear, podem iluminar e aquecer os lares; assim como podem explodi-los, se utilizadas indevidamente.

O sexo é um dos departamentos mais sublimes da natureza humana. Cria, através das emoções sexuais, as energias necessárias para a manutenção dos afetos e a materialização das formas. Há, porém, quem o utilize para a satisfação das sensações mais grosseiras e torpes. Isso, contudo, não lhe tira o mérito sublime para o qual foi criado.

É sempre a criatura que, servindo-se de seus sentidos, dá à sua existência um destino construtivo ou destrutivo. Nós é quem decidimos que fim vamos dar aos nossos recursos e possibilidades. Todavia, não podemos nos esquecer de que somos livres para escolher nossos atos e atitudes, mas prisioneiros de suas consequências.

Precisamos aprender a usar a mediunidade, assim como usamos normalmente as nossas capacidades humanas - a percepção, a atenção, o bom senso, a memória, o critério lógico, a linguagem, enfim todas as atividades do nosso reino interior.

Por sua vez, não é recomendável utilizar as faculdades psíquicas para explorar “outros mundos”, até que tenhamos o pleno controle do mundo em que estamos vivendo aqui e agora. Desenvolver nosso “sexto sentido” não é um meio de resolver problemas comportamentais cuja solução está ao nosso alcance; de buscar auxílios imediatistas, de tirar proveitos pessoais, de conseguir respostas paliativas para problemas reais. Quando começamos a vivenciar experiências extrassensoriais, é a hora urgente de intensificarmos a análise distintiva da realidade e da ilusão. Em muitas ocasiões, habilidades transcendentais quando mal elaboradas podem nos levar a ser “servos apaixonados”, mas “discípulos distraídos”.

A compreensão da faculdade mediúnica torna-se confusa e difícil para nós na medida em que também vemos os traços característicos de certas doenças mentais. Pois os sinais precursores da mediunidade podem eclodir e ser confundidos com os sintomas das deficiências fisiopsíquicas. Em razão disso, nem sempre se pode compreender com facilidade, ou ver com clareza, a distinção entre as manifestações mediúnicas, em seu início, e os estados doentios.

Mediunidade é um produto do processo de desenvolvimento da natureza humana. Médiuns não são “agraciados”, nem “enfermos”. São uma verdadeira “ponte para a sanidade”. Podem, sim, se tornar verdadeiros pontífices (“construtores de pontes”) em busca da saúde integral - estado de consciência em harmonia plena com as leis naturais do Universo. Religando a si mesmos com a Fonte Divina, eles são capazes de preparar caminhos para que se estabeleça a cura real para a humanidade.

Diante dessas nossas considerações, finalizamos com a resposta dos Espíritos Superiores quando afirmam a Allan Kardec que o fenômeno mediúnico pode ser considerado “às vezes anormal, mas não patológico; há médiuns de saúde vigorosa; os doentes o são por outros motivos”.

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