quinta-feira, 7 de abril de 2016

Evolução e finalidade da Alma – parte 3

Cada alma humana é uma projeção do grande Foco Eterno e é isso o que consagra e assegura a fraternidade dos homens. Temos em nós os instintos animais, mais ou menos comprimidos pelo trabalho longo e pelas provas das existências passadas, e temos também a crisálida do anjo, do ser radioso e puro, que podemos vir a ser pela impulsão moral, pelas aspirações do coração e pelo sacrifício constante do “eu”.

Tocamos com os pés as profundezas sombrias do abismo e com a fronte as alturas fulgurantes do céu, o império glorioso dos Espíritos. Quando aplicamos o ouvido ao que se passa no fundo do nosso ser, ouvimos como o ruído de águas ocultas e tumultuosas, o fluxo e refluxo do mar agitado da personalidade que os vendavais da cólera, do egoísmo e do orgulho encapelam.

São as vozes da matéria, os chamamentos das baixas regiões, que nos atraem e influenciam ainda as nossas ações; mas podemos dominar essas influências com a vontade, podemos impor silêncio a essas vozes.


Quando em nós se faz a bonança, quando o murmúrio das paixões se aplaca, eleva-se então a voz potente do Espírito Infinito, o cântico da vida eterna, cuja harmonia enche a Imensidade. E quanto mais o Espírito se eleva, purifica e ilustra, tanto mais o seu organismo fluídico se torna acessível às vibrações, às vozes, ao influxo do Alto.


O Espírito Divino, que anima o universo, atua sobre todas as almas; busca penetrá-las, esclarecê-las, fecundá-las; mas a maior parte se deixa ficar na escuridão e no insulamento. Demasiado grosseiras ainda, não podem sentir-lhe a influência nem ouvir os seus chamados.


Muitas vezes ele as cerca, as envolve, procura chegar às camadas profundas das suas consciências, acordá-las para a vida espiritual. Muitas resistem a essa ação, porque a alma é livre; outras somente a sentem nos momentos solenes da vida, nas grandes provas, nas horas desoladas em que experimentam a necessidade de um socorro do Alto e o pedem.


Para viver da vida superior a que se adaptam essas influências, é necessário ter conhecido o sofrimento, praticado a abnegação, ter renunciado às alegrias materiais, acendido e alimentado em si a chama, a luz interior que se não apaga nunca e cujos reflexos iluminam, desde este mundo, as perspectivas do Além.


Só múltiplas e penosas existências planetárias nos preparam para essa vida. Assim se desvenda o mistério da Psique, a alma humana, filha do céu, presa temporariamente na carne e que volta para sua pátria de origem ao longo das milhares de mortes e renascimentos.


A tarefa é árdua e as subidas a escalar são difíceis; a espiral assustadora a ser percorrida se desenrola sem um término aparente; mas nossas forças não possuem limites, pois podemos renová-la incessantemente pela vontade e pela comunhão universal.


E, depois, não estamos sozinhos para efetuar essa grande viagem. Não apenas nos reuniremos, cedo ou tarde, com os seres amados, os companheiros de nossas vidas passadas, aqueles que compartilharam nossas alegrias e nossos tormentos, mas também com outros grandes seres, que também foram homens e que agora são espíritos celestes e permanecem ao nosso lado nas passagens difíceis.


Aqueles que nos ultrapassaram no caminho sagrado não se desinteressam de nossa sorte, e quando a tormenta maltrata nossa estrada, suas mãos caridosas sustentam nossa caminhada.


Lenta e dolorosamente, amadurecemos para as tarefas cada vez mais elevadas; participamos mais da execução de um plano cuja majestade enche de uma admiração comovente aquele que nele entrevê as linhas imponentes.


À medida que nossa ascensão se acentua, maiores revelações nos são feitas, novas formas de atividade, novos sentidos psíquicos nascem em nós, coisas mais sublimes nos aparecem. O universo fluídico sempre se mostra mais vasto para nosso desenvolvimento; ele se torna uma fonte inesgotável de alegrias espirituais.


Posteriormente, chega a hora em que, após suas peregrinações pelos mundos, a alma, das regiões da vida superior, contempla o conjunto de suas existências, o longo cortejo dos sofrimentos por que passou. Esses sofrimentos são o preço da sua felicidade, essas provas redundaram todas em seu proveito, afinal ela o compreende.


Então, mudam-se os papéis. De protegida passa a protetora; envolve com a sua influência os que lutam ainda nas terras do espaço, insufla-lhes os conselhos da própria experiência; sustenta-os na via árdua, nas sendas ásperas que ela própria percorreu.


Conseguirá a alma chegar um dia ao termo da sua viagem? Avançando pelo caminho traçado, ela vê sempre se abrirem novos campos de estudos e descobertas.


Semelhantes à corrente de um rio, as águas da Ciência suprema descem para ela em torrente cada vez mais caudalosa. Chega a penetrar a santa Harmonia das coisas, a compreender que não existe nenhuma discordância, nenhuma contradição no universo; que por toda parte reinam a ordem, a sabedoria, a providência, e a sua confiança e seu entusiasmo aumentam cada vez mais.


Com amor maior ao Poder Supremo, ela saboreia de maneira mais intensa as felicidades da vida bem-aventurada.


Daí em diante está intimamente associada à obra divina; está preparada para desempenhar as missões que cabem às almas superiores, à hierarquia dos Espíritos que, por diversos títulos, governam e animam o Cosmo, porque essas almas são os agentes de Deus na obra eterna da Criação, são os livros maravilhosos em que Ele escreveu os seus mais belos mistérios, são como as correntes que vão levar às terras do espaço as forças e as radiações da Alma Infinita.


Deus conhece todas as almas, que formou com o seu pensamento e o seu amor. Sabe o grande partido que delas há de tirar mais tarde para a realização das suas vistas.


A princípio, deixa-as percorrer vagarosamente as vias sinuosas, subir os sombrios desfiladeiros das vidas terrestres, acumular pouco a pouco em si os tesouros de paciência, de virtude, de saber, que se adquirem na escola do sofrimento.


Mais tarde, enternecidas pelas chuvas e pelas rajadas da adversidade, amadurecidas pelos raios do sol divino, saem da sombra dos tempos, da obscuridade das vidas inumeráveis, e eis que suas faculdades desabrocham em feixes deslumbrantes; a sua inteligência revela-se em obras que são como que o reflexo do Gênio Divino.


Texto do Livro: O Problema do Ser, do Destino e da Dor

Autor: Leon Denis

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