quinta-feira, 3 de março de 2016

O QUE JESUS REALMENTE ENSINOU (jcl-ribpreto-2006)

      Amigos, coloco este tópico no quadro "espiritualismo" já que contém ensinamentos de Paulo, com quem a doutrina espírita, aliás, todas as doutrinas cristãs, não simpatizam e não aceitam muitos de seus ensinamentos.      
                                  
       Infelizmente, as igrejas cristãs não divulgam muitos dos mais importantes ensinamentos de Jesus. Nelas, ensina-se sobre a vida desse homem iluminado, mas quase nada sobre aquilo que ele, em seu tempo, tentou ensinar e fazer com que os discípulos e o povo compreendessem. Ele ensinou sobre o reino de Deus, enquanto as igrejas cristãs ainda hoje quase só ensinam sobre sua vida. 
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       Jesus teve o percebimento de que ele era a própria divindade, ‘eu e o Pai somos um’. Compreendeu, então, e ensinou que o caminho é para dentro, para o interior do próprio ser humano, e mostrou isso ao afirmar, de modo claro, que ‘o eu é o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão pelo eu’, como igualmente ensinaram outros, entre eles S. Agostinho ao dizer que, depois de muito procurar por Deus fora dele mesmo, nas coisas do mundo, foi encontrá-lo dentro dele mesmo.  

       Do mesmo modo, Teresa de Ávila dizia ser absurdo buscarmos Deus fora de nós, nos céus; que devíamos, antes, procurá-lo dentro de nós mesmos, pois é em nossa alma que o Senhor habita, como Paulo também falou: ‘O Senhor habita em vossos corações”, “Vós sois o templo do Altíssimo’. 

       Jesus ensinou a nos fecharmos em nós mesmos (nada de fora a nos perturbar) e, em oculto, em segredo, isto é, em silêncio total, inclusive mental, ‘orarmos’ ao Pai que, em oculto, ali dentro, nos ouve, mas essa oração não é aquilo que imaginamos ser.  

       Como ensinou Teresa de Ávila, santa e doutora teologal dos católicos, é a ‘oração de recolhimento’, na qual se recolhem todos os sentidos, lembranças, expectativas, enfim, todas as operações mentais; se bem realizada, entra-se, espontaneamente, na ‘oração de quietude’, na qual há total silêncio mental; o cérebro, a mente, cessam sua ação e o ego se afasta. E, quando o ‘eu não é, Deus é’. O único obstáculo para a aproximação do divino é o ego, com todas suas idiossincrasias (maneira própria de sentir, de compreender; lembranças, expectativas, ilusões, crenças, ignorância, remorsos, emoções, culpas, desejos, medos), que poluem a consciência localizada (individual), não permitindo que ela perceba a divindade que nela habita.

       Jesus disse: ‘ninguém vai ao Pai senão por mim (pelo Eu)’, e ‘eu sou (o Eu é) o caminho, a verdade e a vida’, isto é, no Eu está o caminho, que é, pois, para dentro de nós mesmos; aí está a verdade e a vida. Ele falou também: ‘não direis que o reino está ali ou acolá, pois o reino de Deus já está dentro de vós’, como Paulo, que disse muitas vezes: ‘não sabeis que sois o templo do Altíssimo e que o Altíssimo habita em vós?’

       As igrejas esqueceram esses ensinamentos e se ativeram à história da vida de Jesus, não transmitindo as coisas profundas que Jesus tentava ensinar ao povo. No cristianismo primitivo, o cristianismo dos primeiros séculos, o objetivo primordial da religião era re-ligar a criatura ao Criador, isto é, levar o ser humano à união pessoal com Deus. Teresa de Ávila, doutora teologal da igreja de Roma, ensinava q essa união pode se dar através da ‘oração de recolhimento’ e da ‘oração de quietude’; por uma extensa gama de fatores, a igreja, entre outras coisas, esqueceu de ensinar. 

       Na ‘oração de recolhimento’, a pessoa deve ‘recolher’ (procurar esquecer) suas faculdades de pensar, raciocinar, sentir, imaginar, recordar, ter expectativas, imaginações, desejos e emoções, e os sentidos, pois tudo isso é apenas obstáculo à oração. Se a oração de recolhimento for bem feita, redundará na ‘oração de quietude’, isto é, na quietude total da mente e do cérebro, que, então, sem nada que os perturbe ou ‘polua’, ficam em silêncio. Ocorre, daí, na mente, um total vazio, com a possibilidade de vir a ser preenchido por aquilo a que denominamos Deus. Como disse Ken Wilber, ‘o vazio que você vê quando olha atento para o nascedouro dos pensamentos pode, num relâmpago, mostrar a Realidade’. E como João da Cruz ensinou: ‘Na escuridão, a luz’.

       A oração de quietude nada mais é que a ‘meditação’ dos tempos antigos e atuais; exige a preparação, que consiste no recolhimento, ou cessação, sem esforço, de qualquer operação mental. Cessando o movimento mental, sobrevirá a quietude do cérebro, isto é, cessa a interferência do ‘eu/ego’ e, como afirma o profeta bíblico, ‘Aquieta-te e sabe: eu sou Deus!’, isto é, quando o ego é afastado de nossa percepção, o que percebemos é o próprio Deus. Quando ‘o eu não é, Deus é’. O obstáculo que nos impede a percepção do divino é, portanto, nosso próprio ego, a nossa mente localizada, com todo o seu conteúdo condicionado.

       Para conseguir esse estado de silêncio, é necessário que o pensamento, e tudo o mais que passa pela mente, cessem, e a atenção é fator decisivo para esse fim. A primeira lição de Teresa de Ávila, às noviças, era ‘atenção! atenção! atenção!’, ao momento presente, ao aqui-agora, sem lembranças, ressentimentos ou remorsos acerca do passado, e sem devaneios, sonhos ou expectativas, desejos e imaginações sobre o futuro. Daí ter Jesus ensinado que ‘a cada dia basta seu cuidado’ e que não nos preocupássemos com muitas coisas, já que ‘os lírios do campo e as aves do céu nem fiam nem plantam’, mas têm o abrigo e o alimento necessários, supridos que são pelo eterno e único supridor. 

       Um dos principais ensinamentos do iluminado, tanto que muitas vezes exorta-nos sobre isso, foi sobre a importância da atenção. Nesse sentido, a parábola das virgens insensatas; a do servo fiel, que aguardava a volta do patrão, e outras mais. Jesus enfatizou, sobremaneira, a realização do reino de Deus (‘buscai em primeiro lugar o reino de Deus’) afirmando que ele já está dentro de nós (‘não direis: ‘ei-lo aqui’, nem ‘ei-lo acolá porque o reino de Deus está dentro de vós’); que a percepção dessa realidade é a coisa mais importante que o ser humano tem a fazer (Jung) (‘o demais vos virá por acréscimo’), tanto que devemos, até mesmo, abandonar tudo o mais para termos esse percebimento. Assim, as parábolas do comprador de pérolas e a do homem que encontrou um tesouro no campo... 

       Fez ver que esse tesouro é mais importante que tudo o mais, a nada se comparando, em particular quando aconselhou a ‘buscar, em primeiro lugar, o reino de Deus’, porque, encontrado o reino, a iluminação, ‘tudo o mais virá por acréscimo’. 

       Disse, também, quando, pregando na sinagoga, lhe falaram que sua mãe e seus irmãos o procuravam: ‘Quem são minha mãe e meus irmãos? Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem as minhas palavras e as cumprem’, isto é, aqueles que buscam e, eventualmente, encontram o reino de Deus, pois esses seguiram seu conselho, são de sua mesma natureza, perceberam o que ele percebeu, realizaram o reino em si mesmos e, desse modo, compreenderam e podem também ensinar aquilo que ele ensinou. 

       Também, em afirmações aparentemente absurdas, disse que para essa busca, se preciso for, devemos ‘abandonar pai e mãe’ e que ele ‘não veio trazer a paz, mas a espada’, numa indicação de que aquele que deseja encontrar o ‘reino’ deve se violentar nos costumes e apegos, e não fazer o que o homem comum faz, porque, como Paulo ensinou, ‘a sabedoria de Deus é loucura para os homens; e a sabedoria dos homens é estultícia para Deus’. 

       Jesus ensinou, também, que o homem e Deus são um só ser, uma só mente, quando afirmou que ‘eu e o Pai somos um’, como também Paulo, em suas epístolas, dizendo ‘já não sou mais eu que vivo, é o Cristo que vive em mim’, que somos ‘co-herdeiros’ do reino e que somos iguais a Jesus, pois ‘se nós não ressuscitarmos, nem Jesus ressuscitou’.  

        Jesus foi um homem iluminado, isto é, um homem que percebeu a verdade, que ele e o Pai são um só. Como todos os iluminados, Jesus não se calou e se dedicou a ensinar ao povo como chegar, também, a essa realização. Muitos não compreenderam suas parábolas e seu sermão, pois ele falava do ponto de vista daquele que se realizou. Assim, a estranheza despertada por sua recomendação de oferecer a outra face; de dar também a capa, a quem lhe tirar as vestes; de orar pelos que nos fazem o mal; de perdoar setenta vezes sete vezes os que nos ofendem. Nada disso é estranho para um iluminado; ele já compreende e ama sem condições pois, pela iluminação, teve despertados o amor, como testemunham, quase insuportável pelos semelhantes, a sabedoria e a compaixão. 

       Também, exortou, àqueles que chegam á ‘luz’, que não a escondam sob o alqueire, mas a coloquem sobre o velador, para que ilumine a todos, isto é, ensinem suas verdades, a fim de que todos os que ainda estão na escuridão da ignorância tenham a mesma percepção que ele teve. Dessa percepção advêm bem-aventurança e compaixão, e pela compaixão, ante os sofrimentos e conflitos sem fim do ser humano, muitos enfrentaram a morte por não se calarem, tentando levar aos demais a bem-aventurança que a experiência lhes trouxe, assim como ensinar-lhes o caminho para realizá-la.

       Essa experiência, que coloca o homem em seu verdadeiro lugar no universo, mostrando-lhe que ‘eu e o Pai somos um’, é a experiência que, no dizer de Jung, representa o ‘sumum bonum’ para quem a teve, nada mais lhe sendo necessário, pois ‘o demais lhe virá por acréscimo’. Como Buda afirmou, ‘a iluminação é o fim de todo sofrimento’ e Jesus: ‘conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’.   

        Em diferentes épocas e lugares, os homens que ‘perceberam’ afirmaram que a vida só tem significado quando se chega ao verdadeiro autoconhecimento, isto é, ao conhecimento do que realmente somos. Por isso, a afirmação dos iluminados de que, enquanto estamos na escuridão, isto é, na ignorância do que somos, por não termos chegado ainda ‘lá’, não passamos de seres incompletos, ‘subumanos’, e que a vida só adquire significado quando temos a experiência de Deus (Teresa de Ávila: ‘tudo o mais é lixo se comparado com essa realização’; Maharesh Marish Yoge: ‘sem essa realização somos ainda subumanos’). 

       O sermão da montanha e, talvez, todas as palavras de Jesus, e de outros iluminados, foram ditos com a compreensão que o ‘percebimento’ lhes trouxe, isto é, do ponto de vista de quem se iluminou; assim, muitas de suas recomendações são interpretadas de modo equivocado e, por isso, consideradas absurdas. 

       Por motivo de crença, as religiões populares exortam os seus fiéis a obedecerem ou a tentarem obedecer aos preceitos tidos como ‘a palavra de Deus’. Naturalmente, aquele que segue tais ensinamentos se sente seguro e feliz, pois, se tem fé, está convencido de que, após a morte física, será recompensado, pois é essa a promessa dessas doutrinas.

       Essas religiões apregoam a necessidade de adorar e louvar o Deus único; de obedecer, sem questionamento, as regras impostas aos féis como se fossem, no dizer dos pregadores, a ‘palavra do Senhor’. Afirmam mesmo que, se alguém não crê ou não aceita a Jesus como o seu Salvador, estará perdido para sempre, sem possibilidade de remissão (como o chefe da igreja católica que, não há muito tempo, afirmou que somente dentro de sua igreja há salvação). Esquecem-se, evidentemente, de que na sua própria escritura sagrada está a epístola do porta-voz do cristianismo, Paulo, que além de recomendar ‘estudai de tudo e guardai o que for bom’, reza que todos somos ‘co-herdeiros’ e iguais a Jesus (Paulo: ‘se nós não ressuscitarmos nem Jesus ressuscitou’ e ‘o gentio é igual ao judeu... ’), como as tradições místicas do Oriente, que afirmam que já estamos desde sempre salvos, pois, se Deus é que ‘opera em nós o pensar, o desejar e o fazer’ não há, evidentemente, do que nos salvarmos. Paulo, também, afirmou o mesmo ao ensinar que ‘nós não somos salvos por nossas obras, para que não nos vangloriemos, mas pela graça de Deus’.

       Analisem... Abraços!

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