O Sol, como um disco de fogo, tenta romper a bruma deste amanhecer... Aos poucos, erguendo-se no firmamento, consegue impor sua luminosidade e brilha intensamente, pairando soberano e inigualável.
A densidade do nevoeiro vai diminuindo e os raios de sol, iluminando a Terra, demonstram sua sublimidade e beleza refletidas nas cores matizadas do infinito.
É o poder da luz rompendo as trevas sem se intimidar...
A mutação da Natureza é percebida pelos que a amam e respeitam, encontrando em seus exemplos motivações para viver... Contemplando este alvorecer, agradeço a Deus a bênção do recomeço, e este momento de quietude leva-me a reflexões em torno das vivências e lutas que todos travamos para seguir confiantes na busca da realização de nossos ideais superiores.
A perseverança, a continuidade dos ciclos, as transformações que se sucedem recompondo a vida em sua plenitude, induzem-nos a prosseguir para que não nos afastemos dos objetivos planejados.
Assim, também, em nossas vidas, poderemos agir com esta perseverança na conquista dos ideais e reformulação de nossos planos, para uma vida mais digna e promissora.
Quantas vezes somos impedidos de realizar nossos projetos, requerendo de nós a paciência para aguardar novas oportunidades?
Quantas vezes as circunstâncias adversas nos convidam ao fracasso, ao desânimo e à deserção dos deveres assumidos?
Seria lícito abandonar a luta quando a batalha já está quase ganha?
Prosseguir com determinação ou ficar acomodados sem coragem de dar continuidade aos compromissos?
Há momentos decisivos para todos nós. E é justamente quando os desafios surgem ameaçadores que testamos nossa capacidade de enfrentamento, nossa humildade e coragem de prosseguir.
Joanna de Ângelis no livro Momentos de Harmonia, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal, faz uma linda comparação de nossas lutas com as enfrentadas pela terra abençoada diante da semeação. Adverte-nos a Benfeitora espiritual que, após a semeadura, "superados os graves períodos de amanhar a terra, retirando-lhe calhaus, abrolhos e pedrouços, surge o momento feliz em que as sementes se multiplicam a cem por um, a mil por um, prenunciando abundância de grãos sobre a mesa da esperança" (p. 58).
Todavia, os desafios surgem, as lutas crescem e há necessidade de maiores cuidados para não se perder as searas promissoras do futuro. Mais do que nunca há de se cuidar para que não se perca a semeadura... As facilidades são aparentes e temos que vigiar e proteger o que já realizamos.
Ao longo de nossas vidas, semeamos através de nossos atos o bem ou o mal, sempre evidenciando nossa condição moral. Nem sempre a semeadura é benéfica, e é natural que colhamos frutos amargos e nos sintamos feridos na colheita pelos espinhos da ingratidão e do desamor.
Estamos num mundo de experiências dolorosas, resgatando débitos do passado, investindo em nosso crescimento espiritual, portanto, as lutas surgem desafiadoras, incitando-nos ao abandono e à deserção. É prudente e imprescindível redobrar a vigilância. Orar e trabalhar com afinco para não perdermos a colheita favorável que nos ajudará a crescer em nossa destinação espiritual.
Em nossa vida de relação surgem momentos em que são avaliadas nossas condições de prosseguir na Seara de Jesus.
No livro citado, Joanna de Ângelis leciona:
As defecções de muitos companheiros comprometem o trabalho do Senhor.
A instabilidade de corações afervorados faculta o desequilíbrio e as incursões negativas.
Hoje, como ontem, o cristão decidido não dispõe de tempo para o repouso inútil ou para a colheita de glórias frívolas.
Enquanto não prevaleçam a paz, o equilíbrio, a ordem e o amor, no comando das ações, estaremos em conflitos e caminharemos em crise.
O trabalho disso decorrente será frágil, suscetível de desmoronamento. (p. 60.)
Analisemos com maior empenho como estamos laborando nas lides espíritas.
Nossas atitudes de hoje serão refletidas nas conquistas de amanhã e o tempo não perdoa aos que se acomodam na fantasia e na ilusão do poder e das glórias efêmeras.
Compreendemos que o processo da evolução espiritual é lento e desafiador.
Requer de todos nós perseverança, lucidez, humildade e muito amor para manter a linha de equilíbrio que nos favoreça caminhar com segurança e lograr as metas almejadas.
Cabe a todos nós, seguidores de Jesus, que buscamos no trabalho do bem a base de nosso crescimento moral, manter a harmonia íntima, o diálogo fraterno, o respeito às limitações do companheiro que caminha conosco.
Viver intensamente as lições edificantes do Evangelho de Jesus em nosso dia a dia, buscando o autoconhecimento, o exercício do perdão e da fraternidade para cimentarmos as bases da nossa edificação espiritual.
Quem se detenha a ler apenas o Sermão da Montanha, dar-se-á conta da proposta de Jesus às criaturas humanas, iniciando a Era do amor e de paz, de perdão e de misericórdia, de humildade e compreensão, de esperança e de caridade. No entanto, o que têm feito muitos religiosos, nos últimos vinte séculos, a respeito desses postulados incomparáveis?¹
Toda religião leva o homem à busca de uma maior proximidade com o bem, com o autoconhecimento e a conquista da paz e da felicidade.
A religião espírita nos leva mais longe, porque nos indica o roteiro seguro para o progresso moral através do amor, alicerçado no perdão, na fraternidade e na compreensão maior do sentido da vida aqui na Terra - escola abençoada de nossas almas!
Os ensinamentos espíritas nos dão subsídios para saber de onde viemos, o que estamos fazendo aqui na Terra, para onde iremos após a morte física, ampliando nossa visão em torno do real sentido da existência, porque a fé raciocinada nos confere um entendimento mais amplo da justiça divina e de suas sábias leis.
Este conhecimento aumenta nossa responsabilidade diante dos desafios existenciais, requerendo maior discernimento e lucidez na solução dos problemas e dos empecilhos do caminho.
As religiões são caminhos que devem conduzir o crente à paz e à felicidade, utilizando-se da metodologia do amor e da compaixão, a fim de serem superadas às más inclinações e induzi-lo ao autoconhecimento, de forma a compreender os limites que o caracterizam e as notáveis possibilidades de crescimento que estão à sua frente.²
Aproveitemos, então, estas amplas vantagens que a religião espírita nos confere, refletindo através de uma análise sincera de nossos atos com relação aos que conosco caminham, e busquemos interagir com mais fraternidade e compreensão, amor e compaixão, como nos recomenda a nobre Benfeitora espiritual.
¹ Divaldo P. Franco. Libertação do sofrimento. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Ed. Leal. p. 25.
² Idem, idem, p. 24.
por Lucy Dias Ramos, revista Reformador nº 2.188, julho/2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário