Jesus “veio para o que era seu” (Jo 1:11), isto é, o povo
de Israel. Estes que “desde a criação do mundo” (Mt 25:34) haviam sido
destinados a herdar um Reino que jamais teria fim, eram agora agraciados com a
visita do próprio Rei, ainda que no caráter de Servo. Séculos de história
haviam se passado até este momento para provar a incapacidade do homem de
atender às santas demandas de Deus e demonstrar a paciência daquele que ainda
estava disposto a dar mais uma chance a Israel. “A Lei foi dada por
intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus
Cristo.” (Jo 1:17).
Mas neste ponto só restam na terra prometida duas tribos, das
doze originais: Judá e Benjamim, ou “judeus”, como a Bíblia as chama
aqui. Séculos antes as dez outras tribos haviam sido dispersas entre os
próprios povos pagãos dos quais tinha adotado a idolatria. Mesmo assim Deus
pretendia restaurá-las um dia para que fossem um povo só, começando pelos
judeus. Todavia a soberba era a marca registrada dos judeus, que acabariam por
rejeitar este de quem João Batista dizia: “Depois de mim vem alguém mais
poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de encurvar-me e desamarrar as
correias das suas sandálias” (Mc 1:7).
“Assim surgiu João [Batista], batizando no deserto e pregando um
batismo de arrependimento para o perdão dos pecados” (Mc 1:4). Batismo não era algo estranho ao
povo terreno de Deus. Eles se lembravam de Moisés, e de como este havia sido
lançado nas águas da morte por sua mãe para ser salvo das garras de Faraó.
Também não podiam se esquecer de que seus “antepassados estiveram sob a
nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem
e no mar”. (1 Co 10:1). Mesmo não sendo um batismo cristão o que João
Batista ministrava, era também uma figura de morte, sem o que seria impossível
Deus reiniciar o relacionamento com seu povo.
Deus vinha agora ao encontro do que restou de seu povo original,
ao qual havia sido prometida uma gama de bênçãos terrestres jamais dadas a
qualquer outro povo. Mas esse encontro não foi marcado num palácio real, em
meio ao luxo e à riqueza, mas no deserto, uma clara figura do estado em que
eles se encontravam aos olhos de Deus, depois de séculos de rebelião e desprezo
contra Jeová. Por isso aquele era necessariamente um batismo de arrependimento
para que eles, “confessando os seus pecados, fossem batizados por [João] no
rio Jordão” (Mc 1:5).
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