Compilado
do livro Sexo e destino
Manoel
P. de Miranda (espírito) e Divaldo P. Franco
Quando
o ser humano se aperceber das
infinitas possibilidades de que dispõe através da oração, conceder-lhe-á mais
atenção e cuidados.
Força dinâmica, responsável pelo restabelecimento de energias, é constituída de
vibrações específicas que penetram o orante, mantendo-lhe a vinculação com as
Fontes Inexauríveis de onde procedem os recursos vitais.
Em
razão da intensidade e do hábito a que o indivíduo se permita, torna-se
valioso instrumento para a conquista da paz e a preservação da alegria, nele
instaurando um estado de receptividade permanente das vibrações superiores que
se encontram espalhadas no Cosmo,
preservando-lhe a saúde, gerando-lhe satisfação íntima e proporcionando-lhe
inspiração nas mais variadas situações do caminho
evolutivo.
Como
conseqüência, nenhuma
louvação, rogativa ou gratidão expressa através da prece fica sem resposta
adequada,
desde que os sentimentos acompanhem-lhe o curso oracional. Naquela noite de
caras reflexões, eu me encontrava aguardando o momento para atividades especiais
ao lado de abnegados Mensageiros que fazem o intercâmbio com os Espíritos
encarnados na Terra, ajudando-os na desincumbência dos compromissos a que se
dedicam.
No
momento aprazado, que corresponderia às 2h da manhã, reunimo-nos
no local reservado para a partida em direção do mundo físico.
Éramos pequeno grupo formado por amigos interessados na construção da lídima
fraternidade e do estudo dos fenômenos obsessivos, que constituem a rude peleja
entre a ignorância e o crime, a perversidade e a vingança, a loucura desmedida e
a necessidade de paz, que
somente pode ser obtida quando utilizados os meios legítimos, que são o respeito
ao próximo e a desincumbência dos próprios deveres.
A
modesta caravana estava sob a orientação do irmão Anacleto, que fora espiritista
militante e
se dedicara com especial empenho ao labor mediante as terapias da Doutrina em
favor da saúde mental e emocional das criaturas humanas, particularmente
quando afetada pela interferência dos Espíritos obsessores. Portador de formosa
folha de serviços enquanto esteve no corpo somático, havia granjeado merecido
respeito em ambos os planos da vida, pela sua abnegação, carinho e conhecimento
profundo em torno da grave “parasitose espiritual”.
Reunidos
em agradável sala de amplo
edifício reservado para excursões ao planeta terrestre,
mantínhamos a privacidade dos nossos objetivos, preservando muito reconfortante
fraternidade, enquanto aguardávamos o momento de iniciar-se a jornada. O
Benfeitor, utilizando-se de momento próprio, expôs-nos o plano que houvera
traçado para o atendimento a algumas pessoas que se encontravam em
singular
circunstância
das suas existências sob influências perniciosas que as dilaceravam, e, não
obstante, recorriam com freqüência e quase desespero à oração,
suplicando a ajuda dos Céus, que lhes parecia tardar.
Demorar-nos-íamos
por alguns dias em nossos labores, havendo elegido como sede de ação, o Núcleo
Espírita a que nos referimos anteriormente, onde seria possível operar com o
apoio mental e das vibrações salutares em favor do êxito do empreendimento.
Sensibilizados ante a possibilidade do serviço em tela, mantínhamos a serenidade
que deve ser preservada sempre. Acercando-se
o momento da partida, o diretor do grupo convidou-nos à oração, que ele próprio
proferiu tocado de especial emoção:
“Senhor
Jesus, Amigo dos desafortunados! No momento em que nos preparamos para mais uma
experiência socorrista em Teu nome, exoramos a Tua proteção, a
fim de que possamos manter a plena sintonia com os Teus propósitos de amor,
realizando o melhor que nos esteja ao alcance.
Sabemos que não será fácil a tarefa por executar, considerando as nossas
limitações e deficiências.
Nada
obstante, confiamos na Tua inspiração e apoio, de modo que nos seja permitido
executar o serviço com os mais santos propósitos de fraternidade e de amor,
conforme Tu mesmo o realizaste quando estiveste conosco no Planeta. Mantém-nos
confiantes na irrefragável misericórdia do Pai e dulcifica-nos, para que
possamos sensibilizar aqueles Espíritos que ainda não Te conhecem, ou que, tendo
travado contato contigo, se afastaram, revoltados e infelizes, negando-se à
vinculação com o Teu inefável amor.
Semelhantes a eles, já estivemos em situação equivalente, e Tu nos arrancaste
das sombras e dos abismos a que nos arrojamos, equipando-nos de conhecimentos e
de sentimentos para modificarmos a estrutura íntima de que somos
constituídos.
Faculta-lhes,
também a eles, a mesma concessão com que nos honraste, utilizando-te de nossa
pequenez colocada em Tuas seguras e generosas mãos. Ampara-nos
em todas as situações, enriquecendo-nos de inspiração e de caridade, para que
sempre sejas Tu quem estejas presente e não nós,
eliminando o nosso ego para que Te exaltemos o Espírito magnânimo e
misericordioso. Segue, pois, conosco, Amigo de todas as
horas”.
Ao
concluir, estava com a voz embargada, e todos nos encontrávamos tocados de
especial emotividade. Explicou-nos o condutor da empresa que, inicialmente,
iríamos atender a um jovem sacerdote que
se encontrava em momento muito grave da sua existência, lutando com tenacidade
contra as tendências infelizes do passado, que
o assaltavam agora com pertinaz incidência.
Embora
forjado em sentimentos humanitários e cristãos, perdia lentamente as forças na
imensa pugna travada contra as
más inclinações que lhe predominavam no íntimo e porque também estava sob
indução espiritual perversa e perigosa.
Quando
chegamos ao local em que deveríamos iniciar as atividades socorristas,
encontramos um jovem religioso mergulhado em terrível conflito interior.
Não
obstante se encontrasse ajoelhado, orando em desespero, o seu pensamento
turbilhonado, exteriorizava imagens atormentadoras de que se desejava
libertar.
Aparentava
trinta anos de idade, era portador de boa constituição orgânica e apresentava-se
com harmonia física e mesmo alguma beleza nos traços que lhe delineavam a face.
Acercando-me, ouvi
o Benfeitor sugerir que lhe penetrasse o campo mental, de modo a registrar os
seus apelos aflitivos, inteirando-me do conflito que o assaltava,
levando-o a inevitável desesperação. As emanações mentais eram
carregadas de imagens infantis escabrosas e cenas de perversão sexual com
crianças nos seus aspectos mais chocantes.
Entre
sombras densas, que lhe dominavam as reflexões, destacavam-se a
promiscuidade sadomasoquista e aberrações outras que o pareciam satisfazer ao
tempo que o afligiam de maneira especial.
Percebendo-me a perplexidade, o irmão Anacleto veio em minha ajuda,
elucidando-me: “O nosso Mauro é
um jovem que buscou a Religião sem qualquer inclinação legítima, tentando fugir
dos tormentos que o sitiam desde a adolescência.
Sentindo-se dominado pelo desvario das tendências sexuais infelizes procurou
refúgio na Religião, na qual poderia esconder-se e deter os desejos infrenes que
o aturdem, buscando o Seminário onde pensava disciplinar os instintos e corrigir
as más inclinações.
Infelizmente
não foi bem sucedido, porquanto, no
lugar onde esperava encontrar paz e orientação, defrontou-se com diversos
companheiros portadores de desequilíbrios equivalentes, que
também buscavam a fuga ao invés do enfrentamento no século, resvalando, a pouco
e pouco, para comportamentos esdrúxulos e insanos”.
Silenciou
por um pouco, e logo prosseguiu: “Concluindo o curso, e sendo ordenado
sacerdote, a princípio tentou manter-se distante dos hábitos doentios,
procurando exercer o ministério com atitudes saudáveis. Todavia, lentamente
o
cerco das paixões se fez inexorável, e o contato com alguns veículos de
informação, especialmente a “televisão”,
foi-lhe quase impossível deixar de anestesiar-se outra vez pelas sensações
grosseiras dos desejos incoercíveis.
Foi-se
permitindo arrastar pelos
programas vulgares, recheados de paixões e vilanias, embriagando-se com as cenas
portadoras de obscenidades e aberrações, passando à convivência mental com
outros insensatos e enfermos morais, utilizando-se
de fotografias para prosseguir no tormento que ora o despedaça interiormente.
Ante a pausa natural, que me pareceu oportuna, ensejou-me interrogá-lo, o que
fiz naturalmente”.
Pude
perceber, acentuei, surpreso, que o seu drama íntimo envolve crianças e alguns
jovens imaturos, que se rebolcam nas suas paisagens mentais entre sombras e
cenas de hedionda qualidade. Qual a razão dessas manifestações do seu pensamento
atormentado? Generoso e sábio, o amigo explicou: “O
drama do nosso paciente tem suas raízes na pedofilia, desequilíbrio moral e
sexual, hoje muito difundido pelos infelizes vendedores de sexo, a prejuízo da
saúde e da dignidade de inúmeros psicopatas e perversos.
Saturados pelos excessos sexuais que se permitem, procuram novas experiências
aberrantes e cruéis, utilizando-se de crianças indefesas e ingênuas para o
triste mercado das suas vilezas”.
"Por
outro lado, pais
inescrupulosos e de conduta esquizofrênica, igualmente ambiciosos e cruéis,
alugam seus filhos para o comércio ignóbil, no
qual adultos totalmente inescrupulosos e destituídos de sentimentos dignos,
delas se utilizam para dar vazão às suas tendências mórbidas, esfacelando essas
vidas em floração, que se estiolam, desde cedo, tornando-se, aquelas que
sobrevivem, cínicas
e depravadas, sem nenhum objetivo existencial, exceto a luxúria para ganhar
dinheiro e manter o vício, logo
derrapando no uso das drogas alucinantes e destruidoras.
O
nosso Mauro encontra-se
envolvido com uma gangue pornográfica que lhe exige mais crianças para o
comércio desnaturado,
considerando-se a facilidade de que ele dispõe no convívio infantil, face à sua
condição de religioso... Igualmente viciado,
instalou um pequeno estúdio no qual fotografa e grava cenas hórridas com
desprevenidas vítimas que arrebanha, a princípio iludindo-as com guloseimas e
pequenos presentes, para
depois viciá-las e utilizá-las abertamente no mercado da
crueldade.
Novamente
silenciou, como a concatenar informações preciosas, para prosseguir de imediato:
“Vinculado
a terrível Organização espiritual jesuítica do passado, quando cometeu
arbitrariedades contra criaturas tidas como inimigas e silvícolas que lhes
tombaram nas garras ignóbeis, que deveriam evangelizar,
ainda não conseguiu libertar-se desses comparsas, que hoje prosseguem
inspirando-o na situação calamitosa em que se encontra.
Outrossim,
em razão de arbitrariedades morais cometidas no século XIX, experimenta o atual
tormento. Entretanto,
inspirado pela genitora desencarnada, que o acompanha com imenso
sofrimento, nos
últimos tempos, percebendo o abismo cada vez mais devorador que o traga, vem
recorrendo à oração, pedindo misericórdia e ajuda, por não mais suportar a
própria insânia.
A fé
ingênua da infância, que o cinismo do comportamento tisnou, vem-lhe retornando à
mente, de forma que, tomado de sincero desejo de ter diminuídas as angústias,
cada
dia mais sincera se lhe torna a súplica, que chegou até aos nossos Centros de
Comunicação Oracional,
graças a cuja diretriz aqui nos encontramos. Sempre ávido de conhecimentos,
utilizei-me do novo ensejo para interrogar: Reconhecendo-se a deficiência de
comportamento do nosso paciente, os seus graves delitos pretéritos, poderemos
considerar os conflitos sexuais do momento como efeitos da conduta infeliz de
outrora ou como uma obsessão, já
que não identifico qualquer Entidade específica a sua
volta?
Exteriorizando
bondade e paciência, o Instrutor esclareceu: Estamos diante de
uma resposta da Vida aos atos clamorosos perpetrados anteriormente pelo nosso
amigo. É
natural que, havendo desconsiderado as Leis que estabelecem o respeito, o amor e
o dever para com o próximo, hoje
sofra os conflitos e as perturbações que lhe constituem mecanismo de depuração
dos gravames cometidos. Ao mesmo tempo, algumas das suas vítimas cercam-no de
vibrações deletérias e odientas, inspirando-o nas tendências
doentias, a
fim de mais o afligirem, ao tempo em que o alucinam e o estarrecem ante os
próprios absurdos gerados pela mente em desalinho.
Sempre
há cobrador, quando existe devedor na pauta dos processos atuais de evolução do
planeta terrestre e dos seus habitantes.
Examinando com atenção o enfermo que orava em desespero, estorcegando-se na
consciência culpada pelos excessos cometidos e quase arrancando os cabelos em
ato de deplorável inconsciência, o Orientador concluiu: “Os seus adversários
espirituais encharcam-no de idéias pervertidas e desejos lúbricos insaciáveis,
desvairando-o.
Fixando-se-lhe
nos painéis mentais, telecomandam-no a distância, e quando se desprende pelo
sono físico é atraído ou arrebatado para os sítios de vergonha e de
depravação, nos
quais mais se acentuam os desbordamentos da paixão insana. Naquele momento vimos
acercar-se do jovem sacerdote um Espírito de aspecto feroz e asselvajado, com
muitas anomalias na forma em que se apresentava, que o examinou detidamente, e,
após gargalhar zombeteiro, escarneceu-o com palavras vulgares, em razão do
anseio da vítima em buscar libertar-se do cerco em que se debatia através da
oração.
Ouvimo-lo,
então, exclamar, exprobrando-o: Por
que buscas Deus, miserável, em nome de Quem te escondes para dares
prosseguimento aos teus anseios degenerados?
Pensas que Ele te atenderá ou socorrerá àqueles aos quais mutilas moralmente e
infelicitas? Quanto cinismo! Orar, como se a prece te pudesse ajudar nesta
conjuntura, senão para encontrares mais gado para o nosso matadouro! Mudemos de
atitude e vamos ao prazer. Assumindo
uma posição de sicário ergueu um chicote que trazia numa das mãos e aplicou
sibilante golpe nas costas do desesperado.
Naquela
postura de desequilíbrio, as palavras desconexas que exteriorizava não mais
constituíam uma prece, mas refletiam o estado de perturbação que se lhe vinha
sendo quase habitual, embora a intenção inicial fosse de encontrar paz e a
libertação do drama excruciante. O jovem padre experimentou uma estranha
sensação, e, à medida que os golpes se repetiram, enquanto o
adversário o fixava no Chakra
Coronário
com olhos em brasas, expressando o ódio que o acometia, foi-se-lhe acentuando a
percepção e, logo depois de alguns breves minutos, passou a sentir o acicatar
das dores que aumentavam enquanto o chicote repetia os golpes,
atirando-se, por inteiro, no solo, entrando em delírio de torpeza sexual, no
qual se misturavam gemidos e gritos surdos, sob o delirar da mente excitada
pelos clichês vulgares que lhe eram habituais.
Entrando
em exaustão, cessada a aplicação da sova inusitada, estertorou por um pouco,
e
entrou em pesado sono agitado, até que se libertou do corpo envolto em densa
névoa escura, sendo surpreendido pelo algoz que o segurou com vigor,
arrastando-o do recinto com grosseria. O
corpo tombado continuava com leves estremecimentos e uma baba pegajosa
escorria-lhe da boca retorcida como se houvesse sido acometido por uma crise
epileptiforme.
Não
podíamos esconder o sentimento de compaixão que nos tomou a todos, bem como de
surpresa que se me assomou, dominando-me o pensamento. O
Instrutor, que se encontrava familiarizado com a ocorrência, convidou-nos a que
seguíssemos os dois litigantes, que
rumavam para um recinto espiritual de perversão e deboche em que se
compraziam.
Enquanto
nos movimentávamos nessa direção, indaguei com respeito: As orações, embora
expressando desespero, atingem o nosso Departamento de captação? É claro que
sim, respondeu, generoso. Todo
apelo que procede do coração, mesmo quando as possibilidades emocionais não
permitem melhor entrosamento entre o sentimento e a razão, atingem o fulcro para
o qual é direcionado.
Nosso
Mauro, depois de delinqüir, inspirado pela mãezinha, conforme já acentuamos,
dá-se conta do caminho sem volta por onde segue e, na falta de outra
alternativa, vem buscando o concurso do Céu, apesar
dos clamorosos erros que prossegue cometendo sob a guarda da fé religiosa na
qual se oculta.
E
o sarcasmo do seu comparsa em relação a essa atitude, conforme vimos, teria
razão para fundamentá-lo?
De
forma alguma,
esclareceu,
bondoso. O
antagonista sabe que o seu paciente poderá fugir do seu comando, caso continue
na busca de Deus. Para atemorizá-lo e anular-lhe a inesperada disposição,
critica-o, zurzindo-lhe o látego, cujo açoite vibratório faculta-lhe o prazer
masoquista que a mente desorientada cultiva.
Nenhuma
solicitação ao Pai Amantíssimo fica sem resposta, seja qual for a natureza do
seu conteúdo, recebendo-a de acordo com o propósito de que se
reveste.
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