terça-feira, 20 de novembro de 2012

MILAGRES DE FÉ


“O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres.”

“Repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o  que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas.”
Um Espírito Protetor (O Evangelho segundo o espiritismo).
Esta semana, no Momentos de Luz, Gregório nos revela “Milagres”, milagres da fé. Revela-nos a fé em ação.
Disse Jesus: “a tua fé te curou”.
Confiemos na presença do Pai em nossas vidas. Confiemos em nós mesmos e, sigamos sempre.
“A fé é humana e divina.”
Boa Reflexão!
Andréa

 Em uma manhã de domingo, algo inusitado aconteceu.
- Gregório, corra! Precisam de você lá embaixo!
Desci rapidamente. Era um domingo inusitado. Meus pais viriam almoçar conosco. Evento que ocorria eventualmente. Mas aquele dia não era um dia comum, porém eu ainda não sabia.
Ao chegar ao andar de baixo, encontrei minha mãe caída no chão. Estava inconsciente. Eles acabaram de chegar e ela, em frente à porta, desfaleceu. Meu pai apoiava a cabeça dela em seu colo e, pela primeira vez, o vi chorar.
A esposa amada, segurando a mão da sogra, tentava a fazer acordar. Foi chegando os empregados da casa. Com esforço, conseguimos levá-la para cima e acomodá-la em um quarto. Porém, manteve-se inconsciente. Enviei o chofer até a residência do Dr. Arnold Amorim. Ele veio em seguida.
Passaram horas no quarto, minha mãe, Maria e o médico. Eu e meu pai ficamos na sala de jantar, mais perto possível da escada, para ouvir o chamado de ir vê-la.
Após duas longas horas, fomos convocados ao quarto. Pudemos vê-la acordada, porém estava diferente. Um leve ar de morte pairava sobre ela. Tinha profundas olheiras, olhar abatido, pele clara, desbotada como se estivesse morrendo. Odiei aquela cena.
Meu pai sentou-se a cabeceira da cama e acariciou sua fronte. Eu paralisei. Somente conseguia observá-la. O médico, então, nos chamou à sala para orientações e explicações. Maria Luiza permaneceu com ela.
Bem, meus caros, sei que já conhecem a gravidade do problema. Sinto informá-los que o fim se aproxima.
Ao ouvi-lo, despenquei sobre a cadeira.
Meu pai, que nunca foi amoroso, veio ao meu encontro. Puxou uma cadeira, posicionou-a a frente da minha e, olhos nos olhos, revelou-me que minha mãe portava de afecção grave.
Havia dois anos que se encontrava doente e nada me foi dito. Senti-me traído, enganado. Meu pai percebendo minha reprovação do segredo. Iniciou uma explicação.
- Sua mãe achou melhor nada lhe contar.
- Como o senhor pôde fazer isso comigo.
- Sua mãe preferiu assim e eu respeitei sua decisão. Porém, hoje, com o agravamento da enfermidade, combinamos este almoço. Esperávamos ao fim da tarde, contar-lhes o que estava a ocorrer. Mas, infelizmente, não houve tempo.
- Ela foi tratada como deveria? Não é melhor levá-la a terra de origem? Talvez lá tenham mais recursos.
- Tudo já foi feito. Agora, só nós resta aguardar o dia derradeiro.
- Como pode falar nesta calma. Trata-se da minha mãe, da sua esposa.
- Filho acalme-se. Sua mãe precisa do nosso apoio, do nosso consolo, não do nosso desespero. Então, fortaleça-se e suba para abraçá-la. Você nem chegou perto dela.
Obedeci. Foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Vê-la naquele estado e nada poder fazer. A não ser abraçá-la com cuidado e beijar sua testa.
Os dias passaram tranquilos. Estive ao seu lado todos os dias e fui observando sua cor voltar aos poucos. Foi ficando cada dia mais forte e levantou-se da cama. Parecia rejuvenescida.
O médico que acompanhava não acreditou na melhora. Maria e minha irmã consideraram um milagre. As amigas da igreja vinham estar com ela todas as tardes e orávamos juntos até o Magnifica. E assim, passaram-se dois anos.
Minha mãe, forte e serelepe, cuidava de nós, da casa, da igreja dos pequeninos do Cristo. Faleceu velhinha, ainda ativa, a beira da janela a rezar o terço para abençoar os que passavam.
Foi o primeiro milagre de fé da minha vida. O primeiro que me lembro, pois, hoje, tenho certeza que muitos outros antes aconteceram sem que eu nem mesmo percebesse.
Aprendi, depois deste episódio, a entregar-me a Deus todos os dias e noites. Sua presença em nossas vidas era consolo, esperança, força para seguir.
Quando abandonei a igreja, anos depois, meu pai excomungou-me. Não entendia que era contra os dizeres dos homens, e não aos dizeres de Deus. Não bastava mais, para mim, as explicações e atitudes perante as Leis Divinas ditas naquela época.
Eu precisava de mais. E fui em busca disso, o que não me impediu de retornar ao templo todos os domingos e acompanhar os rituais da santa missa, aos quais me dedicava fielmente.
Questionei os martírios da época. Não somente do templo sagrado, mas também do governo. As ideias, naquele tempo, eram tacanhas e precisavam ser modificadas.
Dediquei-me a isso. Informar e fazer refletir eram o meu objetivo de vida. Desejava romper os preconceitos, a má divisão de renda, a hipocrisia, a soberania do poder, o massacre sobre os injuriados, os dissabores da vida.
Aí foi onde errei. Entreguei-me aos dissabores. Preenchi com prazeres, a fim de tentar persuadi-los. Equivoquei-me. Sem a mulher amada ao meu lado, já não conseguia vislumbrar a fé e os muitos milagres que me ocorriam.
As orações permaneciam em meu peito, mas já não saiam por minha boca. Minhas conversas com o Pai Divino deixaram de ocorrer por acaso, por falta de tempo.  Na verdade, era por falta de disposição.
Salvou minha mãe, porém, levou-me a esposa. Com a primeira me deu tempo, com a segunda me tomou. Deixou-me só, perdido, sem amparo. Assim, me senti por longos anos.
Primeiro, senti vontade de xingá-lo. Depois, envergonhado pelo respeito que ainda tinha por Ele, resolvi esquecê-lo. Porém Ele não se esquecia de mim. Salvou-me várias vezes, através da mulher amada, do filho dedicado, dos amigos leais...
Sempre ao meu lado, cuidou de mim sem restrições. Tirou-me do vício, livrou-me de duelos e balas, não permitiu que a miséria me derrotasse. Enviou-me auxílio de muitas maneiras.
Até, finalmente, recolher-me ao seu lado, em sua casa. Não lá no último degrau ao qual almejo chegar, mas nos primeiros, onde tenho investido em estar e subir.
 Há poucos dias encontrei minha mãe. O que fez eu me lembrar de toda uma vida.  Foram momentos mágicos! Saudoso, não contive minha mão que teimava contar-lhes esta história.

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