A FORÇA DA ORAÇÃO QUE PARTE DO CORAÇÃO E QUE ENCONTRA DEUS
Nesta semana, no Momentos de luz, trago como título, a última frase do lindo relato pessoal apresentado por Gregório. Frase que estimula o diálogo com Deus, porque transmite confiança na entrega ao Criador. Palavras que guiam, pois ensinam um caminho direto e seguro.
Reforço-as com as respostas das questões 658 e 659 do Livro dos Espíritos:
- “A prece é sempre agradável a Deus quando ditada pelo coração, porque a intenção é tudo para Ele, e a prece do coração é preferível á que se pode ler, por mais bela que seja, se a lês mais com os lábios que com o pensamento. A prece é agradável a Deus quando ela é dita com fé, fervor e sinceridade...” (Q.658 – A Prece é Agradável a Deus?)
- “... Orar a Deus é pensar nele, se aproximar dele e colocar-se em comunicação com ele. Pela prece pode-se propor três coisas: louvar, pedir e agradecer.” (Q.659 – Qual é o caráter geral da prece?)
Elevemos nossos pensamentos a Deus. Façamos uma prece para louvar, pedir e/ou agradecer.
Muita Luz!
Andréa
A FORÇA DA ORAÇÃO QUE PARTE DO CORAÇÃO E QUE ENCONTRA DEUS
Sem saber ao certo onde estava pisando, disparei ao encontro de Samuel e Luís. Estávamos na Terra, na minha primeira excursão, diante de uma situação no mínimo constrangedora. O que fazer?
Ao encontrá-los, estava ofegante. Língua saindo pela boca. Corações aos pulos. Samuel acolheu-me, e antes de dizer ou questionar qualquer coisa, impôs suas mãos sobre minha cabeça, acalmando-me através de passe reconfortante.
Quando mais calmo, sentamos a beira da estrada e pude, finalmente, contar o que ocorria. Eu estava a escrever, encostado em uma frondosa árvore, quando dois homens se aproximaram. Vieram ao meu encontro e, com palavras de baixo calão, caluniaram-me.
Não se reportaram a mim como desconhecido, mas como a algum companheiro de velhas datas, ao qual o ódio embalava tal relação. Vieram preparados para guerra. Açoites na mão, dispersavam sobre mim chicotadas que ardiam como fogo.
Tive medo. Eu diria pavor. Paralisei e não sabia como reagir. Ao simples toque da brisa, que caminhou sobre meu rosto, fortaleci-me. Empurrei-os com toda força que encontrei dentro de mim e partir em disparada.
Agora, mais tranquilo, sentindo-me seguro ao lado dos companheiros, pude relaxar. Por um instante, senti o corpo tombar para trás e, caindo ao chão, adormeci.
Acordei no hospital, velho conhecido, ao lado de meu cuidador que, mão na minha testa, dispensava-me cuidado e carinho. Despertei ao pulo da consciência. Percebi se tratar de um sono. Como seriam possíveis imagens tão nítidas?
O amigo de todas as horas esperou eu me recompor e convidou-me para o desjejum no jardim. Mesa posta com simplicidade e beleza nos esperava. Não só nós, mas muitos outros, em outras mesas, desfrutavam da primeira refeição do dia.
Pausa para explicações:
Quando recém-chegados, ainda precisamos do alimento, que, nas mesmas proporções do que na vida na carne, alimentam os espíritos para que se sintam fortalecidos.
Diariamente, nos reunimos ao redor da mesa e aproveitamos das delícias da natureza e, pouco a pouco, vamos precisando menos do alimento material e utilizando mais do espiritual. Durante as refeições, ouvimos músicas que nos falam ao coração e orações que nos despertam para a nova vida.
Confesso que é um dos momentos mais esperados pelos recém-chegados, pois nos fazem sentir vivos, à medida que nos aproxima da vida que tivemos. É um bálsamo a tantas mudanças repentinas que nos desgastam, dilaceram os antigos conceitos e renovam as esperanças de uma vida nova.
Pois bem, deixe-me retornar de onde parei. Depois deste momento fortalecedor, levantei-me mais sereno e firme. Senti-me com os pés no chão e a cabeça no lugar.
Lembro-me de me sentir assim, sempre que a esposa amada cobria-me de mimos e, a me ver desfalecer por algum problema ou irritação, preparava-me uma bela refeição, que me levava aos céus.
Caminhamos para o jardim e, sentados à margem do riacho, iniciamos a palestra. Nem esperou que eu perguntasse e foi me explicando:
- Durante o sono sofreu um desdobramento e retornou à pátria material tão amada. Pode não ter consciência, mas a saudade dolorosa que trazia no peito, levou-o até lá. Circundado de energias não salutares que atraiu conhecidos de outras épocas, com os quais mantinham relações não agradáveis.
Na noite anterior, ao deitar, deixei que meus pensamentos procurassem minha antiga companheira. Fazia anos que não pensava nela. Nunca tivemos uma relação puramente harmoniosa, sentia, na maioria das vezes, que ela sentia por mim carinho e gratidão, não amor, não desejo.
Era uma menina quando nos casamos. Foi um relacionamento arranjado por nossos pais. Eu já havia passado da época de casar, pois me dedicava apenas aos estudos. Porém, meu pai achou necessário à minha vida política e arranjou-me uma esposa. Uma garota que iniciava a vida, cheia de sonhos de menina. Mal havia largado das bonecas e sonhava com o príncipe encantado, que nunca chegaria.
Eu estava longe de sê-lo. Na noite de núpcias, sem tempo de me entregar ao amor, saí em busca de uma notícia para matéria no jornal da universidade. Somente nisso pensava. Deixei-a sozinha, e por duas semanas desapareci. Quando retornei, encontrei-a encolhida e, como não a conhecia, não imaginava que sofria.
Nunca tive muito tempo para ela. Era tão delicada, que temia quebrá-la se a tocasse, por isso, preferia estar com outras mulheres. Porém, dediquei-me a ela nas vésperas de sua morte. Não a deixei sozinha nem por um instante.
Gostava que eu lesse o que eu escrevia e passava horas a me ouvir. Era uma grande companheira. Era minha primeira leitora e sugeria-me alterações, quando percebia necessidade.
Era inteligente e diplomática, mas também irreverente. Apoiou-me quando decidi largar a política e dedicar-me aos escritos. Enfrentou a pobreza ao meu lado, pois fui degenerado por meu pai, que em seu leito de morte desejou que nada de sua herança me restasse. Ficamos a morar num pequeno sobrado e fazia doces para me ajudar nas despesas. Acreditava que eu tinha a missão de defender os mais fracos e queria fazer parte disso.
Morreu ainda jovem, acometida da doença que se fazia presente na época. Tossia até expelir sangue. Emagreceu tanto que se podiam visualizar todos os seus ossículos. Não arrastei o pé de seu leito até que partisse.
Mandava-me ir escrever, mas o único tema, que conseguia vir à mente, era o amor que sentia por ela: amor de irmão, de pai, de amigo, de homem. Percebi que jamais havia amado alguém assim. Disse a ela de todas as maneiras: por meios de gestos e palavras. Escrevia-lhe um texto diariamente. E adorava ver seu sorriso a cada palavra.
Na hora da partida, disse que eu não fora o marido que ela sonhara na infância, mas fui o homem admirável que a permitiu o conhecer da vida, da filosofia, do conhecimento. Que era agradecida a mim, pelo mundo infinito que eu a apresentei. Por fim, disse que me amava e agradecia tudo que eu fiz por ela.
Desabei. Fiquei dias de cama. E o pior, sem ela para me curar, pois era comum ficar de cama, quando injuriado e triste. Ela dedicava-se a mim, trazendo belas e deliciosas refeições, acompanhada do incentivo de seguir em frente.
Diante de meu cuidador, chorei igual a um menino e desabafei minha história triste. Sentia-me um marido fracassado que não amou e não aproveitou do amor oferecido por sua mulher.
Lembrei-me dela na noite anterior, ao ver meu cuidador abraçado ao amor de toda sua vida. Senti-me só e sem esperanças. Desejei ter, também, alguém com quem compartilhar as dores da alma, as descobertas da nova vida e a construção de um novo começo.
- Então, faça valer o desejo do seu coração. Eleve seus pensamentos, faça uma oração e não se entregue ao desespero que faz descer sua energia, aproximando-se de desafetos do passado que não querem seu bem e que, ainda, não se entregaram a misericórdia de Deus. Estávamos atentos a você e o alcançamos, mas é preciso que fique vigilante. Disse-me Samuel.
Lembrei-me da brisa e da presença dos amigos. Senti um conforto no peito. Elevei uma prece ao senhor, agradecendo o presente da presença da companheira amada no meu viver. Pedi que levasse até ela, seja lá onde ela estivesse, o meu agradecimento e o meu pedido de perdão. E solicitei, se fosse por meu merecimento, um encontro para que pudesse, novamente, compartilhar com a esposa amada o fruto do amor que permanecia em mim.
Ao abrir os olhos, não pude acreditar. Ao meu redor, crianças tocavam a canção, a nossa canção, a canção que fiz para ela antes de partir. Nunca fui músico ou letrista, mas para ela, naquele dia, consegui, através de uma canção, demonstrar todo o amor que sentia. O grupo vinha da escola, seria uma apresentação no jardim, deixei-me chorar sem constrangimento.
Fui desperto por um toque de uma flor em minha mão. Observei uma rosa vermelha, presente de uma linda garotinha de tranças douradas. Direcionou o meu olhar, através dos seus, para uma jovem morena que comandava o grupo.
Por um instante, olhou-me profundamente e através de seu sorriso conheci o meu sorriso, o meu olhar. Levantei-me atordoado e parti para ela. Minha vontade era abraçá-la, porém, me contive, no meio do percurso, sem coragem para continuar.
Então, ela Veio ao meu encontro. Rosa vermelha na mão.
-Olá meu querido Gregório, você me chamou e eu estou aqui.
Não tenho condição de contar-lhes o que aconteceu. Deixo-os, simplesmente, com a força da oração que parte do coração e que encontra Deus.
Gregório
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