INCORPORAÇÃO E CONSCIÊNCIA
Hoje gostaria de abordar um assunto que muito
incomoda, alguns ajanãs ou aparás, Médiuns de incorporação para os que não
são da doutrina do amanhecer. Talvez não haja pessoa mais apta para falar
sobre isso do que próprio médium de incorporação.
Desde que me conheço como médium de
incorporação, sempre fui muito consciente. Não me lembro de um momento,
sequer, que tenha sido inconsciente. E, por causa disso, acreditava que
não estava realmente incorporado, que o que dizia e fazia eram obras
exclusivas de mim mesmo. E os Médiuns doutrinadores, por sua vez, não sabiam
acrescentar muito coisa, quanto às minhas dúvidas. Isso me deixava com uma
sensação de irrealizado.
Todavia, se a mente
mantinha-se activa, sentia no corpo e nas mãos, principalmente, as emanações
do preto-velho. Após uma incorporação, sentia as pernas pesadas, as costas
curvadas e levava um bom tempo até voltar ao normal. Sem falar da
sensação de bem-estar. Com o tempo, passei a ter intuições, pensamentos que
sujem e que não são propriamente nosso, mas de nossos mentores. é preciso
muita prática para discernir um do outro. Porém, nem sempre vêm essas
intuições, ou elas vêm quando não estou incorporado.
Segundo Mário Sassi, saudoso trino
Tumuchy, a incorporação envolve o plexo esplênico que,
quando activado, há uma maior fluência sanguínea na regialumbilical e
aderência, diminuindo, assim, na região cerebral, razão pela perda da
consciência. Todavia, no médium consciente tal fato não parece ocorrer. A
consciência se mantém activa, acarretando dúvidas no médium Apará, o que o
leva a questionar se ele realmente encontra-se incorporado.
No Vale do Amanhecer, uns são mais, outros
são menos, mas todos são conscientes. Pode até haver momentos
de inconsciência, mas não é a regra. Durante todo o tempo que pertenço à
doutrina, nunca encontrei um médium totalmente inconsciente. Excepção feita a
Tia Neiva.
Segundo Tia Neiva, os fenómenos de
alternância de espíritos de luz e sofredores nos tronos, ou na mesa
evangélica, por exemplo, seriam praticamente impossível, se ocorressem com
Médiuns inconscientes. Em carta, a própria mentora mãe esclarece:
"Não é justo, depois da incorporação
ficar em dúvida. Será que incorporei? será que não foi só uma impressão
minha? Isso é triste para os nossos mentores, que apressam para que saia tudo
com precisão de espírito da verdade. Trata-se de um conjunto, de um ritmo de
aparência, de encantos, de energia. Não podemos desfigurar esse este
sentimento de amor. é o coroamento das virtudes. É muito mais
cientifico do que pensamos. Quando solicitado uma incorporação,
uma enorme e complexa força se faz em nós. Será bastante o cruzamento destas
forças para a cura desobsessiva, quanto mais que sabemos da presença de
caboclos e pretos velhos. Carta de Tia Neiva em 08.04.79.
Como a nossa Mãe Mentora ensina, só a presença
dessas forças já são suficientes para se realizar a cura. Mesmo que o mentor
não estivesse presente, o que não acontece, pois ele encontra-se sempre de
prontidão ao lado de seu aparelho. Num simples trabalho, conforme ensinado
por nossa Mãe, basta pedir ao paciente para elevar seu pensamento a suas
dores, naquilo que veio buscar naquele trabalho de tronos, e, por intermédio
de desdobramento as energias irão ao local mentalizado levando as forças que
estão sendo manipuladas naquele momento. É um desdobramento como aqueles que
Tia fazia. A diferença é que ela conservava a consciência e nós
não. Já falei disso em outro texto.
Assim, realizamos as curas, iluminamos o
caminho e o coração daqueles que nos procuram, estando o paciente perto
ou longe. Somos a última esperança. Não sabemos as dores que carregam aqueles
pacientes que se encontram sentados ali naqueles bancos: um pensando
em suicídio; outro em homicídio; outro na família em desagregação,
mas todos ansiosos por uma palavra de esperança e conforto. Então,
o Apará com uma simples palavra de conforto devolve a esperança e a vida;
transforma a noite escura daquela alma, em noite enluarada. Aquele paciente
volta para casa esperançoso e reconfortado, com aquelas mensagens de amor do
preto velho ainda guardada no coração e na mente. Um novo homem retorna para
o lar e para a vida.
Ainda recordando Tia
Neiva, a incorporação do médium do amanhecer é tão suave, bem diferente de
outras doutrinas e religiões. Cada qual tem sua forma de incorporação. Não
existe duas incorporações iguais. Até mesmo de uma incorporação para outra
existe diferença dependendo do estado de mediunização do Apará e da
concentração do doutrinador, pois este contribui ,e muito, no equilíbrio do
trabalho.
Gostaria
de ressalvar que o lugar de maior responsabilidade dentro do templo é nos
tronos (não que os outros não o sejam também), mais o fato de haver
comunicação exige muita responsabilidade tanto do doutrinador, como guardião
daquele trabalho, como do próprio Apará, visto que tem consciência do que se
passa. Uma comunicação tanto pode mudar para melhor a vida de um paciente,
como mergulhá-lo de vez no desespero e na dor.
Devemos respeitar o
livre arbítrio. Nada de interferir na individualidade do paciente, para que
não assumimos responsabilidades que não nos cabe. Como diz Pai Seta Branca em
uma de suas mensagens: comunicar sem participar.
Nada de queremos ser
profetas. Nosso aparelho não é completo, ou melhor dizendo, nossa
incorporação não é completa. E até Tia Neiva, com toda a sua capacidade tinha
medo dessas profecias, pois o futuro pode ser mudado, o carma
recartilhado. Isso pode destruir um Apará, desmoralizá-lo.
Como ilustração deixo aqui uma passagem
relatada por Tia Neiva, tirada do livro Partida
Evangélica, fascículo 1: "Certa ocasião veio da Inglaterra um
famoso lorde. Ele vinha para saber o destino de seu filho
recém-nascido.
Ele foi atendido por um Mestre que estava de
saída, com seus companheiros já aguardando numa celebre porteira, de onde
cada um partiria na própria direcção.
Apesar da pressa demonstrada pelo Mestre o
fidalgo insistiu e o Mestre lhe contou, sem amor, o que via no destino da
criança.
Disse ele que a criança teria um mau destino e
deu todo o roteiro da vida dela, em tal tempo lhe acontecia isto, em tempo
isso será assim, etc.
O fidalgo saiu dali louco, pois seu filho, que
até então era sua alegria passou a ser a sua própria sentença. A partir de
então o fidalgo nada mais fez do que sofrer a espera dos acontecimentos,
durante toda sua vida. Porém nada aconteceu. O jovem foi feliz, casou-se e
viveu normalmente.
O pai viveu sempre amargurado a espera dos
maus acontecimentos.
Não é preciso te dizer, Neiva que as vibrações
do fidalgo destruíram o apressado Mestre. Ninguém teve intenções de
magoar alguém, porém, o pecado das palavras impensadas de um Mestre ou
Clarividente (ou um Apará) são algo muito sério. Veja sempre em tua rente um
fidalgo, um homem que sofreu as consequências do seu orgulho, porém
nunca faças como o impulsivo Mestre, nunca participe com alguém.
Serás antes de tudo como uma psicanalista. É bem melhor que as pessoas saiam
de perto de ti te desacreditando do que desacreditando nelas mesmas.
Irmãos, somos a tábua
de salvação, a última esperança, que todos que passem por nós, refiro-me aos
aparás, que saiam com uma mensagem de amor, esperança e conforto em seu
coração, confiantes na vida, e jamais desesperados e abatidos.
Versos e Prosas - Meu Aledá
Roberto Roque
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