quinta-feira, 12 de julho de 2012

Incorporação e Consciência




                    INCORPORAÇÃO E CONSCIÊNCIA


 Hoje gostaria de abordar um assunto que muito incomoda, alguns ajanãs ou aparás, Médiuns de incorporação para os que não são da doutrina do amanhecer. Talvez não haja pessoa mais apta para falar sobre isso do que próprio médium de incorporação.  
Desde que me conheço como médium de incorporação, sempre fui muito consciente. Não me lembro de um momento, sequer, que tenha sido inconsciente. E, por causa disso, acreditava que não estava realmente incorporado, que o que dizia e fazia eram obras exclusivas de mim mesmo. E os Médiuns doutrinadores, por sua vez, não sabiam acrescentar muito coisa, quanto às minhas dúvidas. Isso me deixava com uma sensação de irrealizado.
Todavia, se a mente mantinha-se activa, sentia no corpo e nas mãos, principalmente, as emanações do preto-velho. Após uma incorporação, sentia as pernas pesadas, as costas curvadas e levava um bom tempo até voltar ao normal. Sem falar da sensação de bem-estar. Com o tempo, passei a ter intuições, pensamentos que sujem e que não são propriamente nosso, mas de nossos mentores. é preciso muita prática para discernir um do outro. Porém, nem sempre vêm essas intuições, ou elas vêm quando não estou incorporado.
Segundo Mário Sassi, saudoso trino Tumuchy,  a incorporação envolve o plexo esplênico  que, quando activado,  há uma maior fluência sanguínea na regialumbilical e aderência, diminuindo, assim, na região cerebral, razão pela perda da consciência. Todavia, no médium consciente tal fato não parece ocorrer. A consciência se mantém activa, acarretando dúvidas no médium Apará, o que o leva a questionar se ele realmente encontra-se incorporado.
No Vale do Amanhecer, uns são mais, outros são menos, mas todos são conscientes. Pode até haver momentos de inconsciência, mas não é a regra. Durante todo o tempo que pertenço à doutrina, nunca encontrei um médium totalmente inconsciente. Excepção feita a Tia Neiva.
Segundo Tia Neiva,  os fenómenos de alternância de espíritos de luz e sofredores nos tronos, ou na mesa evangélica, por exemplo, seriam praticamente impossível, se ocorressem com Médiuns inconscientes. Em carta, a própria mentora mãe esclarece: 
 "Não é justo, depois da incorporação ficar em dúvida. Será que incorporei? será que não foi só uma impressão minha? Isso é triste para os nossos mentores, que apressam para que saia tudo com precisão de espírito da verdade. Trata-se de um conjunto, de um ritmo de aparência, de encantos, de energia. Não podemos desfigurar esse este sentimento de amor. é o coroamento das virtudes. É muito mais cientifico  do que pensamos.  Quando solicitado uma incorporação, uma enorme e complexa força se faz em nós. Será bastante o cruzamento destas forças para a cura desobsessiva, quanto mais que sabemos da presença de caboclos e pretos velhos. Carta de Tia Neiva em 08.04.79.
Como a nossa Mãe Mentora ensina, só a presença dessas forças já são suficientes para se realizar a cura. Mesmo que o mentor não estivesse presente, o que não acontece, pois ele encontra-se sempre de prontidão ao lado de seu aparelho. Num simples trabalho, conforme ensinado por nossa Mãe, basta pedir ao paciente para elevar seu pensamento a suas dores, naquilo que veio buscar naquele trabalho de tronos, e, por intermédio de desdobramento as energias irão ao local mentalizado levando as forças que estão sendo manipuladas naquele momento. É um desdobramento como aqueles que Tia fazia. A diferença é que ela conservava a consciência e nós não. Já falei disso em outro texto.
Assim, realizamos as curas, iluminamos o caminho e o coração daqueles que  nos procuram, estando o paciente perto ou longe. Somos a última esperança. Não sabemos as dores que carregam aqueles pacientes que se encontram sentados ali naqueles bancos: um pensando em suicídio; outro em homicídio; outro na família em desagregação, mas todos ansiosos por uma palavra de esperança e conforto. Então, o Apará com uma simples palavra de conforto devolve a esperança e a vida; transforma a noite escura daquela alma, em noite enluarada. Aquele paciente volta para casa esperançoso e reconfortado, com aquelas mensagens de amor do preto velho ainda guardada no coração e na mente. Um novo homem retorna para o lar e para a vida.
Ainda recordando Tia Neiva, a incorporação do médium do amanhecer é tão suave, bem diferente de outras doutrinas e religiões. Cada qual tem sua forma de incorporação. Não existe duas incorporações iguais. Até mesmo de uma incorporação para outra existe diferença dependendo do estado de mediunização do Apará e da concentração do doutrinador, pois este contribui ,e muito, no equilíbrio do trabalho.
Gostaria de ressalvar que o lugar de maior responsabilidade dentro do templo é nos tronos (não que os outros não o sejam também), mais o fato de haver comunicação exige muita responsabilidade tanto do doutrinador, como guardião daquele trabalho, como do próprio Apará, visto que tem consciência do que se passa. Uma comunicação tanto pode mudar para melhor a vida de um paciente, como mergulhá-lo de vez no desespero e na dor.
Devemos respeitar o livre arbítrio. Nada de interferir na individualidade do paciente, para que não assumimos responsabilidades que não nos cabe. Como diz Pai Seta Branca em uma de suas mensagens: comunicar sem participar
Nada de queremos ser profetas. Nosso aparelho não é completo, ou melhor dizendo, nossa incorporação não é completa. E até Tia Neiva, com toda a sua capacidade tinha medo dessas profecias, pois o futuro pode ser mudado, o carma recartilhado. Isso pode destruir um Apará, desmoralizá-lo. 
Como ilustração deixo aqui uma passagem relatada por Tia Neiva, tirada do livro Partida Evangélica, fascículo 1: "Certa ocasião veio da Inglaterra um famoso lorde. Ele vinha para saber o destino de seu filho recém-nascido. 
Ele foi atendido por um Mestre que estava de saída, com seus companheiros já aguardando numa celebre porteira, de onde cada um partiria na própria direcção.
Apesar da pressa demonstrada pelo Mestre o fidalgo insistiu e o Mestre lhe contou, sem amor, o que via no destino da criança. 
Disse ele que a criança teria um mau destino e deu todo o roteiro da vida dela, em tal tempo lhe acontecia isto, em tempo isso será assim, etc.
O fidalgo saiu dali louco, pois seu filho, que até então era sua alegria passou a ser a sua própria sentença. A partir de então o fidalgo nada mais fez do que sofrer a espera dos acontecimentos, durante toda sua vida. Porém nada aconteceu. O jovem foi feliz, casou-se e viveu normalmente.
O pai viveu sempre amargurado a espera dos maus acontecimentos.
Não é preciso te dizer, Neiva que as vibrações do fidalgo destruíram o apressado Mestre. Ninguém teve intenções de magoar alguém, porém, o pecado das palavras impensadas de um Mestre ou Clarividente (ou um Apará) são algo muito sério. Veja sempre em tua rente um fidalgo, um homem que sofreu as consequências do seu orgulho, porém nunca faças como o impulsivo Mestre, nunca participe com alguém. Serás antes de tudo como uma psicanalista. É bem melhor que as pessoas saiam de perto de ti te desacreditando do que desacreditando nelas mesmas.
Irmãos, somos a tábua de salvação, a última esperança, que todos que passem por nós, refiro-me aos aparás, que saiam com uma mensagem de amor, esperança e conforto em seu coração, confiantes na vida, e jamais desesperados e abatidos.

Versos e Prosas - Meu Aledá
Roberto Roque

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