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domingo, 25 de março de 2018
terça-feira, 20 de março de 2018
SER EXEMPLO
A Sor Lucía Caram:
é preferível ser um ortodoxo hipócrita do que um heterodoxo sincero
Autor: José Miguel Arráiz
Fonte: http://infocatolica.com/blog/apologeticamundo.php
Trad.: Carlos Martins Nabeto
Sim, Sor Lucía, eu sei que ambas as coisas são ruins.
O ortodoxo hipócrita, porque diz que alguém deve fazer algo, porém ele mesmo não faz. Sobre estes advertiu Jesus, quando disse:
– “Fazei, pois, e observai tudo o que eles vos disserem; porém, não imiteis sua conduta, porque dizem mas não fazem” (Mateus 23,3).
Porém, maior dano ao próximo comete o heterodoxo sincero, porque ensina que não há problemas em se fazer aquilo que não deve ser feito, e ele mesmo é feliz por também fazer o que não deveria ser feito.
– “Ai daqueles que chamam o mal de ‘bem’ e de ‘bem’ o mal; aqueles que têm trevas por luz e luz por trevas; que oferecem o amargo por doce e o doce por amargo!” (Isaías 5,20).
Um diz e não faz. O outro diz o mal e faz o mal.
Esclareço isto a Sor Lucía em resposta a um artigo que reúne as suas declarações, publicado em Religion Digital[1]. Nesse artigo, ela denuncia aqueles que chama “os fariseus de hoje, raça de víboras e sepulcros caiados”, e afirma que “não se deve dar atenção aos doentes de ortodoxia hipócrita”.
Depois de ter lido tudo o que ela disse, quero responder-lhe com algumas observações pontuais, a partir da perspectiva de um simples católico de missa dominical, que não pertence a nenhuma ordem religiosa.
Antes de começar, deixo claro que não dou razão ao qualificativo que você atira ao vento, chamando os outros de “fariseus hipócritas”, porque para que você tivesse razão, deveria apontar concretamente e comprobar que esses a quem você acusa [abstratamente] realmente dizem mas não fazem.
O JESUS DO “NÃO-JUÍZO”
Começa Sor Lucía:
– “Este era o qualificativo e a queixa de Jesus perante os fariseus, hipócritas, puritanos, que se dedicavam a esfolar a todos que não eram como eles ou aos que, segundo suas curtas visões, se afastavam da ortodoxia de uma religião que havia se tornado letra morta, no cumprimento vão (‘cumpro’ e ‘minto’)…. Se acreditavam no direito de julgar e condenar. Jesus os recriminou por se dedicarem a enxergar a palha no olho alheio sendo porém incapazes de enxergar a viga que tinham no próprio olho. Conformados com suas elucubrações e juízos implacáveis, permaneciam fechados à Boa Nova que Jesus trazia da parte de Deus e ao anúncio do seu Reino, no qual Deus se manifesta como misericórdia, perdão, acolhida, felicidade, paz, ‘não-juízo’”.
Quando eu, um simples paroquiano, me ponho a ler a Bíblia, encontro muito daquilo que você menciona. Encontro, por exemplo, Jesus anunciando um tempo de graça e misericórdia:
– “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar aos pobres a Boa Nova; me enviou para proclamar a libertação aos cativos e a vista aos cegos; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor” (Lucas 4,18-19).
É certo também que criticou aqueles que julgavam os outros sem corrigir suas próprias faltas:
– “Como é que enxergas a palha que há no olho do teu irmão e não reparas na viga que há em teu olho?… Hipócrita! Tira primeiro a viga do teu olho e então poderás enxergar para tirar a palha do olho do teu irmão” (Mateus 7,3.5).
Porém, em todas essas oportunidades eu encontro um Jesus um pouco diferente daquele que você prega. É um Jesus que anuncia, sim, misericórdia e perdão àqueles que vivem em pecado, porém para que se arrependam e deixem de pecar. Ele não teme em estar acompanhado de pecadores, porém nunca os deixa no pecado; pelo contrário, os convida a segui-Lo e mudar. O caso da adúltera que está a ponto de ser apedrejada é claro e contundente, pois ao mesmo tempo que a perdoa, pede-lhe que não torne mais a pecar:
– “Tampouco eu te condeno. Vai-te e daqui por diante não peques mais” (João 8,11).
Com um paralítico que Jesus cura, repete-se a mesma cena; porém ali Jesus, inclusive, o adverte que, se continuar pecando, lhe poderá ocorrer algo pior:
– “Mais tarde, Jesus o encontrou no Templo e lhe disse: ‘Olha: estás curado; não peques mais, para que não te ocorra algo pior” (João 5,14).
Tampouco é correto que Jesus não fala de juízo. O Jesus do “não-juízo” é uma invenção sua. Uma coisa é que, em sua primeira vinda, não tenha vindo para julgar mas para convidar-nos a receber sua graça; e, outra coisa, que eventualmente o vá fazer. Por isso, ainda que sempre ofereça o perdão àquele que se arrepende, também adverte àqueles que são duros de coração sobre o destino que os aguarda, caso não se convertam:
– “Por isso eu vos digo que no dia do Juízo haverá menos rigor para com Tiro e Sidon do que para convosco. E tu, Cafarnaum, que te elevas até os céus? Afundarás até o Hades! Porque se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que foram feitos em ti, teria subsistido até o dia de hoje. Por isso eu vos digo que no dia do Juízo haverá menos rigor para com a terra de Sodoma do que para contigo”(Mateus 11,22-24).
– “Os ninivitas se levantarão no Juízo contra esta geração e a condenarão; porque eles se converteram pela pregação de Jonas e eis que aqui está alguém maior que Jonas” (Mateus 12,41).
Jesus tampouco disse que não iria julgar. Ele disse precisamente o contrário:
– “Porque o Pai não julga ninguém, mas entregou todo juízo ao Filho” (João 5,22).
– “E disse Jesus: ‘Por uma razão vim a este mundo: para que os que não enxergam passem a enxergar e para que os que enxergam se tornem cegos’” (João 9,39).
– “Quando o Filho do homem vier em sua glória, acompanhado de todos os seus anjos, então se assentará no seu trono de glória. Serão reunidas diante Dele todas as nações e Ele separará umas das outras, tal como o pastor que separa as ovelhas dos cabritos” (Mateus 25,31-32).
Veja tambem Sínodo acolhe magistério de patriarca ortodoxo pela primeira vez
Não se trata portanto de um Jesus adocicado, que nunca julga nem condena, mas de um Jesus que em sua infinita misericórdia nos dá a oportunidade de nos converter uma e outra vez, para que, ao final, quando formos julgados por Ele, não venhamos a ser condenados.
AS “CARGAS PESADAS” QUE NINGUÉM PODE CARREGAR
Você também reprova aqueles a quem chama “fariseus” que colocam cargas pesadas sobre outras pessoas, cargas que nem eles próprios podem carregar. Você diz:
– “A estes, Jesus hoje também os chamaria ‘raça de víboras e sepulcros caiados’, porque impõem cargas pesadas [a outros] que eles mesmos são incapazes de carregar. A estes, lhes faz mal uma Igreja em movimento, uma Igreja que escuta, perdoa e acolhe; uma Igreja que vai às periferias e oferece resposta às interrogações reais das pessoas e que é capaz de acolher seus problemas, para os quais o Evangelho sempre tem uma proposta. A esses doutores sem cátedras de bondade, lhes contraria uma Igreja que foge do poder e que prefere o serviço; que é austera e quer ser pobre com os pobres; que prefere mais a mesa simples do que os grandes banquetes”.
Eu não vejo que esses a quem você hoje chama de “fariseus” tenham alguma objeção em ser uma Igreja “em movimento”, que “acolhe”; e se alguém tivesse algo contra isso, tal coisa seria um outro problema. O péssimo é que se rotule como “cargas pesadas” os Mandamentos de Deus e se condene àqueles cujo único “pecado” é ensinar que [os Mandamentos] devem ser cumpridos. Lembre-se que o mesmo Jesus misericordioso de quem você fala também disse:
– “Mas se quiseres entrar na Vida, cumpre os Mandamentos” (Mateus 19,17).
– “Porém, aquele que descumprir um destes mandamentos, ainda que seja o menor deles, e assim vier a ensinar aos homens, será ele o menor no Reino dos Céus; ao contrário, aquele que os cumprir e os ensinar, esse será grande no Reino dos Céus” (Mateus 5,19).
Não somos protestantes, nem cremos que somente pela fé já somos declarados justos. Cremos que Sua graça nos faz justos e nos capacita para cumprir os Mandamentos:
– “Não sofrereis tentação superior à medida humana. Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças. Pelo contrário, com a tentação vos dará um modo de poder resisti-la com êxito” (1Coríntios 10,31).
Para um católico, os Mandamentos não são “letra morta” e nem algo tão alheio que não possamos cumprir com a Sua graça. É o próprio Deus quem nos adverte:
– “Porque estes Mandamentos que Eu te prescrevo hoje não são superiores às tuas forças, nem estão fora do teu alcance. Não estão no céu, para que precises dizer: ‘Quem subirá por nós ao céu para buscá-los, para que os ouçamos e os ponhamos em prática?’ Nem estão do outro lado do mar, para que precises dizer: ‘Quem irá por nós até o outro lado do mar para buscá-los, para que os ouçamos e os ponhamos em prática?’ Eis que a palavra está bem próxima de ti: está na tua boca e no teu coração, para que a ponhais em prática” (Deuteronômio 20,14).
Perceba que ao criticar que existam pastores que recordem ao povo a importância de se cumprir os Mandamentos, o que você critica é que cumpram com o dever que lhes foi confiado; ou, dito de outro modo: que sejam coerentes com sua fé. E aqui passo ao ponto seguinte.
COERÊNCIA POR DEUS. COERÊNCIA!
Nos tempos dos meus avós havia muitos pecadores, porém, por justiça, preciso dizer que eram pecadores coerentes. Não se lhes ocorria chamar o mal de “bem”, nem o bem de “mal”. Reconheciam-se pecadores, admitiam que era mal o que faziam e, precisamente por isso mesmo, tinham a oportunidade de posteriormente receber a graça do arrependimento. É que para poder se arrepender é necessário que primeiro se tenha consciência de que agiu mal, do contrário terminaríamos cegos como os fariseus da época de Jesus:
– “Se fosses cegos, não teríeis pecado; porém, como dizeis: ‘enxergamos’, vosso pecado permanece” (João 9,41).
O problema é que atualmente temos pastores que ao invés de denunciarem algo como pecado, para não incomodar e ser politicamente corretos, optam por não chamar o pecado pelo seu nome próprio.
Eu, quando decidi continuar católico, decidi fazê-lo de forma coerente. Dito de outro modo: se um dia eu deixo de professar a fé católica, não posso permanecer na Igreja; teria que admitir que já não o sou e sair dela.
A ação contrária seria incoerente; seria como se eu fosse um professor que já não crê na matemática e, por isso, pretendo ensinar biologia em seu lugar. E se alguém me reprova, o acuso de intolerante. “Porém, estamos numa aula de matemática!”, dirão alguns alunos e eu insistirei que sou professor de matemática, da mesma maneira que hoje há uma infinidade de teólogos que continuam insistindo que são católicos enquanto pregam ideologia e doutrinas protestantes.
Coloquemos o seu próprio caso como exemplo, Sor Lucía. Por um lado o ensino oficial da Igreja, manifestado em seu Catecismo, nos ensina que os atos homossexuais, por serem intrinsecamente desordenados, não podem receber aprovação em caso nenhum:
– “’Os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’ (Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração ‘Persona Humana’, nº 8). São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementariedade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados” (Catecismo da Igreja Católica, nº 2357).
Entretanto, você ensina que a Igreja deve abençoar qualquer espécie de amor, incluindo as relações homossexuais:
– “Sor Lucía Caram pede à Igreja para não se meter na decisão daqueles que abortam e abençoar toda espécie de amor”[2]
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Eu posso entender que você não esteja de acordo com o Catecismo e o ensino da Igreja; porém, se você não crê no que ensina a Igreja Católica, não é incoerência pretender continuar dizendo que é católica? Quem é o hipócrita? Aquele que coerentemente recorda e ensina o que diz o Catecismo ou aquele que carrega o Catecismo debaixo do braço mas não crê no que está dito ali?
Passemos agora para o caso do aborto. Na entrevista anteriormente citada, você diz que um católico não deve dizer nada a uma mulher que deseje abortar:
– “Contudo, quem deve tomar livremente a decisão (de abortar) são as pessoas. A Igreja não pode se meter aí. Nem sequer Deus, que nos fez livres” (Sor Lucía Caram).
Porém, por outro lado, a Igreja ensina que o aborto é sempre um crime, um assassinato de um ser indefeso no seio de sua mãe, e que sua mãe não tem o direito moral de tirar-lhe a vida. O Papa Francisco, que você sempre elogia, disse isso bem claramente:
– “O Papa Francisco declara que o aborto é SEMPRE um crime”[3]
E se é assim e o Papa tem razão, você está dizendo que nem a Igreja, nem Deus, nem ninguém pode dizer nada a uma mulher que se dispõe a cometer um crime. Isso é tão absurdo quanto não se poder dizer nada a um assassino que se dispõe a matar a sua vítima, alegando que Deus lhe deu liberdade (você deve aprender a diferenciar entre “liberdade moral” e “liberdade psicológica”).
O que você acha que Jesus pensaria – Ele que também não duvidou em expulsar a chicotadas os mercadores do templo – de uma freira que, dizendo-se “católica”, afirma que devemos ficar de braços cruzados quando alguém vai cometer um crime e que qualquer espécie de amor deve ser abençoado? E se eu, amanhã, me apaixonar por um animal, Ele também abençoará? Me parece que Ele provavelmente a expulsaria do convento.
A RAIZ DO PROBLEMA
Segundo o meu modo de ver, uma das principais doenças de que sofrem os católicos hoje é a mesma que acomete o mundo inteiro: buscar a paz a todo custo, evitando confrontos. Por exemplo, se o ensino do Catecismo incomoda os homossexuais, a solução para alguns seria pedir-lhes perdão por crermos no que cremos:
– “Cardeal Marx: a Igreja deve pedir perdão aos homossexuais. ‘Não se pode dizer que uma relação (homossexual) entre dois homens, se são fiéis, não tem nenhum valor'”[4]
(Quanto a isto, lamentei ver como o Papa, ao ser consultado, evitou o centro da questão.)
E assim temos que enquanto o Catecismo oficialmente ensina que as relações homossexuais “não podem receber aprovação em nenhum caso”, um cardeal “católico” diz que não só podem receber aprovação, como também têm valor inclusive. Como dizemos aqui em meu país: ou é carne ou é limonada; ou ensinam uma coisa, ou ensinam outra; entretanto, se prosseguirmos assim, contrairemos um transtorno bipolar.
O mais grave é que neste estado de patetismo espiritual, o cumprir o dever cristão de denunciar objetivamente aquilo que é pecado converte aquele que o faz naquilo que Sor Lucía Caram chama de “ortodoxo hipócrita”. Não haverá uma Sor Lucía Caram à altura de um São João Batista, capaz de perder a cabeça ao denunciar o adultério do rei Herodes; pelo contrário, as Sor Lucía Caram de hoje seriam o equivalente às Herodíases, que pedirão a cabeça de João com a desculpa de não se condenar ninguém (cf. Marcos 6,24).
Contudo, se todos nos tornarmos católicos diluídos, patéticos, pusilânimes, incapazes de denunciar o que é mal, já não seremos luz do mundo, nem sal da terra; só serviremos mesmo para ser pisoteados:
– “Vós sois o sal da terra. Mas se o sal perde seu sabor, com o que se salgará? Já não serve para mais nada; será lançado fora e pisoteado pelos homens” (Mateus 5,13).
Hoje há uma grande escassez de católicos combatentes, diferentemente de outras épocas em que abundaram e foram a glória da Igreja. Precisamos hoje de um Santo Agostinho e suas incontáveis apologias contra os erros; ou de um Santo Ireneu, que enfrentou todas as heresias do seu tempo. Se vivesse hoje Santo Atanásio, teólogos como José Antonio Pagola, Andres Torres Queiruga e muitos outros não encontrariam lugar para se esconderem. Hoje é melhor calar: “viva e deixe viver”, apesar de Jesus nos dar, no Evangelho, uma mensagem curta mas contundente:
– “Crês que vim aqui para trazer paz à terra? Vos asseguro que não, mas divisão. Porque a partir de agora haverá cinco em uma casa e estarão divididos: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra” (Lucas 12,51-53).
Pregar a verdade sempre poderá trazer confrontos porque a mensagem evangélica nos obriga a tomar partido. Ou és luz ou és trevas. Ou denuncias o mal ou te calas covardemente. Não há nada de errado em dizer ao outro que ele está equivocado, quando por nossa fé temos a certeza de que ele está errado. Não se trata de impor nossas razões, não se trata de obrigá-los a crer; trata-se de expor a verdade como um ato de caridade para com o irmão. Se nós estivéssemos equivocados e alguém soubesse disso, é claro que quereríamos que isso nos fosse dito.
Para que compreendam na prática esta doença que acomete o mundo de hoje e que tem infectado também os católicos que querem ser sempre politicamente corretos e estarem de bem com Deus e com o diabo, convido que assistam a este interessante vídeo sobre a ideologia do gênero. Ainda que não trate do nosso tema em específico, reflete com lucidez esse tipo de mentalidade.
—–
NOTAS:
[1] http://www.periodistadigital. com/religion/opinion/2016/08/ 14/religion-iglesia-espana- opinion-sor-lucia-caram-no- hay-que-hacerles-caso-a-los- enfermos-de-ortodoxia- hipocrita.shtml
[2] http://infocatolica.com/?t= noticia&cod=19779
[3] https://www.aciprensa.com/ noticias/que-lo-sepa-todo-el- mundo-el-aborto-siempre-es-un- crimen-afirma-el-papa- francisco-37048/
[4] http://www.periodistadigital. com/religion/mundo/2016/06/27/ religion-iglesia-mundo-marx- iglesia-homosexuales-perdon- justicia-reconocimiento.shtml
NOTAS:
[1] http://www.periodistadigital.
[2] http://infocatolica.com/?t=
[3] https://www.aciprensa.com/
[4] http://www.periodistadigital.
segunda-feira, 19 de março de 2018
JESUS
SOBRE JESUS - UMA NOTÍCIA QUE ESTÁ ABALANDO O EGIPTO!
Depois do haitiano que ficou 27 dias nos escombros e disse que uma pessoa lhe deu água, veja a notícia interessante que vem ao nosso conhecimento.
UMA NOTÍCIA QUE ESTÁ ABALANDO O EGITO Um muçulmano egípcio matou sua esposa porque ela estava lendo a Bíblia e então a enterrou com seu bebê nascido há poucos dias e uma filha de 8 anos de idade. As crianças foram enterradas vivas! Ele então disse à polícia que um tio havia matado as crianças. Quinze dias mais tarde, outra pessoa da família morreu. Quando foram enterrá-la, encontraram as duas crianças sob a areia? E VIVAS! O país ficou em choque e o homem será executado...Perguntaram à menina de 8 anos como ela havia conseguido sobreviver por tanto tempo e ela disse: "Um homem que usava roupas brilhantes e com feridas que sangravam em suas mãos, vinha todos os dias para nos alimentar. Ele sempre acordava minha mãe para dar de mamar à minha irmã". Ela foi entrevistada no Egito numa TV nacional por uma mulher jornalista que tinha o rosto coberto. Ela disse na TV pública, 'Foi Jesus quem veio cuidar de nós, porque ninguém mais faz coisas como essas!' Os muçulmanos acreditam que Isa (Jesus) aparecerá para fazer coisas desse tipo, mas as feridas em Suas mãos dão provas de que Ele realmente foi crucificado e que Ele está vivo! Também ficou claro que a criança não seria capaz de inventar essa história e não seria possível que essas crianças vivessem sem um milagre verdadeiro. Os líderes muçulmanos terão muita dificuldade em lidar com essa situação e a popularidade do filme 'Paixão de Cristo' não os ajuda! Como o Egipto está bem no centro da media e da educação do Oriente Médio, você pode ter a certeza de que essa história vai se espalhar rapidamente. Jesus Cristo ainda está deixando o mundo de pernas para o ar! Por favor espalhe esta história por todos os lugares. 'O Senhor diz, 'Abençoarei a pessoa que colocar Sua confiança em mim'' (Jeremias 17). Jesus disse: "Se me negas entre os homens, te negarei diante do Pai" Passe essa mensagem adiante, se acha que ela tem algum mérito. Bom... agora faça o que seu coração mandar! |
A RAZÃO
Martinho Lutero tinha razão?
Autor: José Miguel Arráiz
Fonte: http://infocatolica.com/blog/apologeticamundo.php
Trad.: Carlos Martins Nabeto
Já há algum tempo temos ouvido de altos prelados da Igreja reconhecimentos e elogios à figura de Lutero. Se tem dito de tudo, desde coisas moderadas (em que se admite que ele pode ter sido movido por uma boa e reta intenção) até louvores desmedidos (situando-o como parte da grande Tradição da Igreja ou até se admitindo que teve razão no que diz respeito à doutrina da justificação). A partir da ponto de vista de um leigo, quero neste artigo compartilhar o que considero acertado e desacertado nestes elogios politicamente corretos feitos em nossa época sobre a figura e doutrina de Lutero.
SOBRE AS BOAS INTENÇÕES DE MARTINHO LUTERO
Saber exatamente quais eram as intenções de Lutero para agir como agiu nos tempos da Reforma Protestante é algo impossível, pois como todos nós sabemos, o fôro interno só é conhecido por Deus. O que podemos, sim, fazer é formar uma opinião aproximada e falível, evitando cair em juízo temerário quanto ao que o próprio Lutero admitia e o estudo objetivo dos fatos históricos. A partir desta perspectiva, o máximo que se poderia admitir, na melhor das hipóteses, como mera possibilidade, é que Lutero pode ter agido com o que chamamos “consciência reta” ainda que errônea.
Tal como tradicionalmente nos foi ensinado, age em “consciência reta” quem julga da bondade ou malícia de um ato com fundamento e prudência, diferentemente da “consciência falsa”, que julga com irreflexão e sem fundamento sério. Ao contrário, age com “consciência verdadeira” aquele que além de agir em consciência reta, acerta em seu juízo e age de acordo com ao ordem moral objetiva. Não se deve confundir a “consciência reta” com a “conciência verdadeira”. Uma pessoa pode agir com consciência reta quando, com suas limitações, colocou todo o empenho em agir corretamente independentemente de acertar (consciência verdadeira) ou se equivocar por algum erro especulativo (consciência errônea). Age em consciência reta invencivelmente errônea quem, depois de ter feito todo o possível para agir corretamente, ainda assim erra, porém age de acordo com o que a sua consciência lhe dita, consciência que, neste caso, estaria deficientemente formada.
Nos próprios escritos de Lutero o encontramos admitindo que passou por uma intensa luta interior, onde lhe atormentava pensar que poderia ter agido equivocadamente, mas que finalmente ficou convencido de que agia para a glória de Deus. A este respeito, escreveu Lutero:
– “Certa vez [o diabo] me atormentou e quase me estrangulou com as palavras de Paulo a Timóteo; tanto que o coração se me queria dissolver no peito: ‘Tu foste a causa de que tantos monges e monjas abandonassem seus mosteiros’. O diabo habilmente me tirava da vista os textos sobre a justificação… Eu pensava: ‘Quem ordena estas coisas és somente tu; e, se tudo for falso, tu serás o responsável por tantas almas caírem no inferno’. Com essa tentação cheguei a sofrer tormentos infernais, até que Deus me tirou dela e me confirmou que meus ensinamentos eram palavra de Deus e doutrina verdadeira” (Martinho Lutero, Tisch. 141,I,62-63).
– “Antes de tudo, o que temos que estabelecer é se nossa doutrina é palavra de Deus. Se isto se verifica, estamos certos de que a causa que defendemos pode e deve ser mantida, e não há demônio que possa lançá-la abaixo… Eu, em meu coração, já rejeitei qualquer outra doutrina religiosa, seja ela qual for, e venci aquele molestíssimo pensamento que o coração murmura: ‘Tu és o único que possuis a palavra de Deus? E os demais, não a têm?’… Tal argumento o acho válido para todos os profetas, àqueles que também se lhes foi dito: ‘Vós sois poucos, o povo de Deus somos nós’” (Martinho Lutero, Tisch. 130,I,53-54).
Parece que Lutero nunca se livrou da dúvida e, ao longo dos anos, retornava a ele um persistente peso de consciência, que identificava como tentações do demônio. No ano de 1535, já na avançada idade de 52 anos, admite todavia que acha o argumento “bastante capcioso e robusto dos falsos apóstolos”, que lhe impugnam deste modo: “Os apóstolos, os Santos Padres e seus sucessores nos deixaram estes ensinamentos; tal é o pensamento e a fé da Igreja. Pois bem, é impossível que Cristo tenha deixado a sua Igreja errar por tantos séculos. Somente tu sabes mais que tantos homens santos e que toda a Igreja… Quem és tu para atrever-te a dissentir de todos eles e para colocar-nos violentamente um dogma diverso? Quando Satanás urge este argumento e quase conspira com a carne e com a razão, a consciência se aterroriza e desespera, e é preciso entrar continuamente dentro de si mesmo e dizer: ainda que os santos Cipriano, Ambrósio e Agostinho; ainda que São Pedro, São Paulo e São João; ainda que os anjos do céu te ensinem outra coisa, isto é o que eu sei de certo: que não ensino coisas humanas, mas divinas; ou seja, que [no negócio da salvação] tudo o atribuo a Deus e nada aos homens” (WA 40,1; pp.130-131).
O certo é que se tal boa intenção existiu, a soberba pouco a pouco o levou a afastar-se cada vez mais do ideal evangélico, enchendo seu coração de ódio e maldições, como ele mesmo admitiu:
– “Visto que não posso rezar, tenho que maldizer. Direi: ‘Santificado seja teu nome’, porém acrescentarei: ‘Maldito, condenado e desonrado seja o nome dos papistas e de todos quantos blasfemam o teu nome’. Direi: ‘Venha teu reino’, e acrescentarei: ‘Maldito, condenado e destruído seja o papado com todos os reinos da terra, contrários ao teu reino’. Direi: ‘Faça-se tua vontade’, e acrescentarei: ‘Malditos, condenados, desonrados e aniquilados sejam todos os pensamentos e planos dos papistas e de quantos maquinam contra a tua vontade e conselho’. Verdadeiramente, assim rezo todos os dias, sem cessar, oralmente e com o coração; e comigo, todos quantos crerem em Cristo” (WA 30,3; p.470).
O cardeal Joseph Ratzinger, antes de se tornar Papa, pontualizou a este respeito:
– “Há que se levar em conta que não só existem anátemas por parte católica contra a doutrina de Lutero, como também existem desqualificações bastante explícitas contra o Catolicismo por parte do reformador e de seus companheiros; reprovações que culminam na frase de Lutero de que restamos divididos para a eternidade. É este o momento de referir-nos a essas palavras cheias de raiva pronunciadas por Lutero em relação ao Concílio de Trento, nas quais restou finalmente clara sua rejeição à Igreja católica: ‘Teria que fazer prisioneiro ao Papa, aos cardeais e a todos esses canalhas que o idolatram e santificam; tê-los por blasfemos e logo arrancar-lhes a linguagem coalhada; colocá-los todos na fila da forca… Então se lhes poderia permitir que celebrassem o Concílio, ou o que quer que seja, a partir da forca ou no inferno, com os diabos’” (Card. Joseph Ratzinger, “Igreja, Ecumenismo e Política: novos ensaios de eclesiologia”, Biblioteca de Autores Cristãos, Madri, 1987, p. 120).
Uma vez mergulhado nessa espiral de loucura, todos aqueles que divergiam de Lutero em qualquer ponto de doutrina ou o consideravam inimigo era objeto dos qualificativos mais sujos e vulgares: ao duque Jorge da Saxônia, chama-o de “assassino”, “traidor”, “infame” “assassino profissional”, “derramador de sangue”, “patife sem-vergonha”, “mentiroso”, “maldito”, “cão”, “sanguinário”, “demônio”. Os insultos contra o Papa sempre foram uma constante e é quase impossível contabilizá-los: “anticristo maldito”, “burro papal”, “asno papal”, “bispo dos hermafroditas e Papa dos sodomitas”, “apóstolo do diabo”. Não só os católicos eram objeto de seus opróbrios, como também passaram a alcançar os próprios protestantes: a Tomás Münzer chama-o de “arquidemônio que não realiza senão latrocínios, assassinatos e derramamentos de sangue”; seu aliado Andreas Karlstadt, quando passa a divergir dele, se transforma em um “sofista, essa mente louca”, “muito mais louco que os papistas”; o mesmo ocorre com Ulrico Zwinglio, que quando nega a presença de Cristo na Eucaristia passa a ser “digníssimo de santo ódio, pois age tão indecente e maliciosamente em nome da santa palavra de Deus” e um “servidor do diabo”.
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É evidente que Lutero não era precisamente a pessoa ideal para tentar reformar a Igreja; e já passados tantos séculos desde aqueles acontecimentos, resta claro que a figura do reformador protestante não tem por que seguir separando católicos e protestantes. Eu mesmo, que não nutro simpatia por tão sinistro personagem, não teria problema em admitir que pode ter tido, no começo, justa indignação pelos abusos no tráfico de indulgências, ou que estava sinceramente convencido de estar na verdade. E ao admitir isto, não vejo que esteja sendo concedido a ele qualquer grão de razão.
DO OBSCURECIMENTO DO SENTIDO DA GRATUIDADE DA SALVAÇÃO NA IGREJA CATÓLICA
Porém, outro dos louvores que se costuma ouvir a respeito da figura de Lutero e que já começa a ser preocupante, é aquele onde se admite e sustenta que durante séculos perdeu-se, na Igreja Católica, o sentido da gratuidade da salvação divina e foi Lutero quem teve o mérito de recuperá-la. Quanto a isso, pode-se mencionar concretamente a pregação feita pelo padre Rainiero Cantalamessa, em março deste ano [de 2016], na Basílica de São Pedro, em que afirmou o seguinte:
– “Existe o perigo de que alguém ouça falar da justiça de Deus e, sem saber o significado, ao invés de animar-se, se assuste. Santo Agostinho já o havia explicado claramente: “A ‘justiça de Deus’ – escrevia ele – é aquela pela qual Ele nos faz justos mediante sua graça; exatamente como ‘a salvação do Senhor’ (Salmo 3,9) é aquela pela qual Ele nos salva” (Do Espírito e da Letra 32,56). Em outras palavras: a justiça de Deus é o ato pelo qual Deus faz justos, agradáveis a Ele, aos que crerem em seu Filho. Não é um ‘fazer-se justiça’, mas um ‘fazer justos’. Lutero teve o mérito de trazer à luz esta verdade, depois de que, durante séculos, pelo menos na pregação cristã, se havia perdido o sentido; e é isto, sobretudo, o que a Cristiandade deve à Reforma, a qual no próximo ano cumpre o quinto centenário. “Quando descobri isto – escreveu mais tarde o reformador – senti que renascia e me parecia que se me abriram de par em par as portas do paraíso”” (Prefácio às obras em latim, ed. Weimar 54, p.186).
Se bem que seja possível que na época de Lutero alguns pregadores de indulgências pudessem deixar em segundo plano a doutrina sobre a gratuidade da graça (desconheço até que ponto), não é justo atribuir isto à pregação cristã da Igreja durante séculos. Como bem fez notar o sacerdote e doutor em teologia José María Iraburu em um artigo publicado recentemente[1], sustentar isto é cometer uma grande injustiça para com aqueles pregadores que mais prestígio e influência tiveram na Cristiandade de seu tempo, tanto antes como depois da época de Lutero, e que ensinaram sempre a verdadeira doutrina católica da graça e da justificação, e estavam livres de toda espécie de pelagianismo ou semipelagianismo; entre eles, recordou: Santa Hildegarda de Bingen (+1179), São Domingo de Gusmão (+1221), São Francisco de Assis (+1226), Santo Antonio de Pádua (+1231), Beato Ricério de Múcia (+1236), Davi de Augsburgo (+1272), São Tomás de Aquino (+1274), São Boaventura (+1274), Santa Gertrudes de Helfta (+1302), Santa Ângela de Foligno (+1309), mestre Eckahrt (+1328), Taulero (+1361), Beato Henrique Suson (+1366), Santa Brígida da Suécia (+1373), Santa Catarina de Sena (+1380), Ruysbroeck (+1381), Beato Raimundo de Cápua (+1399), São Vicente Férrer (+1419), São Bernardino de Sena (+1444), São João de Capistrano (+1456), Tomás de Kempis (+1471), Santa Catarina de Gênova (+1507), Barnabé de Palma (+1532), Francisco de Osuna (+1540), Santo Inácio de Loiola (+1556), São Pedro de Alcântara (+1562), São João d’Ávila (+1569), e tantos outros.
Realmente se pode afirmar com justiça que estes santos, doutores, pregadores e mestres espirituais desconheceram em suas pregações a gratuidade da justificação do homem pela graça que na fé tem seu início? Obscureceram em seu tempo, “durante séculos”, “ao menos na pregação” ao povo, o entendimento da salvação como pura graça concedida pelo Senhor gratuitamente? As pregações de todos esses mestres e doutores, conservadas hoje em dia, são uma clara evidência de que isso não é certo; e ainda que tenhamos o mais nobre desejo de melhorar as relações com nossos irmãos luteranos, a solução não pode ser lançada injustamente contra os nossos antepassados na fé…
DIFERENÇAS ENTRE A DOUTRINA CATÓLICA E A LUTERANA
Para compreender quais são as diferenças reais que subsistem entre a doutrina católica e a luterana, temos que resumir, ainda que seja bem brevemente, os erros do ex-monge alemão:
A concupiscência é sempre pecado
Nós, católicos, cremos que se comete pecado ao consentir o impulso pecaminoso, não simplesmente ao senti-lo. Para Lutero, ao contrário, a concupiscência é pecado já em si mesma, formal e imputável. Este primeiro erro conduziu Lutero a uma vida de tormento, porque apesar de todas as boas obras que tentava fazer, não conseguia alcançar a paz interior ao sentir-se constantemente em pecado mortal e próximo da condenação eterna.
Neste estado psicológico, Lutero foi conduzido ao seu segundo erro: a negação total da liberdade humana.
O homem não é livre
Tal como sustenta Lutero, em sua obra “De Servo Arbitrio”, o pecado original destruiu totalmente o livre arbítrio da pessoa humana. Para o ex-monge alemão, o homem é já incapaz de fazer alguma obra boa; portanto todas as suas obras, ainda que tenham uma aparência bela, são, não obstante e provavelmente, pecados mortais… E se as obras dos justos são pecado, como afirma sua conclusão, com maior motivo o são as dos que ainda não foram justificados.
A doutrina católica ensina, ao contrário, que em razão do pecado original o livre arbítrio encontra-se debilitado, porém não aniquilado, e que ainda que para efetuar atos saudáveis (atos que conduzem à salvação) é imprescindível a graça de Deus, podendo realizar sem a ajuda da graça obras moralmente boas.
O homem se justifica somente pela graça através da fé fiducial ou fé somente
O terceiro erro de Lutero parte do anterior, pois conclui que se o homem não é livre, aqueles que se salvam o conseguem porque Deus lhes outorga a salvação de uma forma absolutamente passiva e extrínseca. O homem não coopera em nada para sua salvação, mas tudo se resolve pela certeza subjetiva de ter sido justificado pela fé graças à imputação dos méritos de Cristo. Basta aceitar Cristo como salvador e confiar em estar salvo para assegurar a salvação, independentemente se age conforme à vontade de Deus ou se descumpre os Mandamentos.
A partir desta perspectiva, o homem continua sendo pecador, porém é declarado justo, de uma forma semelhante como se tomássemos um homem maltrapilho e sujo e o cobríssemos sem lavá-lo com uma túnica esplêndidamente branca. Ao olhar para ele, o Juiz miraria a túnica branca e resplandecente (que representa Jesus Cristo, o qual morreu por nossos pecados) ao invés da sujeira que se encontra debaixo dela.
Nós, católicos, ao contrário, cremos que podemos cooperar na nossa justificação, não com nossas próprias forças, mas porque a graça nos inspira e nos capacita para fazê-lo. Cremos, ademais, que Deus não só nos declara justos, como também nos faz justos; que nos santifica e renova, de modo que, por meio da graça, somos uma nova criatura. Consequentemente, devemos viver como nova criatura. A fé deve fazer-se efetiva no amor, no cumprimento dos Mandamentos e nas obras de caridade.
A doutrina luterana, ainda que piedosamente envernizada e ainda que pretenda dar primazia à graça, no fundo apresenta uma noção deficiente da mesma, crendo que ela é impotente na hora de transformar o homem, não o tornando verdadeiramente santo, conformando-se então por declará-lo somente justo, permanecendo imundo e pecador.
Os justificados não podem perder sua salvação
Veja tambem Questionando os Protestantes - IX
Se se conclui erroneamente que o homem se salva somente pela fé, é compreensível que se conclua que o crente justificado não pode perder sua salvação ainda que não obedeça os Mandamentos e cometa pecados graves. Daí que em 1521, a 1º de agosto, escreve Lutero em uma carta a Melanchthon:
– “Se és pregador da graça, prega uma graça verdadeira e não fictícia; se a graça é verdadeira, deves cometer um pecado verdadeiro e não um fictício. Deus não salva os que são somente pecadores fictícios. Seja um pecador e peca audazmente, porém crê e alegra-te em Cristo ainda mais audazmente… enquanto estivermos aqui [neste mundo] temos que pecar… Nenhum pecado nos separará do Cordeiro, ainda que forniquemos e assassinemos mil vezes ao dia”.
Nós, católicos, ao contrário, cremos que o crente justificado pode decair do estado de graça de Deus se comete pecado mortal. O Evangelho está cheio de advertências neste sentido. Cristo nos fala daquele ramo (crente) que deixa de dar fruto (fazer boas obras) e é cortado e lançado ao fogo (João 15); deixa claro que não somente aquele que confessa sua fé Nele entrará no Reino dos Céus, como também aquele que faz a vontade de Deus (Mateus 7,21). Quando o jovem rico pergunta a Jesus o que deve fazer para salvar-se, Ele lhe responde que cumpra os Mandamentos (Mateus 19,17). A epístola de São Tiago, em seu capítulo 2, contém praticamente uma refutação formal às teses de Lutero, a ponto de que este tentou por todos os meios excluí-la da Bíblia e a qualificou como “a epístola de palha”.
OS ERROS DERIVADOS DA DOUTRINA DE LUTERO
Porém, os erros de Lutero não acabaram ali e, como uma fila de peças de dominó que cai um atrás do outro, seguiram-se multiplicando. Nesse sentido pontualizou o cardeal Joseph Ratzinger:
– “Lutero, após a ruptura definitiva, não só rejeitou categoricamente o papado, como também qualificou de idolátrica a doutrina católica da missa, porque via nela uma recaída na Lei, com a consequente negação do Evangelho. Reduzir todas estas confrontações a simples mal-entendidos é, no meu modo de ver, uma pretensão iluminista, que não indica a verdadeira medida do que foram aquelas lutas guiadas pela paixão, nem o peso da realidade presente em suas alegações. A verdadeira questão, portanto, pode unicamente consistir em nos perguntar até que ponto, hoje, é possível superar as posturas de então e alcançar um consenso que vai além daquele tempo. Em outras palavras: a unidade exige passos novos e não se realiza mediante artifícios interpretativos. Se em seu dia [a divisão] se realizou com experiências religiosas contrapostas, que não podiam encontrar espaço no campo vital da doutrina eclesiástica transmitida, tampouco hoje a unidade se forja somente mediante discussões multifacetadas, mas com a força da experiência religiosa. A indiferença é um meio de união tão somente na aparência” (Card. Joseph Ratzinger, “Igreja, Ecumenismo e Política: novos ensaios de eclesiologia”, Biblioteca de Autores Cristãos, Madri, 1987, pp. 120-121).
Dito em linguagem simples: as diferenças existem e ignorá-las não fará que desapareçam, ponto este que tratarei a seguir.
ESTAMOS HOJE DE ACORDO, CATÓLICOS E PROTESTANTES, NO QUE DIZ RESPEITO À DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO?
O Papa Francisco, aludindo ao Acordo Católico-Luterano a respeito da justificação, de 1999[2], declarou em uma entrevista que “hoje em dia, os protestantes e os católicos estão de acordo quanto a doutrina da justificação”.
Com todo o respeito que o Papa merece e compreendendo que este tipo de declaração pode ser motivada pela boa intenção de buscar uma aproximação entre católicos e protestantes, creio que se somos realistas temos que aceitar que a situação é bem diferente. Em primeiro lugar, teria que matizar que a referida declaração somente foi firmada pela Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial. Tal Federação representa apenas um conjunto de igrejas luteranas, as quais não abarcam nem 7% do protestantismo e nem sequer a totalidade do luteranismo. É um fato lamentável porém certo que a rejeição do acordo foi praticamente total pelas demais denominações cristãs, incluindo as batistas, metodistas, calvinistas, pentecostais, etc.
E como fez notar acertadamente Luis Fernando Pérez em um artigo publicado em Infocatólica[3], inclusive dentro do próprio luteranismo tal acordo foi amplamente rejeitado por centenas de teólogos e pela Igreja Evangélica da Dinamarca (luterana), com um argumento cheio de senso comum: trata-se de um texto que o próprio Lutero teria rejeitado, pois se aproxima da doutrina católica sobre a justificação e se afasta do “sola fide” do ex-monge agostiniano alemão.
O teólogo protestante José Grau explicou isso da seguinte maneira:
– “O chamado Acordo sobre a Justificação, de 1999, da mesma forma que as conversações que serviram de prolegômenos nas duas últimas décadas do século XX, faz com a doutrina da justificação o mesmo que fez Trento com o agostinianismo: se aproxima semanticamente de Lutero (ainda que sem condená-lo nominalmente, especificamente, sem tampouco levantar a excomunhão vaticana que pesa sobre ele). E assim como em Trento a Igreja Romana descafeinou Agostinho (nota nossa: isto é falso), agora estes luteranos, de braços dados com os católicos, descafeínaram Lutero. O resultado prático não é outro senão a inutilização da ‘dinamite’ da mensagem reformada, luterana, protestante e sobretudo bíblica (o Evangelho é poder ‘dinamite’ de Deus ‘para salvação de todo aquele que crê’, Romanos 1:16), anulando a espoleta das doutrinas da graça mediante uma terminologia teológica que parece do agrado de todos quando lida de passagem, sem se aprofundar nos conceitos. Umas afirmações equilibram as outras de sinal diferente, sem entrar quase nunca no miolo fundamental da questão. Como escreve Pedro Puigvert, na carta a ‘La Vanguardia’ (de 05/11/1999): ‘Os católicos não cederam em nada, porque isso de confessar que a justificação é obra da graça de Deus o têm crido sempre, juntamente com a cooperação humana que agora resulta que também é fruto da graça, ainda que a Escritura o desminta quando diz: ‘Àquele que age não se lhe conta o salário como graça, mas como dívida; mas ao que não age e crê Naquele que justifica o ímpio, sua fé lhe é contada por justiça’ (Romanos 4:5-6). Roma ganhou a batalha doutrinária. Ah, se Lutero erguesse a cabeça!”.
Pessoalmente, gostaria de compartilhar daquela apreciação do Papa e crer que os católicos e evangélicos verdadeiramente chegamos a professar uma mesma fé a respeito do tema “justificação”; porém, a crua realidade é outra: nem sequer os próprios protestantes, entre eles mesmos, estão de acordo neste tema.
LUTERO TEVE RAZÃO NO QUE DIZ RESPEITO À DOUTRINA DA JUTIFICAÇÃO?
Hoje está na moda dar razão a Lutero: é politicamente correto. Cremos agora, católicos e evangélicos, que o homem é justificado por meio da graça de Deus? Sim, porém sempre temos crido nisso. O problema está quando se afirma, a respeito das diferenças doutrinárias reais que existiram e existem entre a doutrina católica e a luterana, que Lutero era quem tinha razão.
Se a doutrina de Lutero, que foi condenada dogmaticamente por um Concílio Ecumênico e dogmático, resulta na doutrina verdadeira, seria melhor apagar as luzes e irmos embora, porque então terão razão também os protestantes ao afirmarem que não precisamos nem de Papas nem de Concílios, já que se é como eles sustentam, [Papas e Concílios] podem equivocar-se quando definem aquilo que é dogma de fé.
E se tudo se trata de um gesto diplomático, é necessário recordar, como nos foi sempre ensinado, que um ecumenismo que não encontra-se fundamentado na verdade não é um verdadeiro ecumenismo, e por mais que posemos juntos e sorridentes para as fotos, não estaremos mais próximos hoje uns dos outros como estávamos há 500 anos.
—–
Fonte: http://infocatolica.com/blog/apologeticamundo.php
Trad.: Carlos Martins Nabeto
Já há algum tempo temos ouvido de altos prelados da Igreja reconhecimentos e elogios à figura de Lutero. Se tem dito de tudo, desde coisas moderadas (em que se admite que ele pode ter sido movido por uma boa e reta intenção) até louvores desmedidos (situando-o como parte da grande Tradição da Igreja ou até se admitindo que teve razão no que diz respeito à doutrina da justificação). A partir da ponto de vista de um leigo, quero neste artigo compartilhar o que considero acertado e desacertado nestes elogios politicamente corretos feitos em nossa época sobre a figura e doutrina de Lutero.
SOBRE AS BOAS INTENÇÕES DE MARTINHO LUTERO
Saber exatamente quais eram as intenções de Lutero para agir como agiu nos tempos da Reforma Protestante é algo impossível, pois como todos nós sabemos, o fôro interno só é conhecido por Deus. O que podemos, sim, fazer é formar uma opinião aproximada e falível, evitando cair em juízo temerário quanto ao que o próprio Lutero admitia e o estudo objetivo dos fatos históricos. A partir desta perspectiva, o máximo que se poderia admitir, na melhor das hipóteses, como mera possibilidade, é que Lutero pode ter agido com o que chamamos “consciência reta” ainda que errônea.
Tal como tradicionalmente nos foi ensinado, age em “consciência reta” quem julga da bondade ou malícia de um ato com fundamento e prudência, diferentemente da “consciência falsa”, que julga com irreflexão e sem fundamento sério. Ao contrário, age com “consciência verdadeira” aquele que além de agir em consciência reta, acerta em seu juízo e age de acordo com ao ordem moral objetiva. Não se deve confundir a “consciência reta” com a “conciência verdadeira”. Uma pessoa pode agir com consciência reta quando, com suas limitações, colocou todo o empenho em agir corretamente independentemente de acertar (consciência verdadeira) ou se equivocar por algum erro especulativo (consciência errônea). Age em consciência reta invencivelmente errônea quem, depois de ter feito todo o possível para agir corretamente, ainda assim erra, porém age de acordo com o que a sua consciência lhe dita, consciência que, neste caso, estaria deficientemente formada.
Nos próprios escritos de Lutero o encontramos admitindo que passou por uma intensa luta interior, onde lhe atormentava pensar que poderia ter agido equivocadamente, mas que finalmente ficou convencido de que agia para a glória de Deus. A este respeito, escreveu Lutero:
– “Certa vez [o diabo] me atormentou e quase me estrangulou com as palavras de Paulo a Timóteo; tanto que o coração se me queria dissolver no peito: ‘Tu foste a causa de que tantos monges e monjas abandonassem seus mosteiros’. O diabo habilmente me tirava da vista os textos sobre a justificação… Eu pensava: ‘Quem ordena estas coisas és somente tu; e, se tudo for falso, tu serás o responsável por tantas almas caírem no inferno’. Com essa tentação cheguei a sofrer tormentos infernais, até que Deus me tirou dela e me confirmou que meus ensinamentos eram palavra de Deus e doutrina verdadeira” (Martinho Lutero, Tisch. 141,I,62-63).
– “Antes de tudo, o que temos que estabelecer é se nossa doutrina é palavra de Deus. Se isto se verifica, estamos certos de que a causa que defendemos pode e deve ser mantida, e não há demônio que possa lançá-la abaixo… Eu, em meu coração, já rejeitei qualquer outra doutrina religiosa, seja ela qual for, e venci aquele molestíssimo pensamento que o coração murmura: ‘Tu és o único que possuis a palavra de Deus? E os demais, não a têm?’… Tal argumento o acho válido para todos os profetas, àqueles que também se lhes foi dito: ‘Vós sois poucos, o povo de Deus somos nós’” (Martinho Lutero, Tisch. 130,I,53-54).
Parece que Lutero nunca se livrou da dúvida e, ao longo dos anos, retornava a ele um persistente peso de consciência, que identificava como tentações do demônio. No ano de 1535, já na avançada idade de 52 anos, admite todavia que acha o argumento “bastante capcioso e robusto dos falsos apóstolos”, que lhe impugnam deste modo: “Os apóstolos, os Santos Padres e seus sucessores nos deixaram estes ensinamentos; tal é o pensamento e a fé da Igreja. Pois bem, é impossível que Cristo tenha deixado a sua Igreja errar por tantos séculos. Somente tu sabes mais que tantos homens santos e que toda a Igreja… Quem és tu para atrever-te a dissentir de todos eles e para colocar-nos violentamente um dogma diverso? Quando Satanás urge este argumento e quase conspira com a carne e com a razão, a consciência se aterroriza e desespera, e é preciso entrar continuamente dentro de si mesmo e dizer: ainda que os santos Cipriano, Ambrósio e Agostinho; ainda que São Pedro, São Paulo e São João; ainda que os anjos do céu te ensinem outra coisa, isto é o que eu sei de certo: que não ensino coisas humanas, mas divinas; ou seja, que [no negócio da salvação] tudo o atribuo a Deus e nada aos homens” (WA 40,1; pp.130-131).
O certo é que se tal boa intenção existiu, a soberba pouco a pouco o levou a afastar-se cada vez mais do ideal evangélico, enchendo seu coração de ódio e maldições, como ele mesmo admitiu:
– “Visto que não posso rezar, tenho que maldizer. Direi: ‘Santificado seja teu nome’, porém acrescentarei: ‘Maldito, condenado e desonrado seja o nome dos papistas e de todos quantos blasfemam o teu nome’. Direi: ‘Venha teu reino’, e acrescentarei: ‘Maldito, condenado e destruído seja o papado com todos os reinos da terra, contrários ao teu reino’. Direi: ‘Faça-se tua vontade’, e acrescentarei: ‘Malditos, condenados, desonrados e aniquilados sejam todos os pensamentos e planos dos papistas e de quantos maquinam contra a tua vontade e conselho’. Verdadeiramente, assim rezo todos os dias, sem cessar, oralmente e com o coração; e comigo, todos quantos crerem em Cristo” (WA 30,3; p.470).
O cardeal Joseph Ratzinger, antes de se tornar Papa, pontualizou a este respeito:
– “Há que se levar em conta que não só existem anátemas por parte católica contra a doutrina de Lutero, como também existem desqualificações bastante explícitas contra o Catolicismo por parte do reformador e de seus companheiros; reprovações que culminam na frase de Lutero de que restamos divididos para a eternidade. É este o momento de referir-nos a essas palavras cheias de raiva pronunciadas por Lutero em relação ao Concílio de Trento, nas quais restou finalmente clara sua rejeição à Igreja católica: ‘Teria que fazer prisioneiro ao Papa, aos cardeais e a todos esses canalhas que o idolatram e santificam; tê-los por blasfemos e logo arrancar-lhes a linguagem coalhada; colocá-los todos na fila da forca… Então se lhes poderia permitir que celebrassem o Concílio, ou o que quer que seja, a partir da forca ou no inferno, com os diabos’” (Card. Joseph Ratzinger, “Igreja, Ecumenismo e Política: novos ensaios de eclesiologia”, Biblioteca de Autores Cristãos, Madri, 1987, p. 120).
Uma vez mergulhado nessa espiral de loucura, todos aqueles que divergiam de Lutero em qualquer ponto de doutrina ou o consideravam inimigo era objeto dos qualificativos mais sujos e vulgares: ao duque Jorge da Saxônia, chama-o de “assassino”, “traidor”, “infame” “assassino profissional”, “derramador de sangue”, “patife sem-vergonha”, “mentiroso”, “maldito”, “cão”, “sanguinário”, “demônio”. Os insultos contra o Papa sempre foram uma constante e é quase impossível contabilizá-los: “anticristo maldito”, “burro papal”, “asno papal”, “bispo dos hermafroditas e Papa dos sodomitas”, “apóstolo do diabo”. Não só os católicos eram objeto de seus opróbrios, como também passaram a alcançar os próprios protestantes: a Tomás Münzer chama-o de “arquidemônio que não realiza senão latrocínios, assassinatos e derramamentos de sangue”; seu aliado Andreas Karlstadt, quando passa a divergir dele, se transforma em um “sofista, essa mente louca”, “muito mais louco que os papistas”; o mesmo ocorre com Ulrico Zwinglio, que quando nega a presença de Cristo na Eucaristia passa a ser “digníssimo de santo ódio, pois age tão indecente e maliciosamente em nome da santa palavra de Deus” e um “servidor do diabo”.
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É evidente que Lutero não era precisamente a pessoa ideal para tentar reformar a Igreja; e já passados tantos séculos desde aqueles acontecimentos, resta claro que a figura do reformador protestante não tem por que seguir separando católicos e protestantes. Eu mesmo, que não nutro simpatia por tão sinistro personagem, não teria problema em admitir que pode ter tido, no começo, justa indignação pelos abusos no tráfico de indulgências, ou que estava sinceramente convencido de estar na verdade. E ao admitir isto, não vejo que esteja sendo concedido a ele qualquer grão de razão.
DO OBSCURECIMENTO DO SENTIDO DA GRATUIDADE DA SALVAÇÃO NA IGREJA CATÓLICA
Porém, outro dos louvores que se costuma ouvir a respeito da figura de Lutero e que já começa a ser preocupante, é aquele onde se admite e sustenta que durante séculos perdeu-se, na Igreja Católica, o sentido da gratuidade da salvação divina e foi Lutero quem teve o mérito de recuperá-la. Quanto a isso, pode-se mencionar concretamente a pregação feita pelo padre Rainiero Cantalamessa, em março deste ano [de 2016], na Basílica de São Pedro, em que afirmou o seguinte:
– “Existe o perigo de que alguém ouça falar da justiça de Deus e, sem saber o significado, ao invés de animar-se, se assuste. Santo Agostinho já o havia explicado claramente: “A ‘justiça de Deus’ – escrevia ele – é aquela pela qual Ele nos faz justos mediante sua graça; exatamente como ‘a salvação do Senhor’ (Salmo 3,9) é aquela pela qual Ele nos salva” (Do Espírito e da Letra 32,56). Em outras palavras: a justiça de Deus é o ato pelo qual Deus faz justos, agradáveis a Ele, aos que crerem em seu Filho. Não é um ‘fazer-se justiça’, mas um ‘fazer justos’. Lutero teve o mérito de trazer à luz esta verdade, depois de que, durante séculos, pelo menos na pregação cristã, se havia perdido o sentido; e é isto, sobretudo, o que a Cristiandade deve à Reforma, a qual no próximo ano cumpre o quinto centenário. “Quando descobri isto – escreveu mais tarde o reformador – senti que renascia e me parecia que se me abriram de par em par as portas do paraíso”” (Prefácio às obras em latim, ed. Weimar 54, p.186).
Se bem que seja possível que na época de Lutero alguns pregadores de indulgências pudessem deixar em segundo plano a doutrina sobre a gratuidade da graça (desconheço até que ponto), não é justo atribuir isto à pregação cristã da Igreja durante séculos. Como bem fez notar o sacerdote e doutor em teologia José María Iraburu em um artigo publicado recentemente[1], sustentar isto é cometer uma grande injustiça para com aqueles pregadores que mais prestígio e influência tiveram na Cristiandade de seu tempo, tanto antes como depois da época de Lutero, e que ensinaram sempre a verdadeira doutrina católica da graça e da justificação, e estavam livres de toda espécie de pelagianismo ou semipelagianismo; entre eles, recordou: Santa Hildegarda de Bingen (+1179), São Domingo de Gusmão (+1221), São Francisco de Assis (+1226), Santo Antonio de Pádua (+1231), Beato Ricério de Múcia (+1236), Davi de Augsburgo (+1272), São Tomás de Aquino (+1274), São Boaventura (+1274), Santa Gertrudes de Helfta (+1302), Santa Ângela de Foligno (+1309), mestre Eckahrt (+1328), Taulero (+1361), Beato Henrique Suson (+1366), Santa Brígida da Suécia (+1373), Santa Catarina de Sena (+1380), Ruysbroeck (+1381), Beato Raimundo de Cápua (+1399), São Vicente Férrer (+1419), São Bernardino de Sena (+1444), São João de Capistrano (+1456), Tomás de Kempis (+1471), Santa Catarina de Gênova (+1507), Barnabé de Palma (+1532), Francisco de Osuna (+1540), Santo Inácio de Loiola (+1556), São Pedro de Alcântara (+1562), São João d’Ávila (+1569), e tantos outros.
Realmente se pode afirmar com justiça que estes santos, doutores, pregadores e mestres espirituais desconheceram em suas pregações a gratuidade da justificação do homem pela graça que na fé tem seu início? Obscureceram em seu tempo, “durante séculos”, “ao menos na pregação” ao povo, o entendimento da salvação como pura graça concedida pelo Senhor gratuitamente? As pregações de todos esses mestres e doutores, conservadas hoje em dia, são uma clara evidência de que isso não é certo; e ainda que tenhamos o mais nobre desejo de melhorar as relações com nossos irmãos luteranos, a solução não pode ser lançada injustamente contra os nossos antepassados na fé…
DIFERENÇAS ENTRE A DOUTRINA CATÓLICA E A LUTERANA
Para compreender quais são as diferenças reais que subsistem entre a doutrina católica e a luterana, temos que resumir, ainda que seja bem brevemente, os erros do ex-monge alemão:
A concupiscência é sempre pecado
Nós, católicos, cremos que se comete pecado ao consentir o impulso pecaminoso, não simplesmente ao senti-lo. Para Lutero, ao contrário, a concupiscência é pecado já em si mesma, formal e imputável. Este primeiro erro conduziu Lutero a uma vida de tormento, porque apesar de todas as boas obras que tentava fazer, não conseguia alcançar a paz interior ao sentir-se constantemente em pecado mortal e próximo da condenação eterna.
Neste estado psicológico, Lutero foi conduzido ao seu segundo erro: a negação total da liberdade humana.
O homem não é livre
Tal como sustenta Lutero, em sua obra “De Servo Arbitrio”, o pecado original destruiu totalmente o livre arbítrio da pessoa humana. Para o ex-monge alemão, o homem é já incapaz de fazer alguma obra boa; portanto todas as suas obras, ainda que tenham uma aparência bela, são, não obstante e provavelmente, pecados mortais… E se as obras dos justos são pecado, como afirma sua conclusão, com maior motivo o são as dos que ainda não foram justificados.
A doutrina católica ensina, ao contrário, que em razão do pecado original o livre arbítrio encontra-se debilitado, porém não aniquilado, e que ainda que para efetuar atos saudáveis (atos que conduzem à salvação) é imprescindível a graça de Deus, podendo realizar sem a ajuda da graça obras moralmente boas.
O homem se justifica somente pela graça através da fé fiducial ou fé somente
O terceiro erro de Lutero parte do anterior, pois conclui que se o homem não é livre, aqueles que se salvam o conseguem porque Deus lhes outorga a salvação de uma forma absolutamente passiva e extrínseca. O homem não coopera em nada para sua salvação, mas tudo se resolve pela certeza subjetiva de ter sido justificado pela fé graças à imputação dos méritos de Cristo. Basta aceitar Cristo como salvador e confiar em estar salvo para assegurar a salvação, independentemente se age conforme à vontade de Deus ou se descumpre os Mandamentos.
A partir desta perspectiva, o homem continua sendo pecador, porém é declarado justo, de uma forma semelhante como se tomássemos um homem maltrapilho e sujo e o cobríssemos sem lavá-lo com uma túnica esplêndidamente branca. Ao olhar para ele, o Juiz miraria a túnica branca e resplandecente (que representa Jesus Cristo, o qual morreu por nossos pecados) ao invés da sujeira que se encontra debaixo dela.
Nós, católicos, ao contrário, cremos que podemos cooperar na nossa justificação, não com nossas próprias forças, mas porque a graça nos inspira e nos capacita para fazê-lo. Cremos, ademais, que Deus não só nos declara justos, como também nos faz justos; que nos santifica e renova, de modo que, por meio da graça, somos uma nova criatura. Consequentemente, devemos viver como nova criatura. A fé deve fazer-se efetiva no amor, no cumprimento dos Mandamentos e nas obras de caridade.
A doutrina luterana, ainda que piedosamente envernizada e ainda que pretenda dar primazia à graça, no fundo apresenta uma noção deficiente da mesma, crendo que ela é impotente na hora de transformar o homem, não o tornando verdadeiramente santo, conformando-se então por declará-lo somente justo, permanecendo imundo e pecador.
Os justificados não podem perder sua salvação
Veja tambem Questionando os Protestantes - IX
Se se conclui erroneamente que o homem se salva somente pela fé, é compreensível que se conclua que o crente justificado não pode perder sua salvação ainda que não obedeça os Mandamentos e cometa pecados graves. Daí que em 1521, a 1º de agosto, escreve Lutero em uma carta a Melanchthon:
– “Se és pregador da graça, prega uma graça verdadeira e não fictícia; se a graça é verdadeira, deves cometer um pecado verdadeiro e não um fictício. Deus não salva os que são somente pecadores fictícios. Seja um pecador e peca audazmente, porém crê e alegra-te em Cristo ainda mais audazmente… enquanto estivermos aqui [neste mundo] temos que pecar… Nenhum pecado nos separará do Cordeiro, ainda que forniquemos e assassinemos mil vezes ao dia”.
Nós, católicos, ao contrário, cremos que o crente justificado pode decair do estado de graça de Deus se comete pecado mortal. O Evangelho está cheio de advertências neste sentido. Cristo nos fala daquele ramo (crente) que deixa de dar fruto (fazer boas obras) e é cortado e lançado ao fogo (João 15); deixa claro que não somente aquele que confessa sua fé Nele entrará no Reino dos Céus, como também aquele que faz a vontade de Deus (Mateus 7,21). Quando o jovem rico pergunta a Jesus o que deve fazer para salvar-se, Ele lhe responde que cumpra os Mandamentos (Mateus 19,17). A epístola de São Tiago, em seu capítulo 2, contém praticamente uma refutação formal às teses de Lutero, a ponto de que este tentou por todos os meios excluí-la da Bíblia e a qualificou como “a epístola de palha”.
OS ERROS DERIVADOS DA DOUTRINA DE LUTERO
Porém, os erros de Lutero não acabaram ali e, como uma fila de peças de dominó que cai um atrás do outro, seguiram-se multiplicando. Nesse sentido pontualizou o cardeal Joseph Ratzinger:
– “Lutero, após a ruptura definitiva, não só rejeitou categoricamente o papado, como também qualificou de idolátrica a doutrina católica da missa, porque via nela uma recaída na Lei, com a consequente negação do Evangelho. Reduzir todas estas confrontações a simples mal-entendidos é, no meu modo de ver, uma pretensão iluminista, que não indica a verdadeira medida do que foram aquelas lutas guiadas pela paixão, nem o peso da realidade presente em suas alegações. A verdadeira questão, portanto, pode unicamente consistir em nos perguntar até que ponto, hoje, é possível superar as posturas de então e alcançar um consenso que vai além daquele tempo. Em outras palavras: a unidade exige passos novos e não se realiza mediante artifícios interpretativos. Se em seu dia [a divisão] se realizou com experiências religiosas contrapostas, que não podiam encontrar espaço no campo vital da doutrina eclesiástica transmitida, tampouco hoje a unidade se forja somente mediante discussões multifacetadas, mas com a força da experiência religiosa. A indiferença é um meio de união tão somente na aparência” (Card. Joseph Ratzinger, “Igreja, Ecumenismo e Política: novos ensaios de eclesiologia”, Biblioteca de Autores Cristãos, Madri, 1987, pp. 120-121).
Dito em linguagem simples: as diferenças existem e ignorá-las não fará que desapareçam, ponto este que tratarei a seguir.
ESTAMOS HOJE DE ACORDO, CATÓLICOS E PROTESTANTES, NO QUE DIZ RESPEITO À DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO?
O Papa Francisco, aludindo ao Acordo Católico-Luterano a respeito da justificação, de 1999[2], declarou em uma entrevista que “hoje em dia, os protestantes e os católicos estão de acordo quanto a doutrina da justificação”.
Com todo o respeito que o Papa merece e compreendendo que este tipo de declaração pode ser motivada pela boa intenção de buscar uma aproximação entre católicos e protestantes, creio que se somos realistas temos que aceitar que a situação é bem diferente. Em primeiro lugar, teria que matizar que a referida declaração somente foi firmada pela Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial. Tal Federação representa apenas um conjunto de igrejas luteranas, as quais não abarcam nem 7% do protestantismo e nem sequer a totalidade do luteranismo. É um fato lamentável porém certo que a rejeição do acordo foi praticamente total pelas demais denominações cristãs, incluindo as batistas, metodistas, calvinistas, pentecostais, etc.
E como fez notar acertadamente Luis Fernando Pérez em um artigo publicado em Infocatólica[3], inclusive dentro do próprio luteranismo tal acordo foi amplamente rejeitado por centenas de teólogos e pela Igreja Evangélica da Dinamarca (luterana), com um argumento cheio de senso comum: trata-se de um texto que o próprio Lutero teria rejeitado, pois se aproxima da doutrina católica sobre a justificação e se afasta do “sola fide” do ex-monge agostiniano alemão.
O teólogo protestante José Grau explicou isso da seguinte maneira:
– “O chamado Acordo sobre a Justificação, de 1999, da mesma forma que as conversações que serviram de prolegômenos nas duas últimas décadas do século XX, faz com a doutrina da justificação o mesmo que fez Trento com o agostinianismo: se aproxima semanticamente de Lutero (ainda que sem condená-lo nominalmente, especificamente, sem tampouco levantar a excomunhão vaticana que pesa sobre ele). E assim como em Trento a Igreja Romana descafeinou Agostinho (nota nossa: isto é falso), agora estes luteranos, de braços dados com os católicos, descafeínaram Lutero. O resultado prático não é outro senão a inutilização da ‘dinamite’ da mensagem reformada, luterana, protestante e sobretudo bíblica (o Evangelho é poder ‘dinamite’ de Deus ‘para salvação de todo aquele que crê’, Romanos 1:16), anulando a espoleta das doutrinas da graça mediante uma terminologia teológica que parece do agrado de todos quando lida de passagem, sem se aprofundar nos conceitos. Umas afirmações equilibram as outras de sinal diferente, sem entrar quase nunca no miolo fundamental da questão. Como escreve Pedro Puigvert, na carta a ‘La Vanguardia’ (de 05/11/1999): ‘Os católicos não cederam em nada, porque isso de confessar que a justificação é obra da graça de Deus o têm crido sempre, juntamente com a cooperação humana que agora resulta que também é fruto da graça, ainda que a Escritura o desminta quando diz: ‘Àquele que age não se lhe conta o salário como graça, mas como dívida; mas ao que não age e crê Naquele que justifica o ímpio, sua fé lhe é contada por justiça’ (Romanos 4:5-6). Roma ganhou a batalha doutrinária. Ah, se Lutero erguesse a cabeça!”.
Pessoalmente, gostaria de compartilhar daquela apreciação do Papa e crer que os católicos e evangélicos verdadeiramente chegamos a professar uma mesma fé a respeito do tema “justificação”; porém, a crua realidade é outra: nem sequer os próprios protestantes, entre eles mesmos, estão de acordo neste tema.
LUTERO TEVE RAZÃO NO QUE DIZ RESPEITO À DOUTRINA DA JUTIFICAÇÃO?
Hoje está na moda dar razão a Lutero: é politicamente correto. Cremos agora, católicos e evangélicos, que o homem é justificado por meio da graça de Deus? Sim, porém sempre temos crido nisso. O problema está quando se afirma, a respeito das diferenças doutrinárias reais que existiram e existem entre a doutrina católica e a luterana, que Lutero era quem tinha razão.
Se a doutrina de Lutero, que foi condenada dogmaticamente por um Concílio Ecumênico e dogmático, resulta na doutrina verdadeira, seria melhor apagar as luzes e irmos embora, porque então terão razão também os protestantes ao afirmarem que não precisamos nem de Papas nem de Concílios, já que se é como eles sustentam, [Papas e Concílios] podem equivocar-se quando definem aquilo que é dogma de fé.
E se tudo se trata de um gesto diplomático, é necessário recordar, como nos foi sempre ensinado, que um ecumenismo que não encontra-se fundamentado na verdade não é um verdadeiro ecumenismo, e por mais que posemos juntos e sorridentes para as fotos, não estaremos mais próximos hoje uns dos outros como estávamos há 500 anos.
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NOTAS:
[1] http://infocatolica.com/blog/ reforma.php/1603310952-370- elogiando-a-lutero-1-cant
[2] http://www.vatican.va/roman_ curia/pontifical_councils/ chrstuni/documents/rc_pc_ chrstuni_doc_31101999_cath- luth-joint-declaration_sp.html
[3] http://infocatolica.com/blog/ coradcor.php/1606291202-no- hay-acuerdo-real-catolico
[1] http://infocatolica.com/blog/
[2] http://www.vatican.va/roman_
[3] http://infocatolica.com/blog/
VIDA & VIDA em abundância.
Abortista confessa que corta garganta dos fetos primeiro, para eles não gritarem
A obstetra e ginecologista norte-americana Leah Torres dá palestras no mundo inteiro apresentando-se como especialista em “planejamento familiar”. O termo é um eufemismo para aborto.
A médica é ligada à Planned Parenthood, maior movimento pró-aborto do mundo. Também é uma conhecida ativista feminista e uma porta-voz do chamado “movimento pró-escolha”.
Esta semana, Torres fez algumas declarações no Twitter que chamaram a atenção de movimentos pró-vida do mundo inteiro. Debatendo com alguns cristãos que a acusavam de matar crianças no ventre apenas por dinheiro, a doutora rebateu, afirmando que faria a interrupção da gravidez gratuitamente, sempre que necessário.
Quando um usuário do microblog lhe perguntou se ela não “ouvia o batimento do coração de suas vítimas ecoando em sua mente”, a resposta foi chocante:
“Não. Você sabe que os fetos não podem gritar, certo? Eu corto as cordas vocais deles primeiro, para não terem essa oportunidade, caso já estejam desenvolvidos o suficiente para terem laringe”
Na mesma mensagem disse que não “arrancava úteros”, mas fazia “procedimentos médicos”.
O tweet foi comentado e compartilhado milhares de vezes, atraindo a ira de pessoas que não concordam com o aborto.
Devido à grande repercussão, Torres apagou a mensagem. Mesmo assim, os prints estão sendo usados para mostrar a falta de escrúpulos de quem se orgulha de ser abortista.
Kristan Hawkins, presidente da ONG Estudantes Pela Vida, afirmou: “O tweet revela insensibilidade e o completo desprezo pela vida humana, marca registrada da indústria do aborto. Isso apenas reflete sua falta de respeito pela dignidade humana”.
Alguns líderes pró-vida lembraram que há anos eles divulgam atrocidades cometidas em clínicas de aborto, que por trás de todo o discurso de “saúde pública” revela ser uma engrenagem na “cultura de morte”.
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Alveda King, pastora que é sobrinha de Martin Luther King Jr. foi incisiva, pedindo que “a igreja e a sociedade devem estar conscientes de que essas práticas ocultistas não são raras e muitas vezes são enraizadas em antigos rituais satânicos”.
Muitos usuários do Tweeter afirmaram que Torres havia feito uma “piada de humor negro”, sendo apenas uma forma sarcástica de responder ao usuário que tentava lhe despertar remorso ao falar sobre ela “ouvir o coração” de suas vítimas. Para essas pessoas, os cristãos estavam reagindo de maneira desproporcional.
Contudo, a obstetra voltou a falar no assunto. Em um outro tweet, afirmou que não “lamentava o post, mas lamentava pelas pessoas que não conseguiam deixar de lado o seu ódio e sua ignorância para conseguir enxergar o bem maior”. Isso gerou uma nova onda de protestos, com muitos usuários dizendo que ela fazia parte dessa geração “que chama o mal de bem”. Com informações de CBN
vamos hoje dizer, SIM, á VIDA, louvar e agradecer a nossos pais, nidifica-la; bem como, e até á exaustão, denunciar os algozes, que tam como abutres, descem sobre os pobres indefesos.
domingo, 18 de março de 2018
Deus e o físico de um físico ateu
Deus e o físico de um físico ateu
P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Morreu Stephen Hawking, um dos mais famosos físicos da actualidade. Sobre a sua obra científica, outros certamente ajuizarão, mas há dois aspectos da sua vida que merecem um breve comentário: o seu ateísmo militante e as penosas circunstâncias físicas em que decorreu toda a sua vida adulta.
É verdade que abundam os cientistas crentes e católicos, como o Padre Georges Lemaitre, autor da teoria do Big Bang. Mas também os há ateus, como o agora desaparecido Stephen Hawking que, como outros descrentes e fiéis de outras religiões, foi membro da Pontifícia Academia das Ciências. Quatro papas receberam-no e estimaram-no: o Beato Paulo VI, que lhe concedeu a medalha de ouro Pio XI; São João Paulo II; Bento XVI e Francisco.
O ateísmo de Hawking não prova uma inexistente incompatibilidade entre a fé católica e a ciência, porque essa sua opção ideológica não tinha fundamento científico, como ele próprio reconheceu ao chanceler da Pontifícia Academia das Ciências. Se, pela razão, não chegou a reconhecer a existência de Deus, também nunca provou cientificamente o contrário, pela simples razão de que Deus, em termos epistemológicos, é uma realidade transcendente e, por isso, metacientífica. A ciência estuda o que é experimental: o que ultrapassa essa ordem não pode ser objecto do seu conhecimento. Por isso, certas realidades, como Deus e a alma, não são susceptíveis de conhecimento científico.
Quer isto dizer que Deus e a alma não existem?! De modo nenhum, apenas que não são realidades cognoscíveis pelo método científico que, embora verdadeiro, não esgota o conhecimento da realidade: há mais saberes para além da ciência! A filosofia, que é também verdadeiro conhecimento, vai mais longe do que as ciências experimentais: é neste sentido que se diz que é ‘metafísica’, ou seja, um saber que está para além da física. Por sua vez, a teologia sobrenatural é uma sabedoria revelada, que transcende os conhecimentos meramente humanos e pressupõe, necessariamente, o dom da fé.
Há um preconceito racional, ou pressuposição pré-científica, comum a todos os cientistas, sejam crentes ou ateus: tudo tem uma razão de ser. Nenhum cientista admite que alguma coisa acontece por acaso, porque o acaso é a negação da razão e do conhecimento. O apelo à casualidade não é científico, mas expressão de ignorância: invoca-se o acaso quando se desconhece a causa. A causalidade exclui a casualidade: se se admite que algo pode acontecer sem razão suficiente, há que concluir que o mundo pode não ter sentido, o que é absurdo.
Se para tudo há, conhecida ou não, uma razão, como firmemente a ciência crê, é forçoso reconhecer que existe uma inteligência superior, uma razão suprema que governa o universo e determina as suas leis. Ou seja, Deus. A sua existência, embora não possa ser provada cientificamente, pode contudo ser demonstrada racionalmente. Assim o fez Tomás de Aquino: as suas cinco vias, que não obstante o tempo entretanto decorrido continuam irrefutáveis, provam racionalmente a existência de Deus.
Stephen Hawking não chegou a essa conclusão lógica, muito embora os seus modelos especulativos tendessem também para a afirmação de uma ordem universal e, portanto, apontassem para a necessidade de uma inteligência criadora, ou seja, de Deus. Mas é de crer que, agora, já ultrapassou esse impasse, como alguém escreveu, com apurado sentido de humor: “Depois de uma vida a tentar decifrar os grandes enigmas do universo, Stephen Hawking consulta agora a página de soluções”!
Para além de uma mente brilhante, Stephen Hawking era também um corpo doente, muito doente até: desde os 21 anos que sofria de esclerose lateral amiotrófica. Quando lhe foi diagnosticada esta doença, deram-lhe apenas três anos de vida mas, surpreendentemente, viveu até aos 76! Como são falíveis os diagnósticos médicos e como seria temerário deles fazer depender uma sentença de vida ou morte!
A sua doença foi inexoravelmente cruel: perdeu, progressivamente, todas as suas faculdades físicas, até a fala. Nos seus últimos cinco anos, só conseguia comunicar através de sofisticados meios técnicos, que supriam com eficácia essa sua incapacidade.
Não obstante as inúmeras limitações impostas pela sua precária condição física, Stephen Hawking foi protagonista de uma vida cheia de sentido, não só do ponto de vista intelectual, como físico brilhante que foi, mas também na perspectiva emocional: casou, teve filhos, etc. Tanto quanto é possível dizê-lo, Stephen Hawking foi uma pessoa feliz.
Para os defensores da eutanásia, Hawking era o exemplo perfeito da pessoa a eliminar: era escassa a sua esperança de vida, incurável o seu mal e aparentemente impossível a sua realização pessoal. A sua doença não só implicava uma crescente perda de autonomia, como também lhe proporcionava dores cada vez mais constantes e fortes, para além de uma progressiva dependência dos seus cuidadores, até para as tarefas mais simples. A dificuldade em se exprimir, sobretudo na fase final da sua doença, aconselharia também a antecipação da sua morte: para quê manter viva uma mente brilhante se já não pode comunicar?! O elevado custo económico da sua subsistência também obrigaria a concluir que era mais rentável – e, talvez, justo! – canalizar esses recursos para doentes mais novos, ou com maior esperança de vida. Ele próprio, em alguma ocasião, chegou a admitir a hipótese da eutanásia e do suicídio assistido mas, felizmente, mais pôde a sua insaciável vontade de saber, de sonhar e de viver!
Não obstante o que cada um possa pensar sobre o valor da vida humana, decerto ninguém nega que valeu a pena manter vivo aquele espírito brilhante, mesmo que encarcerado num corpo desfeito: a humanidade ficou a ganhar, não obstante tudo o que ele sofreu e tudo o que custou, em termos humanos e financeiros, manter a sua vida até ao fim. A sua luta pela sobrevivência, até ao momento da sua morte natural, é um hino à vida e a sua última e mais brilhante lição: vale sempre a pena viver!
Seita
Seita “Crescendo em Graça” – agora “Rei de Salém” – tem novo “deus” (ou “deusa”)
Autor: José Miguel Arráiz, o 1.03.15 às 4:54 PM
Fonte: http://infocatolica.com/blog/apologeticamundo.php/
Trad.: Carlos Martins Nabeto
Há 6 anos escrevi um artigo sobre a “Crescendo em Graça”. Esta seita peculiar possuía um líder chamado José Luis de Jesus Miranda, que primeiramente afirmava ser a reencarnação de São Paulo e, posteriormente, o próprio Jesus Cristo e o Anticristo ao mesmo tempo. Ele anunciou o Armagedon para 2012, ocasião em que o seu corpo (e os dos seus seguidores) se tornaria glorioso, destruiria o Vaticano e passaria a governar o mundo com cetro de ferro. Além disso, mandava seus seguidores tatuarem a marca da besta (666) nos braços ou na fronte, tal como ele mesmo o havia feito. Apesar de ter afirmado várias vezes que nunca adoeceria nem morreria – ainda que ele mesmo tentasse se matar – morreu de cirrose hepática por abuso do álcool, tal como foi anunciado no blog da Rede Iberoamericana de Estudos das Seitas. Isto gerou tal desconcerto em seus seguidores que um de eles, inclusive, cometeu suicídio.
Depois de tão estrondoso desastre no cumprimento de suas profecias, ao mais puro estilo dos adventistas e testemunhas de Jeová, cheguei a pensar que era uma questão de tempo para que a seita desaparecesse. No entanto, da mesma forma que nos casos anteriores, isto não ocorreu. O que fizeram foi imitar uma outra seita da Coreia do Sul, maior e mais antiga, chamada “A Igreja de Deus – Sociedade Missionária Mundial”, quando morreu seu fundador, Ahn Sahng-Hong, que também afirmava ser Jesus Cristo: em ambos os casos suas respectivas esposas herdaram o império e passaram a afirmar ser a Rainha-Mãe, a Jerusalém do alto, uma Deusa-Mãe.
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No caso da seita “Crescendo em Graça”, agora renomeada para “Rei de Salém”, apresentou-se uma nova “dispensação”, na qual a esposa de Miranda, que agora se faz chamar “Cristo Lisbeth” é a nova deusa, a reencarnação do arcanjo Miguel e a mãe Jerusalém. A seita desta vez afirma que aqueles que creram que Miranda não morreria caíram sob um poder enganoso, enviado pelo próprio “deus” José Luis de Jesus Miranda, que caiu em uma “elocubração vinda da sua carne”, e que agora a nova verdade encontra-se com sua mãe-consorte Lisbeth, tal como se observa neste vídeo (em espanhol) hospedado no canal de YouTube da seita:
Desde logo a seita já enfrenta o seu primeiro cisma: Martin Guio, bispo responsável pela sucursal da seita na Colômbia, separou-se, de modo que a nova “deusa” o acusa de ser a “encarnação do diabo“. Ao mesmo tempo, a nova líder ameaça os seus adeptos de que irão para o inferno se não crerem nela, como se observa neste outro vídeo (em espanhol):
O que mais me surpreende é a ingenuidade dos adeptos que, apesar de tudo o que ocorreu, ainda creem em tudo o que lhes diz a seita. Deus os livre da sua cegueira.
sexta-feira, 16 de março de 2018
Didaqué
Autor: José Miguel Arráiz, o 20.06.15 às 9:57 PM
Fonte: http://infocatolica.com/blog/ apologeticamundo.php
Trad.: Carlos Martins Nabeto
Fonte: http://infocatolica.com/blog/
Trad.: Carlos Martins Nabeto
“Didaqué” é uma palavra grega que significa “ensinamento”. Daí que o título completo da obra seja “A instrução do Senhor aos gentios através dos Doze Apóstolos” ou, de uma forma mais resumida, “Instruções dos Apóstolos”. É considerada como um dos documentos mais importantes da Igreja primitiva, pertencente ao grupo de escritos dos Padres Apostólicos[1]. Ainda que a data da sua composição não seja conhecida com exatidão, alguns autores opinam que foi escrita, aproximadamente, entre os anos 50 a 70, enquanto que outros a situam entre inícios e meados do século II.
O Batismo
Na Didaqué se encontra informação de valioso interesse apologético, porque são descritas as práticas católicas de batizar, tanto por imersão[2] quanto por infusão[3]:
– “Sobre o batismo, batiza desta maneira: ditas com anterioridade todas estas coisas, batiza em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água viva [corrente]. Se não tens água viva, batiza com outra água; se não podes fazê-lo com água fria, faz com quente. Se não tiveres uma nem outra, derrama água na cabeça três vezes, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Antes do batismo, jejuem o batizante e o batizando, e alguns outros que o possam. Ao batizando, contudo, lhe mandarás jejuar um ou dois dias antes” (Didaqué 7,1-4).
Isto é relevante porque algumas denominações protestantes têm entendido que só é válido o batismo por imersão. Argumentam que a palavra “batismo” é uma romanização (“bapto” ou “baptizo”), cujo significado é “lavar” ou “submergir”, implicando que a forma de batizar deve ser dessa maneira. É por isso que se costuma aplicar o batismo por imersão em comunidades eclesiais protestantes, como as batistas e evangélicas, além de algumas seitas como A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias [mórmons] e os Testemunhas de Jeová. No entanto, o texto da Didaqué demonstra que para os primeiros cristãos o significado da palavra não estabelecia uma maneira fixa para a administração do sacramento, e que este poderia variar de acordo com as circunstâncias[4].
O texto da Didaqué também lança muita luz sobre a antiga polêmica relacionada à fórmula batismal, sobre se na Igreja primitiva se batizava somente em nome de Jesus, como menciona Atos 2,38; 8,16; 10,48; 19,5, ou em nome da Trindade, como Jesus ordena em Mateus 28,19. Isto, porque a Didaqué também faz referência ao batismo “em nome do Senhor” (Didaqué 9), porém, quando indica as palavras a serem empregadas no momento de batizar, diz que deve-se fazer “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”:
– “Que ninguém coma nem beba de vossa ação de graças, senão os batizados em nome do Senhor…” (Didaqué 9).
– “…batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Didaqué 7).
Isto apoia a tese de que, efetivamente, quando na Escritura se faz referência ao batismo “em nome de Jesus”, o que se fazia era uma referência de forma abreviada ao batismo “em nome da Trindade”, diferenciando-o assim de outros batismos como o de João Batista. [Ademais, a presença da fórmula na Didaqué] também descarta a tese de que a fórmula trinitária foi uma interpolação tardia, originada no século IV, tal como supõem algumas seitas que rejeitam a doutrina da Trindade[5].
A forma de orar
No que diz respeito à forma de orar, a Didaqué apresenta instruções muito interessantes de ordem apologética em face às críticas do Protestantismo em relação às “orações pré-fabricadas” católicas. Isto porque ainda que o Protestantismo enxergue tradicionalmente neste tipo de oração uma forma de “oração vã”, [a Didaqué] precisamente ensina aqui a recitar o “Pai Nosso” – certamente uma “oração pré-fabricada” – em contraposição à oração dos hipócritas[6]:
– “Tampouco oreis à maneira dos hipócritas; ao contrário, tal como o Senhor ordenou em seu Evangelho, assim orareis: ‘Pai nosso celeste, santificado seja teu nome, venha teu reino, faça-se tua vontade assim no céu como na terra. O pão nosso de nossa subsistência dai-nos hoje e perdoa-nos nossa dívida, assim como também perdoamos a nossos devedores, e não nos leves à tentação, mas livra-nos do mal. Porque teu é o poder e a glória pelos séculos’. Assim orareis três vezes ao dia” (Didaqué 8,2-3).
A celebração da Eucaristia
Ainda que na Didaqué não encontremos um testemunho explícito a favor da presença real de Cristo na Eucaristia – doutrina católica rejeitada quase que unanimemente pelo Protestantismo – encontramos, porém, um texto que a insinua implicitamente, ao exigir que só possam se aproximar dela os batizados, por ser um alimento sagrado:
– “No tocante à ação de graças, dareis graças desta maneira. Primeiramente, sobre o cálice: ‘Te damos graças, Pai nosso, pela santa vinha de Davi, teu servo, que nos deste a conhecer por meio de Jesus, teu servo. A ti seja a glória pelos séculos’. Depois, sobre o fragmento: ‘Te damos graças, Pai nosso, pela vida e o conhecimento que nos manifestaste por meio de Jesus, teu servo. A ti seja a glória pelos séculos. Como este fragmento estava disperso sobre os montes e, reunido, se fez um, assim seja reunida tua Igreja dos confins da terra em teu Reino. Porque tua é a glória e o poder, por Jesus Cristo, eternamente’. Que ninguém, contudo, coma nem beba da vossa ação de graças senão os batizados no nome do Senhor, pois acerca disso disse o Senhor: ‘Não deis o sagrado aos cães’” (Didaqué 9,1-4).
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Muitas denominações cristãs não-católicas, seguindo a Reforma Protestante, têm rejeitado também o caráter sacrificial da Eucaristia, ao ler em Hebreus 9,28 que “Cristo foi oferecido em sacrifício uma só vez, para quitar os pecados de muitos”; por isso, para eles a Missa católica é uma abominação[7]. Na Didaqué, pelo contrário, vemos que os primeiros cristãos enxergavam a Eucaristia como o sacrifício puro e perfeito profetizado pelo profeta Malaquias: “Pois desde o nascer do sol até o poente, grande é meu nome entre as nações e em todo lugar se oferece a meu nome um sacrifício de incenso e uma oblação pura” (Malaquias 1,11).
– “Reunidos a cada dia do Senhor, fracionai o pão e dai graças, …porque este é o sacrifício de que disse o Senhor: ‘Em todo lugar e a todo tempo se me oferece um sacrifício puro, porque eu sou Rei grande – diz o Senhor – e meu nome é admirável entre as nações” (Didaqué 14,1-3).
Cabe ressaltar que a doutrina católica não ensina que Cristo se “ressacrifica” a cada Missa, como assumem muitos protestantes de forma equivocada. O que [a Igreja] ensina é que o único sacrifício de Cristo é apresentado a Deus Pai em cada Eucaristia e, por isso, no Catecismo oficial da Igreja Católica se ensina que “atualiza o único sacrifício de Cristo Salvador” (CIC 1330) e não que “o repete”.
Confissão dos pecados
Em contraposição à prática comum do Protestantismo, onde a pessoa se confessa diretamente com Deus, na Didaqué encontramos um testemunho inicial da disciplina penitencial da Igreja primitiva, que no princípio implicava uma confissão pública dos pecados diante dos presbíteros e da comunidade, tal como se menciona na Sagrada Escritura (Atos 19,18; Tiago 5,16) e cuja forma se desenvolveu paulatinamente até a confissão auricular que conhecemos hoje em dia[8]:
– “Reunidos a cada dia do Senhor, fracionai o pão e dai graças, depois de haver confessado vossos pecados, a fim de que o vosso sacrifício seja puro” (Didaqué 14,1).
A esmola
Encontra-se também uma breve menção à esmola como obra piedosa ordenada pelo Evangelho.
– “No tocante às vossas orações, esmolas e todas as demais ações, as fareis conforme o tens ordenado no Evangelho de Nosso Senhor” (Didaqué 15,4).
Agora, esta esmola se referiria também à contribuição voluntária dos fiéis para o sustento da Igreja e a ajuda dos mais necessitados, mencionada em Romanos 15,26-28; 1Coríntios 16,1; 2Coríntios 8,10? Ainda que o texto não o indique, isto é bastante provável. O que parece ser seguro, também, é a ausência total da prática do dízimo, tal como foi adotada pelo Protestantismo e que é derivada da Lei Mosaica prescrita no Antigo Testamento. A norma cristã refletida na Didaqué é, pelo contrário, a própria norma evangélica onde cada fiel deve contribuir não com exatos 10%, mas “segundo o ditame do seu coração; não de má vontade nem forçado, pois: ‘Deus ama a quem dá com alegria’” (2Coríntios 9,7).
A segunda vinda de Cristo
Conforme se observa na Didaqué, os cristãos da Igreja primitiva pensavam que não era possível prever o momento da segunda vinda de Cristo, tentação esta em que têm caído uma e outra vez numerosas seitas (Adventistas, Testemunhas de Jeová, Crescendo em Graça, etc.). Ao contrário, para os primeiros cristãos, era preciso estar preparado porque ao não saberem nem o dia e nem a hora, o mais prudente era evitar que fossem pegos desprevenidos:
– “Vigiai sobre vossa vida; não se apaguem vossas lanternas, nem descarregai vossos lombos, mas estai preparados, porque não sabeis a hora em que vosso Senhor virá” (Didaqué 16,1-2).
Justificação e Salvação
Quanto à doutrina da justificação, a Didaqué, embora um texto cristão tão breve e antigo, contribui ricamente nesta doutrina. Rejeita, por um lado, e com antecipação, o Pelagianismo, heresia que surgiu formalmente no século V, onde o homem se justifica por seus próprios méritos e não pela graça de Deus mediante a fé:
– “Logo, tampoco nós, que fomos por Sua vontade chamados em Jesus Cristo, nos justificamos por nossos próprios méritos, nem por nossa sabedoria, inteligência e piedade, ou pelas obras que fazemos em santidade de coração, mas pela fé, pela qual o Deus onipotente justificou a todos desde o princípio” (Didaqué 32,4).
Porém, ao mesmo tempo, rejeita antecipadamente a heresia adotada por Lutero e o Protestantismo, onde só a fé basta para salvar-se (“Sola Fides”) mesmo que não esteja acompanhada da obediência aos mandamentos e uma vida conforme à vontade de Deus. Rejeita, ainda, a ideia de que a salvação não pode ser perdida (doutrina protestante que afirma: “uma vez salvo, sempre salvo”), assinalando que de nada serve ter tido fé durante muito tempo se a morte não surpreender o fiel na graça de Deus[9]:
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– “Reuni-vos com frequencia, inquirindo o que convém a vossas almas. Porque de nada vos servirá todo o tempo de vossa fé se não estiverdes perfeitos no último momento” (Didaqué 16,2-3).
Você pode ler uma tradução católica (em espanhol) da Didaqué nesta url:
– A Didaqué – http://mercaba.org
Também pode ler a tradução protestante (em espanhol) nesta outra:
– A Didaqué – http://escrituras.tripod.com
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NOTAS:
[1] São conhecidos como Padres Apostólicos aqueles autores do Cristianismo primitivo que tiveram algum contato com um ou mais Apóstolos. São um subconjunto dentro dos Padres da Igreja, que se compõe de escritores do primeiro século e inícios do segundo, cujos escritos têm uma profunda importância para o conhecimento da Fé Cristã primitiva. Caracterizam-se por ser textos descritivos ou normativos, que tratam de explicar a natureza da novidade da doutrina cristã.
[2] O batismo por imersão realiza-se mergulhando totalmente a batizando na água.
[3] O batismo por infusão realiza-se derramando água sobre a cabeça [do batizando].
[4] Da mesma maneira que a Sagrada Escritura observa que a forma de batizar nem sempre pode ser por imersão. A este respeito pode-se mencionar o fato de que São Paulo parece ter sido batizado em uma casa e de pé. Atos 22,16 narra um batismo em Jerusalém, de 3000 pessoas em um mesmo dia e, visto que se trata de uma cidade que não possui nenhum rio, faz-se difícil crer que essa quantidade de pessoas foi mergulhada em algum tanque ou poço de água potável.
[5] Os que argumentam que a fórmula batismal em nome das Três Divinas Pessoas, mencionada em Mateus 28,19, é uma interpolação tardia, buscam apoio nos escritos de Eusébio de Cesareia, historiador da Igreja do século IV, fazendo observar que antes do Concílio de Niceia (ano 325) Eusébio citava Mateus 28,19 escrevendo: “Fazei discípulos a todas as gentes, bautizando-os em meu nome”, e só posteriormente começou a citar o texto como o conhecemos hoje. Isto, no entanto, mais que provar que na Antiguidade se constumava citar a Escritura de forma não-textual, não tem força em relação à evidência documental, já que na totalidade de manuscritos bíblicos existentes (incluindo os mais antigos) lê-se a fórmula completa: “…batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (quanto a isto, leia: “Batismo só em nome de Jesus?”).
[6] No Catolicismo não se crê que uma oração seja vã por ser “pré-fabricada”. Crê-se que quando Jesus adverte que ao orar não se deve “falar muito como os gentios, que se caracterizam por crerem que pelo palavrório serão ouvidos” (Mateus 6,7) não está criticando a repetição em si mesma, já que o próprio Jesus chegou a empregar repetições (Mateus 26,43-44) e as encontramos frequentemente em orações da Sagrada Escritura (Isaías 6,2-3; Daniel 3,52-57; Salmo 136; 150; Apocalipse 4,8; etc.); nem está criticando a oração longa, da qual o próprio Senhor deu exemplo no Getsemani (Mateus 26,39.42.44), permanecendo a noite inteira em oração. Crê-se, ao contrário, que a crítica se refira à forma de orar dos pagãos, que enxergavam a oração como uma espécie de fórmula mágica que, sendo repetida mecânicamente, alcançavam seus objetivos; era o que faziam, por exemplo, os sacerdotes de Baal no Antigo Testamento, com práticas intermináveis na oração (1Reis 18,26) (quanto a isto, consulte o meu livro “Conversas com meus Amigos Evangélicos”, Createspace, 2014, 1ª Edição, p. 170).
[7] Por otro lado, se se lê a Epístola aos Hebreus no seu contexto (capítulos 9 e 10), observa-se que o seu propósito não era rejeitar o caráter sacrificial da Eucaristia, mas admoestar aqueles cristãos, que estranhavam os sacrifícios rituais da Antiga Aliança, a não cair neles e judaizar. O cristão não tem necessidade dos ditos sacrificios, que não eram mais que uma prefiguração do sacrifício Eucarístico.
[8] Ainda que a confissão auricular pôde desenvolver-se em sua forma exterior através do tempo, sua essência, que reside no fato reconhecido da reconciliação do pecador por meio da autoridade da Igreja, se depreende do poder que Cristo outorgou a seus Apóstolos quando lhes disse: “a quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os retiverdes, eles lhes serão retidos” (João 20,23).
[9] Para mais detalhes a respeito da doutrina católica sobre a justificação, consulte os meus livros “Conversas com meus Amigos Evangélicos”, Createspace, 2014, 1ª Edição, p. 52s) e “Compêndio de Apologética Católica”, Creatspace, 2014, 2ª Edição, p. 205.
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